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Sabe aquele frio na barriga de primeiro encontro? As inúmeras expectativas e surpresas ao falar com alguém pela primeira vez? A sensação gostosa de trocar olhares sem saber ao certo no que aquilo vai dar? Ao entrar em uma relação monogâmica, espera-se que essas coisas deixem de acontecer, e fiquem apenas na clássica história de como o casal se conheceu.
Contudo, dá para reviver essas sensações mesmo estando com a mesma pessoa há anos e respeitando o acordo monogâmico do casal?
É possível fazer isso com o role-play, termo em inglês que significa "fazer uma dramatização". No contexto sexual, o role-play representa um tipo de fetiche, onde o casal encena ser pessoas diferentes, com outros nomes, profissões, hobbies, etc.
"Esse casal cria uma história, às vezes uma ambientação, ou às vezes vão para um lugar diferente mesmo, para encenar que são outras pessoas", explica a sexóloga e fisioterapeuta pélvica Débora Pádua.
Além de estimular a criatividade e dar abertura para explorar novos (e antigos) desejos, a encenação sexual ajuda a sair da rotina, se divertir e aumentar a cumplicidade entre o casal.
A comunicação - essencial para um relacionamento saudável - também é fortalecida nessa prática. Afinal, é preciso muita conversa para conseguir comunicar para o parceiro a vontade de mergulhar em novas experiências e alinhar como será a encenação.
E vamos combinar: é muito prazeroso (e para alguns até sexy) ver alguém tão empenhado e feliz em fazer algo que nos agrada e melhora a relação, não é mesmo?
Como funciona o role-play?
Para entender melhor como funciona a encenação sexual, é interessante conhecer os tipos. Não há nenhum limite para a imaginação na hora de planejar o role-play. Porém, saber as diversas possibilidades de encenação pode guiar quem deseja praticar pela primeira vez.
Existem desde as mais simples variações, quando o casal finge que são desconhecidos e estão se vendo pela primeira vez - de maneira espontânea (em uma festa, por exemplo) ou em um encontro -, até as mais complexas, envolvendo fantasias e acessórios. "Na nossa encenação, eu sou dominatrix e meu marido é meu 'escravo' sexual. Eu ordeno e ele obedece", conta Fernanda*, casada com Joel* há 20 anos.
E tem todos os tipos de fantasias disponíveis, mas as principais acabam sendo de profissões, como enfermeira, empregada doméstica, estudante, policial, bombeiro, médico, etc. De acordo com Karina Brum, sexóloga e proprietária do sex shop Labareda Boutique, atualmente, existem até mesmo fantasias de motorista de aplicativo.
"Se for a primeira vez que a mulher vai usar uma fantasia, nós recomendamos que seja de uma profissão ou personagem que ela possa usar a timidez ou vergonha ao seu favor, pois corre o risco de ficar caricata. Estudante ou até princesas da Disney são boas opções para quem está começando nesse universo", orienta João Ribeiro, sexólogo consultor da loja de produtos eróticos INTT Cosméticos.
Apesar da fantasia escolhida já ser sugestiva, a maneira como ela será inserida na relação sexual fica a critério do casal.
Role-play na prática
Se interessou pelo role-play? Então, o próximo passo é a comunicação. Converse com seu parceiro sobre esse desejo. No caso da Fernanda* e do Joel*, a iniciativa veio por parte dele. "Conversamos, eu pensei nas possibilidades de realização e percebi que seria muito excitante estar na postura de 'dar ordens'", relata Fernanda.
Um relacionamento deve ter confiança e segurança. Então, não sinta vergonha de falar sobre uma vontade sexual. "A pessoa não está usando ou colocando uma terceira pessoa nem nada, é algo que vai ser interessante para os dois", pontua Pádua.
Uma boa maneira de iniciar essa conversa é compartilhando conteúdos que falam sobre o role-play. Isso pode ajudá-lo a entender melhor como funciona essa prática - e quem sabe até despertar o interesse nele também. Outra tática segura é ter uma imersão mais sensorial desse universo visitando um sex shop.
Saiba mais: Como falar sobre fantasias sexuais com o parceiro?
Depois de conversar, é hora de planejar! Existem algumas perguntas que podem ajudar a criar um roteiro para a encenação, como:
- Será em casa ou em um ambiente diferente?
- Os dois vão se fantasiar?
- Quando vão entrar e sair do personagem?
- Qual será o motivo para os personagens se encontrarem?
- Um vai saber qual é o personagem do outro ou será surpresa?
Se estiver sem ideias para o "tema", procure jogos eróticos que possam estimular a imaginação. Mas se a criatividade não for o problema, mas sim decidir qual fantasia encenar, a sexóloga Débora Pádua tem uma dica: cada um escreve sugestões de encenação e lugar em diferentes papéis.
Coloque todos em uma caixa e sorteie um. Assim, deixa a situação mais divertida e ainda consegue satisfazer os desejos de ambos. "Lembrando que toda a prática role-play deve ser sã, segura e consensual", reforça Karina Brum.
Pornografia x role-play: existe alguma relação?
Muitos filmes pornôs reproduzem algumas situações rotineiras, envolvendo profissões comuns do dia a dia. De acordo com Pádua, ao saber que as pessoas presentes na produção são atores e que aquela situação não reflete o dia a dia deles, isso pode despertar um desejo de fantasiar que você é outra pessoa.
Então, a pornografia pode, sim, ter conexão com o role-play. Entretanto, apenas no que diz respeito à vontade inicial de incluir a prática na relação. Isso não significa que a encenação sexual precisa ser levada para um lado pornográfico.
Saiba mais: 7 filmes para esquentar o clima da relação
Na verdade, o role-play deve ser algo divertido e leve, que irá ajudar o casal a sair da rotina e apimentar a relação.
O importante é não deixar o medo ou a vergonha te inibir sexualmente. "Viva, mulher! Não tenha medo. Converse, tudo se encaixa depois de um bate-papo honesto. Viver a sexualidade de forma plena é o tempero da vida sexual", aconselha Fernanda*.
*Os nomes das personagens são fictícios e foram alterados a pedido dos entrevistados.