Nutricionista graduada pela Faculdade de Saúde Pública, da Universidade de São Paulo (USP). Possui especialização em Nut...
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A partir de outubro deste ano, o rótulo de diversos produtos alimentícios terá informações novas. Com a atualização, logo na parte da frente da embalagem será possível encontrar uma lupa, que indica se o alimento tem alto teor de sódio, açúcar ou gorduras saturadas.
Além disso, a tabela nutricional contará com novas informações, como açúcares totais e adicionais, novos valores diários de necessidades nutricionais e novas porções de grupos de alimentos. Também serão estabelecidos novos critérios para inclusão de atributos positivos do alimento nos rótulos.
As mudanças fazem parte da nova resolução da diretoria colegiada (RDC) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), publicada em 8 de outubro de 2020 e que entrará em vigor no dia 9 de outubro deste ano. Entenda mais sobre essas novidades, suas vantagens e desvantagens a seguir!
Alerta frontal para açúcares, gorduras saturadas e sódio
Uma das principais novidades da instrução normativa da Anvisa, que determina a mudança dos rótulos de embalagens de produtos alimentícios, é a adoção da FOP, sigla para o nome técnico “Front of Package” que, em inglês, significa “frente do pacote” ou “rotulagem frontal”.
A FOP funcionará como uma espécie de selo que destaca, logo na parte da frente da embalagem, a presença de quantidades excessivas, quando houver, de açúcares adicionados, sódio e gorduras saturadas no produto alimentício. No Brasil, o símbolo escolhido para a FOP é a lupa.
De acordo com a nova instrução normativa, os alimentos terão o alerta frontal adicionado em seus rótulos quando apresentarem as seguintes características:
Alimentos sólidos | Alimentos líquidos | |
Açúcares adicionados | Quantidade maior ou igual a 15 g por 100 g | Quantidade maior ou igual a 7,5 g por 100 ml |
Gorduras saturadas | Quantidade maior ou igual a 6 g por 100 g | Quantidade maior ou igual a 3 g por 100 ml |
Sódio | Quantidade maior ou igual a 600 mg por 100 g | Quantidade maior ou igual a 300 mg por 100 ml |
São considerados açúcares adicionados aqueles que não são naturais do alimento, como açúcar de cana, açúcar de beterraba, mel, melaço, melado, rapadura, caldo-de-cana, extrato de malte, maltodextrina, sacarose, glicose, frutose, lactose, dextrose, maltose, galactose, açúcar invertido e xaropes.
O objetivo da adoção da lupa é diminuir o consumo de açúcar, sódio e gorduras saturadas no Brasil. A meta atual é reduzir até 144 mil toneladas de açúcar em produtos industrializados até 2022, de acordo com estratégia criada em parceria entre o Ministério da Saúde e a ABIA (Associação Brasileira de Indústrias de Alimentos).
Além do Brasil, a Organização Mundial da Saúde (OMS) também tem criado estratégias para o fim do consumo mundial de gorduras trans até 2023 e quer reduzir em 30% o consumo de sódio no mundo até 2025.
Para se ter uma ideia, no Brasil são consumidos nove gramas de sódio por dia por pessoa, sendo que a recomendação da OMS é de até dois gramas de sódio de consumo diário do nutriente. Já em relação ao açúcar, o consumo médio do brasileiro é de 80 gramas por dia, enquanto a recomendação diária é de 25 gramas.
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Mudanças na tabela nutricional
Outra novidade da instrução normativa é a mudança na tabela de informação nutricional dos alimentos. A partir de outubro deste ano, passará a ser obrigatória a declaração da quantidade de açúcares totais e adicionados entre os nutrientes.
Além disso, haverá uma nova coluna na tabela, indicando a proporção de alimentos por 100 gramas. Também deverá ser incluída a declaração do número de porções por embalagem. O objetivo das mudanças é ajudar o consumidor na comparação de produtos com diferentes porções.
“Uma porção de um biscoito, por exemplo, tem entre 30 e 35 gramas a porção individual e, vamos supor, que nela tenha 20 g de carboidrato. O consumidor vai ter essa informação dentro da porção da embalagem e por 100 g para que possa comparar com outras marcas que eventualmente usam porções diferentes”, explica, em entrevista ao Minha Vida, a nutricionista Gabriela Cunha, especialista em nutrição clínica funcional.
Além disso, a tabela passará por uma mudança visual: ela deverá ter fundo branco e letras pretas para evitar a possibilidade de uso de cores que atrapalhem a legibilidade das informações ao consumidor.
Alegações nutricionais
As alegações nutricionais, ou seja, informações que destacam os benefícios de um determinado produto (por exemplo, “100% integral”, “sem açúcares” ou “baixo em colesterol”) seguem sendo informações voluntárias no rótulo. Porém, foram propostas alterações para evitar contradições com o alerta frontal (FOP), como:
- Alimentos com rotulagem frontal de açúcar adicionado não podem ter alegações para açúcares e açúcares adicionados;
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Alimentos com rotulagem frontal de gordura saturada não podem ter alegações para gorduras totais, saturadas, trans e colesterol;
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Alimentos com rotulagem frontal de sódio não podem ter alegações para sódio ou sal;
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Alegações não podem estar na parte superior do painel principal caso o alimento tenha rotulagem frontal.
Vantagens e desvantagens da mudança
Para a nutricionista Gabriela Cunha, as mudanças na rotulagem de alimentos vão trazer vantagens, como maior transparência ao consumidor e o maior incentivo a uma alimentação saudável. “Temos exemplos de países vizinhos que já fizeram esse trabalho e pesquisas de mercado que mostram que as pessoas conseguiram fazer melhores escolhas”, comenta.
É o caso de um estudo publicado pela revista The Lancet, que mostra que houve uma redução significativa no consumo de alimentos industrializados que possuíam alerta frontal no Chile, o primeiro país a adotar um modelo de rotulagem frontal.
México, Equador, Peru, Uruguai, Reino Unido, Dinamarca, Finlândia, Polônia, Israel, Irã, Sri Lanka, Singapura e Austrália são alguns outros países que também já adotaram o alerta frontal.
“Além disso, eu acho que vai gerar uma concorrência positiva entre as empresas, no sentido de elas buscarem cada vez mais atributos positivos para seus produtos”, completa.
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Por outro lado, a nutricionista também destaca algumas possíveis desvantagens da atualização. “Eu tenho um pouco de receio sobre a quantidade de informações que estará na embalagem, misturando pontos positivos e negativos. Também acho que a tabela nutricional deveria ser mais enxuta, porque acredito que não vai ficar tão clara para o consumidor”, opina. “Acho que essas mudanças podem ser, ainda, revisitadas", finaliza.