Redatora especialista em família e bem-estar, com colaboração para as editorias de beleza e alimentação.
A menarca - ou simplesmente primeira menstruação - é um momento muito importante na vida da menina, tanto por significar a passagem da infância para a adolescência quanto pelas diversas mudanças - internas e externas - que vêm como "acompanhamento".
Virar "mocinha" e tudo que o evento da primeira menstruação representa pode ser um momento de tensão, receio e vulnerabilidade para as meninas e também para os pais, afinal o rito de passagem da menarca vem junto com uma bagagem repleta de concepções e crenças: mudanças do corpo, o "se tornar" uma mulher, o olhar diferente dos meninos etc.
A primeira menstruação normalmente ocorre entre os 10 e 16 anos. "Depois dessa idade a gente já considera uma menstruação tardia e antes dos dez é considerada como precoce. No entanto, a gente tem visto aumentar muito o número de meninas menstruando na casa dos nove anos", explica Nathalia Altieri da Cunha, pediatra da DaVita Serviços Médicos.
Como apoiar a menina?
A primeira menstruação ainda é envolta por vários estigmas, além de ser um assunto bastante delicado para menina, tanto pelo sentimento de "constrangimento" quanto pelo "peso" que o evento significa (passagem da infância para a adolescência, virar "mocinha" e "deixar de ser criança" etc). Assim, é importante:
Agir naturalmente
É importante que o tema menstruação não seja visto como um tabu e isso vem muito da forma de como a família encara previamente o assunto. Tratar o acontecimento com minúcias, embaraço ou de maneira excessivamente feliz e empolgante pode fazer com que a menina fique envergonhada e se retraia. "Não adianta querer ir ao banheiro junto. Deixa ela no tempo dela", orienta a pediatra Nathalia Altieri.
Orientar
Nada melhor e mais eficiente do que apoiar a menina orientando-a sobre a menstruação e como funciona e vai funcionar esse período do mês. De acordo com Juliano Naliato, médico ginecologista da DaVita Serviços Médicos, e com a pediatra Nathalia Altieri, o assunto pode começar a ser abordado quando a paciente apresentar desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários, como o brotinho mamário e pelos nas genitais e nas axilas; tudo da maneira mais natural possível. "A mãe pode contar a própria experiência, como a foi a primeira menstruação dela", sugere Juliano Naliato.
O ginecologista ainda recomenda explicar, principalmente, como funcionam os cuidados de higiene pessoal e o uso do absorvente, orientar a filha a perceber a quantidade e o volume de sangramento, e se tem o aparecimento de cólicas ou não. "Tudo isso é interessante de ser conversado."
Respeitar os limites
Saber respeitar os limites e a privacidade da menina é necessário tanto no momento de orientá-la quanto na maneira em como se reage. Pergunte a ela se ela se sente confortável com outras pessoas sabendo do ocorrido antes de contar a novidade por aí.
Não forçar a menina a se comportar de determinada maneira também é importante, afinal cada pessoa tem a sua personalidade e sua forma singular de expressar seus sentimentos diante de certos acontecimentos. Pode ser que sua filha fique triste e desanimada, pode ser que sinta medo e insegurança, e pode ser que ela fique bastante entusiasmada em ter menstruado pela primeira vez. Não existe uma regra. O mais importante é saber conversar e mostrar disposição e abertura para acolhê-la.
Preciso levá-la à uma consulta após a menstruação?
Como não é necessário fazer nenhum exame, a ida a médicos especialistas não se faz necessária. "Normalmente a consulta é recomendada depois da primeira relação sexual ou antes se houver alguma queixa mais específica", orienta Nathalia Altieri.
Como é a primeira consulta com ginecologista?
Caso os pais decidam levar a filha a uma consulta ginecológica pela primeira vez após a menstruação, a orientação será, principalmente, sobre o ciclo menstrual, como funcionam esses ciclos, sinais de alerta, como dor intensa, fluxo de sangue etc. De acordo com o ginecologista Juliano Naliato, no primeiro contato da paciente também é importante abordar sobre a vacinação do HPV e em como ela impacta na proteção do risco do câncer de colo do útero.
É nesse contato que também podem ser dadas as primeiras orientações e esclarecimentos sobre DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis). "Se os pais percebem que essa adolescente já pode estar iniciando a vida sexual ou já iniciou, daí entram os cuidados com a contracepção e métodos contraceptivos", elucida Juliano.
Quando são requisitados os primeiros exames ginecológicos?
Depende muito da queixa que a paciente apresentar no consultório. Isso porque muitas vezes, nessa primeira consulta, talvez não seja necessário nenhum tipo de exame complementar. "O ultrassom da mama pode ser requisitado quando a paciente apresenta algum tipo de queixa, como um nódulo, uma secreção mamária ou uma dor importante", esclarece o médico.
Já o ultrassom transvaginal pode ser requerido e necessário caso a adolescente não tenha desenvolvido os caracteres sexuais dentro do tempo considerado normal ou se o ciclo menstrual é muito intenso ou doloroso. O papanicolau, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), é preconizado apenas após os 25 anos. No entanto, a prática de consultório pode ser mudada caso a paciente tenha iniciado sua vida sexual de forma mais precoce ou se ela apresenta alguma queixa genital.