
Jornalista com sete anos de experiência em redação na área de beleza, saúde e bem-estar. Expert em skincare e vivências da maternidade.
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Vivemos em uma sociedade que demanda o máximo de produtividade e concentração, mas estamos, na verdade, reduzindo ambas. O jornalista e divulgador Johann Hari entrevistou centenas de neurocientistas sobre a capacidade de atenção e publicou seus achados no ensaio O valor da atenção: por que ela foi roubada de nós e como recuperá-la. Nele, afirmou que “hoje, atingir o estado de concentração necessário para executar tarefas intelectuais complexas é um sonho impossível”.
A Dra. Gloria Mark, professora de Ciência da Computação e especialista em atenção e multitarefa, também aborda esse tema em seu livro “Como recuperar sua capacidade de atenção”. Mark revela “descobertas surpreendentes sobre como a tecnologia afeta nossa capacidade de concentração”, explicando que “em 2014, a atenção média de uma pessoa assistindo a algo em uma tela era de dois minutos e meio. Agora, são apenas 47 segundos”.
Tecnologia e capacidade de atenção
O Dr. John Kruse, psiquiatra e neurocientista, explicou em um artigo que o hábito de digitalizar absolutamente tudo — até mesmo nossos relacionamentos — reconfigurou nossos cérebros para que “respondamos mais rapidamente, ansiemos por informações carregadas de emoção e reduzamos nossa capacidade de pensar profundamente sobre os temas. Nossa habilidade de compreender o contexto e as nuances diminui”. Em outras palavras, nossa capacidade de reflexão é prejudicada, independentemente do nível de inteligência. Segundo o especialista, isso ocorre até mesmo em mentes brilhantes.
Há quem vá além, como o neurocientista francês Michel Desmurget, que afirma que as novas gerações são as primeiras a apresentar um QI inferior ao de seus pais. Isso, segundo ele, está relacionado, em parte, ao uso excessivo de tecnologia e telas, como explicou em seu ensaio “A Fábrica de Cretinos Digitais”.
Como isso afeta nossa inteligência emocional
“À medida que pensamos menos profundamente, também diminuímos nossa capacidade de empatia”, diz Kruse. "A internet pode nos fornecer mais informações e entretenimento, mas também contribui para nos tornar menos pacientes, mais superficiais, menos informados e menos atenciosos", conclui.
Nossa inteligência emocional se enfraquece, e o uso excessivo de inteligência artificial (IA) também reduz nossa memória, além de prejudicar nossa capacidade de pensamento crítico e resolução independente de problemas, de acordo com a Royal National Academy of Medicine.
Não se trata de demonizar a internet, a IA ou a tecnologia, mas sim de refletir sobre os impactos do uso excessivo. O escritor Nicholas Carr, autor do best-seller “The Shallows: O que a Internet está fazendo com nossas mentes?” e finalista do Prêmio Pulitzer, compartilha dessa visão. Em seu livro, ele afirma que “estamos nos tornando menos inteligentes, mais fechados e intelectualmente limitados pela tecnologia”.
Em uma entrevista à BBC, explicou que os hiperlinks dificultam nossa concentração. “Ficamos tão absorvidos pelas informações que nossos celulares nos oferecem que, mesmo quando não os estamos usando, pensamos em usá-los.”
A solução para evitar isso é simples, segundo Kruse: desconecte-se da internet por pelo menos uma hora por dia. Caminhe sem celular. Experimente um momento de silêncio. Leia um livro físico. Interaja com outras pessoas sem uma tela no meio. Passe um tempo na natureza. São pequenas mudanças, mas que fazem diferença. E, se puder, siga um dos principais conselhos do Dr. John Kruse: “pratique viver a vida no seu próprio ritmo, não no ritmo que o mundo tenta impor”. Espero que consigamos.
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