Formada em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas de Santos (FCMS- Unilus) em 2005, pneumologista (2010) e médica d...
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Um homem, cuja identidade não foi divulgada, ficou gravemente ferido após o vape que ele fumava explodir, ficando alojado em seu crânio. O caso foi divulgado pela revista Oral Surgery, Oral Medicine, Oral Pathology and Oral Radiology. Segundo informações da publicação, ele tragava a fumaça do cigarro eletrônico quando o dispositivo explodiu. O vape perfurou a garganta do paciente, ficando preso ao crânio.
Não é a primeira vez que um incidente do tipo é associado ao uso de cigarros eletrônicos. Há relatos de incêndios causados principalmente quando os usuários dão carga no acessório, uma vez que o dispositivo possui uma estrutura frágil e facilmente danificável. Isso torna-o mais suscetível a explosões, que podem causar traumas faciais e na cavidade oral.
No Brasil, o comércio, a importação e a propaganda de cigarros eletrônicos são proibidos por lei. Em 2022, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) revisou a questão e, após análise de dados científicos sobre os impactos à saúde e a toxicidade do dispositivo, decidiu pela manutenção da proibição destes dispositivos.
Para entender melhor como o vape afeta a saúde e os riscos de consumo, o MinhaVida consultou uma especialista e reuniu as principais informações.
Manuseio incorreto do vape pode causar explosões
Assim como todo dispositivo eletrônico, os cigarros eletrônicos estão sujeitos a explosões, que podem ocorrer quando a bateria superaquece e os produtos químicos e gases escapam.
Isso é mais frequente em casos de baterias de baixa qualidade ou falhas do próprio produto, o que expõe o usuário ao risco — uma vez que a explosão pode ocorrer na boca, nas mãos e no bolso, por exemplo, provocando traumas e queimaduras graves.
Para dar uma ideia, um homem de 24 anos morreu após um cigarro eletrônico explodir em seu rosto, em janeiro de 2019, no Texas, Estados Unidos. De acordo com informações da CNN, ele usava o dispositivo dentro de seu carro e, com a explosão, uma das peças cortou seu lábio inferior e se alojou na garganta, provocando um derrame cerebral.
Quais os riscos do vape para a saúde?
Os malefícios do cigarro eletrônico são ainda mais extensos: eles contêm uma quantidade variável de nicotina e outras substâncias tóxicas. Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos, inclusive, descobriu a presença de concentrações perigosas de toxinas em vapes com sabor — o que aumenta o risco de uma série de resultados adversos à saúde, incluindo lesão pulmonar, toxidade por inalação (convulsões) e dependência química.
De acordo com uma pesquisa feita por um centro especializado da Universidade de Ohio e da Escola de Medicina da Carolina do Sul, ambos nos Estados Unidos, o uso de cigarros eletrônicos por apenas 30 dias pode resultar em problemas respiratórios severos — mesmo em pessoas saudáveis e jovens, público que é maioria no consumo.
Um dos principais riscos é a Evali, uma sigla relacionada ao dano pulmonar causado pelo uso frequente de cigarros eletrônicos. O nome foi criado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) em 2019.
De acordo com Elisa Maria Siqueira Lombardi, pneumologista da Saúde Digital do Grupo Fleury, a doença se manifesta com sintomas de um quadro de insuficiência respiratória aguda, como falta de ar, tosse e febre — além de sintomas abdominais, como dor abdominal, diarreia, vômitos e fadiga.
Além da lesão pulmonar, Elisa aponta que as substâncias presentes no cigarro eletrônico estão associadas a um maior risco de fibrose pulmonar, asma brônquica, câncer de pulmão, de bexiga, de cavidade nasal e redução da capacidade pulmonar.
"Essa é uma nova entidade e nós não sabemos a consequências futuras dessas inflamações [causadas pelos cigarros eletrônicos]. O que nós sabemos é que a inflamação crônica no nosso organismo é uma causa importante de câncer — e isso acontece em vários órgãos diferentes. Por exemplo, no esôfago, no estômago, na bexiga e também no pulmão", explica Igor Morbeck, oncologista e membro do Comitê Científico do Instituto Lado a Lado pela Vida.
Já do ponto de vista extrapulmonar, o uso do dispositivo aumenta os riscos de infarto, doenças cardiovasculares agudas e AVC. Inclusive, uma pesquisa feita pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) também afirma que os vapes aumentam em 1,79 vezes a possibilidade de infarto do miocárdio.
Para somar, o vape também pode afetar a saúde da pele. De acordo com a doutora Mayla Carbone, dermatologista membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), a nicotina presente no dispositivo restringe os vasos sanguíneos, diminuindo seu fluxo para a superfície cutânea.
“O resultado é uma diminuição da oxigenação e nutrientes fornecidos à epiderme, levando a um envelhecimento prematuro”, explica Mayla. “Linhas finas, rugas e uma aparência opaca são apenas alguns dos sinais visíveis desse dano”.
Vape ajuda na redução de danos entre fumantes?
Um dos argumentos apresentados pela indústria do tabaco é que os cigarros eletrônicos são uma alternativa de menor risco à saúde para substituir cigarros convencionais. No entanto, são necessários mais estudos para comprovação.
"Sabe-se que muitos dispositivos eletrônicos contêm até maiores concentrações de nicotina, potencializada pelos solventes contidos nas bobinas, causando até mais dependência do que os cigarros tradicionais. Por isso, não existe essa recomendação formal. Não se deve utilizar dispositivos eletrônicos para cessar o tabagismo", aponta Elisa.
A Sociedade Brasileira de Cardiologia, inclusive, apontou que estudos indicaram que jovens que fazem uso de cigarros eletrônicos têm menor propensão a cessar o tabagismo. Além disso, adultos fumantes que recorrem ao vape exibem uma inclinação para a dupla utilização, que envolve cigarros eletrônicos e convencionais, o que aumenta os riscos à saúde.
Tratamento de tabagismo está disponível no SUS
No âmbito do tratamento da dependência de nicotina, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) é responsável pelo Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNCT), que oferece uma série de abordagens e intervenções destinadas a ajudar as pessoas a pararem de fumar.
O tratamento de tabagismo está disponível na rede do Sistema Único de Saúde (SUS) e inclui avaliação clínica, abordagem mínima ou intensiva, individual ou em grupo e, se necessário, terapia medicamentosa juntamente com a abordagem intensiva.
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