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Sabia que para algumas pessoas o seu pé pode ser um tanto quanto sensual? Esse tipo de atração realmente existe e se chama podolatria. Dentro desse universo, cada um tem uma preferência e é possível sentir prazer ao tocar, sentir ou cheirar os mais diferentes tipos de pés, incluindo magros, gordos, com adereços, chulé, joanete, unhas pintadas ou não. ''É muito subjetivo'', afirma a sexóloga Michelle Sampaio.
João Claudino Fernandes Neto, que é médico e admite ser podólatra, revela o que o atrai: ''Acho que é o formato. Me agradam também os pés com unhas feitas. Gosto muito daqueles com dedos em 'escadinha'. A feminidade é muito bem representada por eles''.
Alê Feet, como prefere ser chamada, faz sucesso no Instagram com um perfil de fotos de pés e, de acordo com ela, objetos relacionados a essa parte do corpo também costumam agradar os podólatras, como simples calçados. A sexóloga, no entanto, destaca: ''O fetiche não está no sapato em si, mas no que veste aquele pé''.
E, apesar de tudo isso parecer inusitado, a podolatria é comum e tem, dentre seus adeptos, maioria masculina. Um levantamento de 2021 do Pornhub, o maior site pornô do mundo, mostrou inclusive que o interesse pelo assunto têm crescido, uma vez que a geração Z busca 68% mais vídeos de pés do que as outras faixas etárias.
Como surge o fetiche?
Há várias teorias que rondam o assunto. Algumas apontam para a história de vida como uma das grandes responsáveis pelo surgimento desse tipo de atração, que pode já ser notada na infância. ''Descobri esse lado fetichista quando criança, eu tinha mania de olhar sempre os pés das minhas amigas. Isso só foi aumentando'', relembra João.
Michelle Sampaio que, além de sexóloga, é formada em psicologia, cita uma possível causa: ''Pode ser que se tenha um histórico não necessariamente sexual, mas até afetivo com pés e sapatos que gere essa preferência''. Ela também aponta outra hipótese: ''Às vezes, estar muito fixado a uma parte do corpo está ligado a uma dificuldade de se relacionar com o todo, ou seja, a pessoa dona do pé''.
Ainda é comum que a podolatria tenha conexão com o prazer de submissão por conta dessa ideia de estar curvado aos pés de alguém, idolatrando-o e idealizando-o. Da perspectiva do comando, Alê Feet garante: ''É uma sensação muito boa ser admirada''.
O sexo
Quando o assunto é o uso de pés na relação sexual, João Claudino acredita que ''tudo de bom pode começar com uma boa massagem'', mas não é preciso se limitar a isso, já que existem uma série de posições sexuais que deixam tal parte do corpo em evidência e alguns até a utilizam para a masturbação.
Conforme explica a especialista, certos podólatras conseguem sentir um prazer tão grande interagindo com os pés, seja por meio de beijos, cheiros ou de trocas de carícias, que a penetração pode se tornar dispensável.
A questão é: como falar sobre assunto com o parceiro ou a parceira sexual? ''Falar de sexualidade, de modo geral, é difícil, mas eu costumo dizer que uma conversa, às vezes até um jogo de 'me conta o que você gosta, que eu te conto o que eu gosto', é capaz de ajudar'', aconselha a sexóloga. Outra dica é compartilhar conteúdos sobre podolatria com a pessoa para tentar despertar o interesse nela.
Logo, embora o fetiche ainda seja visto como um tabu, o recomendado é não evitar falar sobre ele, afinal, uma boa comunicação é essencial para um relacionamento saudável.
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O preconceito
''A gente está falando, mesmo que nos anos 2022, de práticas não convencionais e tudo que é não convencional gera preconceito'', analisa a especialista. João Claudino, por exemplo, já foi criticado várias vezes por ser podólatra, ouvindo dos outros que aquilo não era normal. Por tal razão, ele conta que costuma abordar o tópico com cautela, demorando para compartilhar com as pessoas as suas preferências.
Apesar da persistência do preconceito, o médico reconhece alguns avanços trazidos pela internet, que facilitou o acesso a conteúdos de podolatria: ''Temos não só páginas voltadas ao fetiche, mas até sites de entretenimento adulto que abordam essa categoria. Acho que isso facilita e instiga, fica a critério de cada um provar''.
Alê feet concorda: ''Antigamente não era sempre que você via um perfil com fotos de pés no Instagram. Isso ainda é considerado tabu, mas hoje muito menos. Está muito mais fácil conversar com alguém sobre a podolatria''. Para ela, a mudança mostra que as pessoas têm desejos, vontades de coisas diferentes - algo que não vai mudar.