Redatora especialista na cobertura de saúde, bem-estar e comportamento.
"Esta é uma história de superação!". Quantas vezes não nos deparamos com falas como essa diante de uma narrativa sobre uma pessoa com deficiência? Mais do que deveríamos. E mais do que essas pessoas gostariam.
Expressões como a citada no começo deste texto são típicas do chamado capacitismo, um comportamento preconceituoso com a pessoa com deficiência. Entenda, a seguir, como o capacitismo se mostra no dia a dia e expressões e comportamentos que devem ser evitados para que haja inclusão.
O que é capacitismo?
De acordo com a antropóloga Anahi Guedes de Mello em artigo sobre Deficiência, incapacidade e vulnerabilidade, publicado pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de Santa Catarina, estudos sobre o tema definem capacitismo como: "a forma como pessoas com deficiência são tratadas como 'incapazes', aproximando as demandas dos movimentos de pessoas com deficiência a outras discriminações sociais, como o racismo, o sexismo e a homofobia".
"Capacitismo é todo e qualquer preconceito demonstrado em relação a uma pessoa com deficiência devido à sua deficiência. Então, se alguém diz que uma pessoa com deficiência não pode fazer algo ou que ela não é capaz de fazer algo por si só, isso é capacitismo", define Sidney Tobias, 55 anos, analista de sistemas da Empresa de Tecnologia da Informação e Comunicação do município de São Paulo (Prodam). Deficiente visual, Tobias é cego desde os 13 devido a um quadro de uveíte, uma infecção nos olhos, e hoje em dia atua como Consultor de Acessibilidade Digital.
Como o capacitismo se apresenta?
Na prática, o capacitismo se mostra com atitudes que demonstram surpresa ou admiração por uma pessoa com deficiência ter realizado um feito que, implicitamente, é visto como impossível de ser executado por ela.
"Quando eu vou pagar algo com cartão de crédito, alguém me pergunta: 'você consegue digitar?' Quando alguém diz: 'apesar de ser cego, você anda muito bem'. É muito comum as pessoas me perguntarem quando eu saio de casa se eu estou indo passear, quando na verdade eu estou indo para o trabalho. Ela acha que por eu ser uma pessoa com deficiência, sou incapaz de desempenhar uma atividade laboral", indica Sidney sobre as situações e falas capacitistas que já vivenciou.
O analista de sistema também cita a infantilização na abordagem de pessoas com deficiência. "No banco, por exemplo, eu preciso fazer a biometria e me pedem para 'dar o dedinho'. Ou me perguntam se eu estudo em alguma associação. Bom, eu não tenho mais idade ou cara de estudante. Parece que a gente tem que passar a vida em associações. Para os outros, nós seríamos incapazes de fazer coisas fora delas."
Como evitar o capacitismo do dia a dia?
Segundo Tobias, muito do capacitismo que ainda existe é fruto da falta de convívio de pessoas com deficiência com o restante da população.
"A ignorância gera preconceito, né? E o capacitismo é um preconceito. Por isso é importante uma educação para todos, com a presença de crianças com deficiência; a presença de pessoas com deficiência no ambiente do trabalho? Isso tudo possibilita convívio e, consequentemente, diminui a ignorância em relação ao grupo e ao capacitismo."
15 frases e atitudes para excluir
Outra forma de diminuir o capacitismo do cotidiano é excluir frases e comportamentos como os citados anteriormente por Tobias. Veja alguns exemplos:
- "Apesar de ser cego, você anda muito bem!"
- "Fica dando uma de João sem braço"
- "Que mancada!"
- "E eu aqui com braços e pernas, nem consigo fazer o que ele consegue"
- "Pare de ser retardado!"
- "Você é retardado?"
- "Você é cego?"
- "Que história inspiradora! Apesar da sua deficiência, você conseguiu"
- "Você estuda em uma associação?"
- "Você transa mesmo assim?"
- "Como você se relaciona sendo assim?"
- "Nossa, mas ele/ela nem parece que tem deficiência"
- "Nossa, mas a sua cara é normal"
- "Mesmo sendo deficiente, ele consegue"
- "Muito bom ter pessoas como você aqui".