Redatora focada na produção de conteúdos sobre alimentação, beleza e família.
O que são PANCs
As Plantas Alimentícias Não Convencionais, também chamadas pela sigla PANCs, são espécies vegetais pouco consumidas e/ou conhecidas pela maioria da população. Tratam-se de plantas saudáveis e seguras para a saúde, que contém inúmeros benefícios nutritivos. Em geral, essas espécies não necessitam de uma plantação especial, sendo de cultivo bastante simples.
Essas plantas são rústicas e brotam de maneira quase espontânea, geralmente em ambientes onde já estão naturalmente inseridas. Por conta dessa característica, não são afetadas por muitas pragas, como acontece nas lavouras, e não exigem muita mão de obra para cultivo, como espécies importadas para o Brasil (a exemplo da batata, uva, mirtilo e outros alimentos).
Alguns exemplos bastante comuns de PANCs são o dente-de-leão e a serralha, que costumam surgir em beiras de estradas, terrenos abandonados e até nas calçadas de cidades brasileiras. Outras plantas dessa categoria que são mais conhecidas, especialmente na culinária mineira, são a taioba e a ora-pró-nóbis.
Devido a sua beleza, algumas PANCs também são utilizadas até mesmo para paisagismo, como é o caso da capuchinha - uma planta de folhas bem arredondadas que costuma estar acompanhada de flores amarelas, vermelhas ou alaranjadas. Tanto as folhas quanto as flores são comestíveis e podem ser consumidas em saladas ou usadas para decorar pratos.
Onde as PANCs são mais populares
As PANCs podem ser encontradas em, praticamente, qualquer local ou região, sendo mais comuns de acordo com a biodiversidade do lugar onde estão inseridas. Cada bioma brasileiro abriga tipos diferentes de espécies mais propícias para a alimentação.
Em regiões mais no interior do Brasil, por exemplo, é comum que as famílias cultivem algumas PANCs em casa. Muitas dessas plantas, inclusive, são amplamente consumidas por comunidades indígenas ou ribeirinhas.
Além disso, elas também são importantes para a biodiversidade, como destaca Michel Abras, chef e especialista em PANCs. "Esses vegetais permitem sua colheita de forma a não depender de novas mudas ou sementes, e nem mesmo a utilização de defensivos, pesticidas, herbicidas e outros produtos químicos em seu cultivo", explica.
Geralmente, as PANCs costumam ser cultivadas por pequenos produtores e em escala doméstica. Porém, o valor dessas espécies para o meio ambiente e seu caráter rústico fazem surgir cada vez mais iniciativas sobre o seu consumo - a ponto de especialistas indicarem um potencial econômico relacionado às PANCs.
Onde encontrar PANCs
Geralmente, as PANCs são encontradas em clareiras de matas, estradas, campos não lavrados, pomares, cafezais e terrenos baldios. Em um ambiente mais urbano, como uma cidade, é possível se deparar com essas plantas em calçadas, praças, parques e jardins de todo tipo.
Todavia, não é recomendado colher e se alimentar de PANCs encontradas em locais públicos e desconhecidos. Isso porque a poluição e outros dejetos inadequados, que podem existir nas áreas urbanas e até mesmo em ambientes rurais, vão para o vegetal e, consequentemente, podem provocar males para a saúde do organismo.
Assim, é importante consumir apenas os vegetais cuja procedência é conhecida. Ou seja, prefira as PANCs vendidas em mercados e hortifrutis ou recorra ao cultivo doméstico de algumas espécies. Outra possibilidade é adquirir as plantas diretamente com um produtor de confiança.
Exemplos de PANCs
É importante conhecer a PANC específica que você deseja consumir e saber como ela deve ser preparada. Só assim a ingestão da planta acontece de forma segura. Cyntia Maureen, nutricionista do Superbom, destaca que cada tipo de PANC possui propriedades nutricionais específicas. Confira algumas delas:
- Dente-de-leão: essa plantinha comum nas calçadas possui vitaminas A e C, e tanto as flores quanto as folhas podem ser consumidas.
- Taioba: rica em fibras, carotenóides, vitamina C, ferro, cálcio, potássio, fósforo e cobre. Recomenda-se que seja consumida cozida ou fervida, pois crua pode ser tóxica ao fígado, rins, sistema nervoso e imunológico.
- Capuchinha: rica em propriedades de ação antibiótica, expectorante, desinfetante, digestiva e diurética.
- Vinagreira: em alguns locais, é conhecida como "caruru-azedo", "azedinha" ou "quiabo-azedo". As pontas dos ramos, assim como a flor e as sementes, podem ser consumidas cruas, refogadas ou cozidas.
