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O que é
A Síndrome de Haff, popularmente chamada de "doença da urina escura", é uma enfermidade que causa a degradação dos músculos. Essa condição pode surgir entre duas e 24 horas após a ingestão de pescados (peixes e crustáceos) contaminados ou mal acondicionados.
Causas
Ainda há poucos estudos e evidências sobre como a doença se desenvolve no corpo humano. Segundo Hemerson Lury F. Magalhães, Coordenador do Departamento de Ciências Farmacêuticas e do Centro de Assistência Toxicológica da Universidade Federal da Paraíba, ainda não foi descrito o agente etiológico específico e o ciclo da doença.
"Porém, existem evidências de que o mau armazenamento da carne de pescado pode contribuir para o desenvolvimento de micro-organismos que produzem toxinas e, consequentemente, desencadeiam o processo".
Um estudo realizado em Salvador, na Bahia, analisou 15 casos da doença que ocorreram no estado entre 2016 e 2017. De acordo com os pesquisadores, 14 pacientes diagnosticados com a síndrome haviam ingerido os mesmos dois tipos de peixe: Olho de Boi e Badejo. Apesar de não ter consumido o prato diretamente, o último paciente havia se alimentado com possíveis subprodutos de peixe.
Com isso, alguns cientistas teorizam que a possível causa da doença seja a ingestão de peixes que se alimentam de algas marinhas carregadas de toxinas. Ao ingerir esses peixes contaminados, ocorre a intoxicação e o acometimento dos músculos. É importante ressaltar que, segundo análises, a toxina responsável pelo surgimento da síndrome é considerada termoestável, ou seja, a cocção ou cozimento do pescado não inativa os componentes que causam a intoxicação.
Sintomas
O principal sintoma da Síndrome de Haff é a urina escura, com uma cor descrita como a de café. Segundo Milton Monteiro Júnior, enfermeiro infectologista SCIH do Hospital HSANP, outros sinais que indicam a doença são:
- Ocorrência súbita de extrema rigidez muscular
- Mialgia difusa (dor nos músculos)
- Dor torácica
- Dispneia (falta de ar)
- Dormência e perda de força em todo corpo
"O escurecimento da urina deve-se à ação lesiva da toxina sobre as fibras musculares (causando as dores generalizadas), que liberam o conteúdo na circulação. Assim, o rim fará a limpeza (depuração) desse material, que será eliminado pela urina, tornando-a escura", explica Hemerson Magalhães.
Segundo o especialista, é importante salientar que no início da sintomatologia da Síndrome de Haff, os sintomas podem ser confundidos com chikungunya, dengue ou zika. Portanto, é necessário observar se a sintomatologia se desenvolveu após o consumo do pescado e, ainda, se existe alteração na coloração da urina.
Diagnóstico
Devido ao baixo número de casos da doença, não há um protocolo a ser seguido que facilite o diagnóstico da intoxicação. Normalmente, a Síndrome de Haff é identificada com base na análise dos sintomas e do histórico de saúde, observando se houve ou não a ingestão recente de pescado.
"Uma característica a ser considerada na síndrome é a presença de rigidez e dor muscular e a coloração escura da urina. Esses sintomas associados à ingestão de peixes podem acender o alerta", conta Hemerson.
De acordo com o especialista, os exames que são indicados para monitorar a doença são a creatina fosfoquinase (CPK), sumário de urina, e os marcadores da função renal: uréia, creatinina e a verificação da atividade na função dos rins, como o clearance de creatinina.
Tratamento
Não existe tratamento específico para a síndrome de Haff. De acordo com os especialistas, os procedimentos médicos realizados após o diagnóstico da doença são destinados a reduzir os sintomas e as complicações causadas pela intoxicação. Hemerson explica que o tratamento inicial, logo após o surgimento dos primeiros sintomas, é a hidratação para auxiliar a eliminação da toxina e minimizar os possíveis danos renais.
"Como existe a possibilidade de evolução para insuficiência renal, as medidas destinam-se ao monitoramento da função renal. Em casos onde são observados diminuição da função renal ou agravamento do quadro, o paciente pode ser submetido a hemodiálise", diz.
Riscos e prevenção
Apesar de ser considerada grave, especialistas afirmam que a doença não deve interromper o consumo de peixes ou causar mudanças nos hábitos alimentares. Além do Brasil, casos da Síndrome de Haff já foram registrados em diversas partes do mundo. O primeiro relato da doença ocorreu em 1924, na Europa, posteriormente na Ásia e América do Norte.
"O aumento de casos está relacionado ao consumo de peixes e crustáceos, ou seja, deveremos considerar que os cuidados com os alimentos e a suscetibilidade de cada indivíduo é o que predispõem a exposição para a síndrome. A mortalidade é baixa, mas o ideal é se precaver com a avaliação médica. Como a doença evolui rapidamente e pode causar insuficiência renal, se não adequadamente tratada, pode levar ao óbito", alerta Milton Monteiro.
Fontes
Hemerson Lury F. Magalhães, Coordenador do Departamento de Ciências Farmacêuticas e do Centro de Assistência Toxicológica da Universidade da Paraíba
Milton Monteiro Júnior, enfermeiro infectologista SCIH do Hospital HSANP