Psicóloga do centro clínico do Órion Complex em Goiânia (GO).
A saúde mental no Brasil é um tema de grande relevância, porém muitas vezes negligenciado. Em uma sociedade onde questões psicológicas e emocionais frequentemente são subestimadas ou estigmatizadas, os números de casos de transtornos de ansiedade, depressão ou correlatos continuam aumentando.
O problema pode começar cedo: metade de todas as condições de saúde mental surge por volta dos 14 anos de idade, época em que o cérebro passa por importantes mudanças relativas ao amadurecimento.
“A maioria desses casos não é detectada e sequer tratada. Mundialmente, a depressão é uma das principais causas de doença e incapacidade entre adolescentes, e o suicídio é a terceira principal causa de morte entre 15 e 19 anos”, conta a psicóloga Wanessa Rios. “Estimativas mais recentes mostram que aproximadamente 15% das pessoas entre 10 e 19 anos têm algum transtorno mental”.
A profissional explica que estresse, genética, nutrição, infecções perinatais, exposição a perigos ambientais também são fatores que contribuem para transtornos mentais.
“Em relação ao gênero, já se observou que mulheres são mais acometidas por transtornos de ansiedade, humor e somatoformes, que incluem sintomas físicos sem explicação médica. Nos homens, há uma prevalência dos transtornos relacionados ao uso de substâncias psicoativas", explica.
A aceitação é uma questão a ser considerada. Muitos - e aí não importa a idade - enfrentam dificuldades para reconhecer ou admitir que estão passando por problemas mentais, seja por falta de informação, vergonha ou medo do estigma social. Além disso, o acesso a serviços especializados nem sempre é simples, contribuindo para o agravamento desses quadros.
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Cuidar da saúde mental como se cuida da saúde física, portanto, é fundamental. “Através da assistência e cuidados adequados, minimizamos ou até mesmo suavizamos o surgimento de inúmeras doenças que têm se tornado mais comum inclusive no ambiente de trabalho”, explica Wanessa.
A campanha do Janeiro Branco, portanto, surge como um movimento de conscientização e reflexão sobre a importância do cuidado com a saúde mental. Idealizada em 2014 por um psicólogo mineiro, a iniciativa se espalhou por todo o país, estimulando diálogos abertos sobre emoções, autocuidado e qualidade de vida. Por ser o primeiro mês do ano, janeiro foi simbolicamente escolhido para promover um início de ano com foco na saúde mental, buscando estimular a população a priorizar o bem-estar psicológico.
Há cenários que precisam mudar. Em 2023, 87% das empresas registraram afastamentos de colaboradores por conta dessas questões. “A saúde mental do brasileiro no ambiente de trabalho não está em seu melhor momento”, alerta a psicóloga.
Além disso, o aumento de violência doméstica, desemprego, pobreza e insegurança alimentar são problemas que agravam a saúde mental e física das pessoas, explica Wanessa. “A ausência de programas governamentais efetivos para essas áreas é um dos maiores desafios a serem vencidos”, reflete.
Reconhecer para cuidar
Os fatores de risco para problemas de saúde mental são diversos, e podem incluir aspectos genéticos, traumas emocionais, estresse crônico, condições socioeconômicas desfavoráveis, abuso de substâncias e a falta de suporte social e familiar.
Para preservar a saúde mental e prevenir problemas, é fundamental adotar práticas que promovam o bem-estar emocional. Estratégias como a prática regular de exercícios físicos, alimentação equilibrada, sono adequado, técnicas de relaxamento e meditação, além do cultivo de relacionamentos saudáveis, podem ser fundamentais para o equilíbrio emocional e psicológico.
Sintomas como mudanças abruptas de humor, isolamento social, alterações no padrão de sono ou alimentação, sentimentos de desesperança e falta de prazer em atividades que antes eram apreciadas merecem atenção e cuidado.
Quando alguém identifica um sinal de que algo não vai bem, é de extrema importância buscar ajuda especializada. Psicólogos, psiquiatras e outros profissionais de saúde mental estão capacitados para oferecer suporte e tratamento adequado.
O Janeiro Branco não é uma campanha que termina em janeiro, mas sim um movimento para que a saúde mental esteja em dia durante todo o ano. A campanha convida a sociedade a buscar informação, ter empatia e oferecer apoio a quem enfrenta desafios de saúde mental.
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