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A vacinação não é só uma decisão pessoal, mas também uma questão de saúde pública. Quanto maior a cobertura vacinal de um país, menor a chance de uma doença se espalhar e atingir os mais vulneráveis.
Quando se trata de pessoas com esclerose múltipla, é importante conversar com o seu profissional médico a respeito das vacinas que devem ser atualizadas, pois a proteção oferecida por elas é fundamental para evitar infecções.
Para entender melhor, a esclerose múltipla é uma doença autoimune que provoca inflamação do cérebro e da medula. Diferentemente do que se imagina, a doença é mais comum em pacientes jovens, então é mais frequente que aconteça dos 20 aos 40 anos. Porém, pode ocorrer também em outras idades. "Ela tem uma predileção pelo sexo feminino, mas também pode ocorrer em homens", explica o neurologista Herval Ribeiro Soares Neto.
De acordo com o especialista, a esclerose múltipla é, hoje, uma doença que tem tratamento. "Apesar de ser uma doença neurológica, com inflamação e acometimento do sistema nervoso central, nós conseguimos - com o diagnóstico precoce e com o tratamento adequado - evitar o acúmulo de sequelas e evitar a progressão da doença", detalha.
Porém, uma das avaliações que se deve fazer quando se trata de vacinação é o tipo de vacina que será aplicada. As vacinas não são todas iguais, pois há aquelas feitas com vírus vivos atenuados, enquanto outras são produzidas a partir de vírus inteiros, porém inativados - ou com fragmentos desses vírus, as chamadas vacinas de subunidades - ou as toxoides, derivadas de uma toxina, como as vacinas contra o tétano e difteria.
Vacinação é importante
Assim como para diversas doenças crônicas, pacientes com esclerose múltipla devem estar devidamente protegidos por meio da vacinação.
"Quem tem esclerose múltipla precisa ter um tratamento com imunomoduladores, que são medicações que modulam o sistema imune para evitar inflamação autoimune característica da doença. Desta forma, a pessoa pode estar mais suscetível a algumas infecções, sim. É importante conversar sobre a vacinação com médico especialista para garantir o máximo de proteção desse paciente contra infecções", explica Dr. Herval.
Não é contraindicação absoluta tomar a vacina durante o tratamento da esclerose múltipla, porém é importante evitar as de vírus vivos atenuados, e aplicar somente as de vírus atenuados ou toxoides.
"A pessoa deverá conversar com o médico para entender quais são as vacinas necessárias e qual o melhor momento para receber as imunizações", orienta o especialista.
Pelo fato de o cuidado para esclerose múltipla ser individualizado, não há regra única quando se trata de vacinação. "Temos sempre de considerar o paciente e qual medicação ele usa".
Vacinas que normalmente são contraindicadas
Por serem de vírus vivos atenuados, ou seja, que apresentam risco maior de infecção caso o sistema imune esteja fragilizado, algumas vacinas costumam ser contraindicadas para quem tem esclerose múltipla. Porém, cada caso deve ser discutido previamente com o médico. Abaixo, alguns exemplos:
- Febre amarela
- Varicela (catapora)
- Tríplice Viral (sarampo, caxumba e rubéola)
- Poliomielite oral (gotinha)
- BCG.
Vacinas que normalmente são recomendadas
Independentemente de a pessoa com esclerose múltipla estar ou não em tratamento, as vacinas de vírus inativados, de subunidades (onde há apenas fragmentos do vírus inativado) e as toxoides costumam ser toleráveis. Abaixo, alguns exemplos das mais comuns:
- Hepatite A
- Hepatite B
- Meningocócicas (contra meningites meningocócicas)
- Gripe (influenza)
- Difteria e Tétano
- Tríplice bacteriana (tétano, difteria e coqueluche)
- HPV.
O neurologista conta também que há o momento certo para tomar cada vacina, como, por exemplo, fora de eventuais surtos da doença.
"Não é uma proibição. Quando o paciente está em surto, priorizamos o tratamento dele. A pessoa que está com sintomas neurológicos decorrentes do surto ou está com a doença em atividade precisa de um tratamento médico para aquele surto e, em um segundo momento, orientamos a vacinação", resume Dr. Herval.
Vacina para COVID-19
O especialista explica que, por se tratar de um vírus novo, tudo em relação à COVID-19 é ainda um conhecimento em construção. Porém, ele conta que, considerando as características das vacinas disponíveis atualmente para COVID-19 e aprovadas para uso no Brasil - por não serem de vírus vivos atenuados - a imunização, a princípio, não seria um problema para quem tem esclerose múltipla.
"Considerando que estamos em uma pandemia e que os riscos de infecção pela COVID-19 são maiores que os riscos conhecidos da vacinação, na grande maioria dos meus pacientes, estamos optando em vacinar".
A respeito de todas as vacinas do calendário de vacinação, Dr. Herval explica que é essencial que o paciente converse com seu médico. "É muito importante que cada decisão seja individualizada, que considere os riscos e benefícios em relação àquela pessoa, mas que em geral a vacinação é, sim, uma estratégia importante para proteger de infecções os pacientes com esclerose múltipla", complementa.