Após o seqüenciamento do Genoma Humano, em 2000, avançamos muito. A Medicina, antes baseada apenas na anatomia e na fisiologia, entrou numa nova era, a era da terapia gênica e da manipulação celular. Com o genoma decodificado, muitas doenças serão evitadas e outras curadas pela manipulação dos genes defeituosos".
Em 1996, diante da clonagem de Dolly, a ovelha escocesa, o mundo deu um salto qualitativo nos estudos que explicam o início da vida. Hoje, os pesquisadores já estabeleceram que células-tronco de medula óssea podem dar origem a células musculares esqueléticas e também podem migrar da medula para regiões lesadas no músculo. Estudos recentes mostraram que muitos outros tecidos e órgãos humanos têm estoque de células-tronco e uma capacidade ilimitada de regeneração após lesões.
No Brasil, os cientistas e pesquisadores foram fortalecidos após a liberação pelo Supremo Tribunal Federal (STF) das pesquisas com célula-tronco. No entanto, há uma distância entre a autorização legal para pesquisar e a obtenção de resultados
das novas terapias. As pesquisas são muito promissoras, mas há ainda um longo caminho a percorrer até que os avanços cheguem aos consultórios e clínicas.
Os pesquisadores brasileiros agora iniciam nova luta: a espera por novas linhas de financiamento para trabalhos científicos. A expectativa é de que o governo libere R$ 25 milhões para projetos nesta área. Atualmente, cerca de 20 grupos de pesquisa no País trabalham com células-tronco.
Alguns trabalhos já utilizam células-tronco embrionárias importadas - mas em proporção muito menor do que os grupos que trabalham com células adultas. Embora o uso fosse permitido, os cientistas hesitavam em iniciar trabalhos com embriões. Temiam que, com uma decisão contrária do STF, tivessem de interromper os estudos. Agora, pesquisas que estavam engavetadas podem ser resgatadas. A pressa dos pesquisadores, no entanto, não era injustificada. Em vários países, centros de estudo já iniciaram trabalhos na área, os brasileiros terão que recuperar o tempo perdido.
Aplicação na cirurgia plástica
Assim como a cirurgia plástica, que iniciou suas atividades com um caráter reparador e depois passou a abranger a estética, muitas expectativas têm sido criadas para o uso das células-tronco no combate ao processo de envelhecimento e até mesmo para o rejuvenescimento. Ainda em estágio muito inicial, alguns estudos têm sido realizados neste sentido, como os divulgados durante o IX Simpósio Internacional de Cirurgia Plástica, em São Paulo. Estes estudos revelaram perspectivas animadoras.
Presentes em tecidos embrionários ou em outros tecidos como medula óssea, cordão umbilical, placenta e gordura, as células-tronco de cada local especifico têm apresentado vantagens e desvantagens para os fins estéticos. No campo da reparação da pele, da gordura e dos músculos locais de atuação da cirurgia plástica as pesquisas com as células-tronco presentes na gordura parecem ser as mais promissoras.
O avanço dos estudos pode representar uma vantagem considerável, visto que tais células podem ser adquiridas facilmente através de uma lipoaspiração. Nesta linha, talvez num futuro próximo, em uns 10 anos, poderemos indicar a lipoaspiração para aprimorar o contorno corporal e também para auxiliar o rejuvenescimento. Temos que esperar os avanços nas pesquisas.
Na Universidade de São Paulo, USP, um grupo de cientistas conseguiu isolar células-tronco adultas que podem vir a ser usadas no tratamento da fissura labiopalatina. Mais conhecida como "lábio leporino", essa anomalia congênita faz com que as pessoas fiquem com uma abertura no lábio e no céu da boca. Usando uma amostra de tecido músculo labial de pacientes com a fissura, os cientistas obtiveram as células terapêuticas, que foram testadas em um experimento com ratos. Para verificar se elas seriam capazes de gerar tecido ósseo, os cientistas as implantaram em aberturas nos crânios dos roedores. Segundo os cientistas, se a técnica se mostrar aplicável em seres humanos, um avanço importante no tratamento da fissura labiopalatina pode ser obtido, porque corrigir o problema com cirurgias plásticas é complicado.
A capacidade da regeneração dos tecidos com o emprego das células-tronco representa um potencial revolucionário. Apesar do entusiasmo de pesquisadores e da população são necessárias muitas pesquisas, políticas de incentivo e respeito à ética para que se desenvolvam novas formas de tratamento que possam realmente amenizar o sofrimento dos pacientes.
Ruben Penteado é cirurgião plástico, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e diretor do Centro de Medicina Integrada.
Para saber mais, acesse: www.medintegrada.com.br
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Células-tronco: aplicações futuras beneficiarão a cirurgia plástica
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