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A pandemia de COVID-19 alterou drasticamente a rotina de muitas famílias ao redor do mundo, especialmente das com crianças menores de seis anos. Em razão das medidas de restrição do convívio social, muitos pais relataram mudanças de comportamento nas crianças e até atrasos em seu desenvolvimento.
O convívio com outras pessoas é um fator essencial no desenvolvimento da primeira infância, de modo que o estresse causado pelo distanciamento pode levar a alterações comportamentais em crianças.
Um estudo realizado pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal (FMCSV) revelou que 27% das crianças de 0 a 3 anos voltaram a ter comportamentos de quando eram menores. Segundo a pesquisa, regressões comportamentais normalmente são transitórias, mas é importante que as famílias as observem com cuidado.
O estudo ouviu 1.036 pessoas de todas as classes sociais que responderam a um questionário estruturado, abordando as quatro esferas principais na vida da família, desde espaço familiar até acesso a serviços básicos de educação, saúde e assistência social.
Segundo os relatos, algumas crianças voltaram a usar a mamadeira, não queriam mais dormir sozinhas e choravam com mais frequência. Especialistas entendem que o desenvolvimento de crianças está ligado à experimentação, principalmente até os cinco anos de idade. Sem novas experiências, em razão do contexto social, as crianças tendem a recorrer a comportamentos que já tinham abandonado.
Embora comportamentos regressivos possam ser problemáticos, eles são uma forma das crianças lidarem com a ansiedade e com o estresse. A ameaça do desemprego, o luto e outros fatores causados pela COVID-19 impactam diretamente sobre o bem-estar das famílias - e esses impactos são sentidos ainda de forma mais drástica por crianças com Transtorno do Espectro de Autismo (TEA).
Por conta do distanciamento, as terapias presenciais acabaram sendo readaptadas para o formato online ou suspensas temporariamente. Essas mudanças, além de afetarem a rotina, também afetam o programa de aprendizado da criança autista.
Alívio para as famílias
Observar comportamentos regressivos nas crianças pode afligir. Porém, essas alterações não devem ser vistas com desespero ou como sinal de que a criança terá problemas no desenvolvimento. Quando estimuladas, tendem a se recuperar muito mais rápido do que adultos em razão da maior plasticidade cerebral.
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Assim, é importante que pais sejam tolerantes com esses comportamentos e busquem criar um espaço de segurança para a criança. Estímulos positivos e maior compreensão são fatores necessários para o seu desenvolvimento.
Ademais, se a criança não consegue dormir ou comer, ou ainda desenvolve atraso na fala, por exemplo, é importante procurar ajuda médica. Mudanças muito abruptas e duradouras de comportamento devem ser analisadas por especialistas, como pediatras.