- Araçá-do-campo: essa PANC é da mesma família que a goiaba. Contém vitamina A, B e C, antioxidantes, carboidratos e proteínas.
- Mangaba: é rica em vitaminas A, C e folato, betacaroteno, flavonoides e fibras, tem importante ação anti-hipertensiva.
- Ora-pro-nóbis: auxilia no emagrecimento e também na prevenção da anemia, sendo rica em proteínas.
Benefícios das PANCs
Em geral, as PANCS possuem grande valor nutricional e consumi-las ajuda a ampliar e diversificar a dieta. "A partir do momento em que há possibilidades de diversidade no prato, automaticamente, a nutrição vem junto", explica Michel Ribas, especialista em PANCs.
Por serem vegetais, essas plantas aportam mais fibras, vitaminas e minerais essenciais à rotina alimentar, o que favorece a manutenção de uma dieta saudável e equilibrada. Com isso, as vantagens para o organismo são amplas, incluindo a melhor regulagem da atividade intestinal e até a prevenção de uma série de doenças.
É importante também ressaltar o aspecto cultural envolvido no consumo das PANCs, já que muitas são tradicionais da terra brasileira e fazem parte até mesmo dos hábitos alimentares de algumas regiões. "As PANCs trazem consigo toda uma cultura e tradição alimentares de nossos ancestrais, que merece ser ressignificada e preservada", afirma Michel.
Como incluir PANCs na alimentação
De acordo com a nutricionista Cyntia Maureen, há diversas formas de incluir as PANCs na alimentação. Muito além do tradicional refogado, é possível preparar até mesmo uma torta recheada com esses vegetais. É importante considerar também a diversidade das PANCs: há flores, frutos, caules, folhas, sementes e até mesmo raízes comestíveis.
"Todo este universo alimentar trazido para dentro da cozinha nos permite explorá-lo em infinitas possibilidades, desde um simples suco verde ou uma salada até mesmo em pratos mais elaborados, seja em ambiente doméstico ou profissional", esclarece o chef Michel Ribas.
O especialista acrescenta que as PANCs podem ser utilizadas até mesmo na panificação e na confeitaria, representando um potencial econômico sustentável. Algumas espécies, inclusive, já são encontradas na versão em pó ou farinha, o que facilita ainda mais seu consumo nas mais variadas preparações.
Como higienizar PANCs
Ao consumir as plantas in natura, é fundamental realizar a higienização correta para evitar a contaminação por qualquer microrganismo. Conforme as orientações do chef Michel Abras, folhas amassadas, murchas ou com ranhuras devem ser sempre descartadas.
"É importante retirar cada uma das folhas e higienizá-las individualmente em água corrente. Em seguida, deixar de molho em uma mistura de água e hipoclorito de sódio ou outro sanitizante. Depois, é só retirar da solução, lavar novamente em água corrente e, ao secar, estará pronta para ser utilizada", explica.
Receitas com PANCs
Para ajudar quem deseja incluir as plantas alimentícias não convencionais na dieta, o chef Michel Ribas ensina uma receita de ratatouille ao pesto de PANC. De acordo com o especialista, o prato é rico em vitamina A e propriedades antioxidantes. Confira o passo a passo.
Ingredientes
- 1 berinjela grande
- 1 abobrinha italiana grande
- 2 tomates
- ½ cebola roxa
- 2 alho-porós
- 50g de semente de girassol
- 50g de semente de linhaça
- 3 maços de uma PANC de sua escolha (pode ser folhas de picão preto, beldroega, capuchinha, trapoeraba, gondó, ora-pro-nóbis ou trevinho)
- 150ml de azeite de oliva
- 2 dentes de alho
- 2 colheres de sopa de queijo meia cura ralado fino
- Sal e pimenta a gosto
Modo de preparo
Lave bem todos os legumes e folhas. Corte a berinjela, a abobrinha e o tomate em rodelas de mesma espessura e reserve. Dica: deixe a berinjela em água com vinagre ou suco de limão para não escurecer.
Corte o alho-poró em rodelas de mesma espessura da cebola e reserve. Pique o alho na faca bem pequeno e faça o mesmo com as folhas de PANC. Em um recipiente, misture o alho, o azeite, as folhas picadas e as sementes. Acerte o sal e a pimenta.
Em seguida, disponha os legumes em rodelas em um refratário ou assadeira redonda, intercalando um a um. Regue tudo com o pesto e leve ao forno preaquecido a 180°C, coberto por papel alumínio por 15 minutos.
Passado este tempo, retire o papel, aumente o forno para 220°C e retorne por mais 15 minutos ou até dourar e chegar ao ponto de servir.