Dermatologista membro Titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia e Diretor Clínico do Instituto Fraga de Dermatolog...
iRedatora especialista em conteúdos sobre saúde, família e alimentação.
A história de uma mulher que se submeteu a uma técnica de microagulhamento no rosto, indicada para o rejuvenescimento cutâneo, sem saber que tinha melanoma, o tipo mais agressivo de câncer de pele, viralizou nas redes sociais.
A paciente apresentava um pequeno sinal escuro no rosto antes do procedimento, mas não procurou um médico dermatologista para investigação e nem realizou uma avaliação adequada dos riscos do microagulhamento com um profissional.
Com a técnica, que consiste no uso de microagulhas na pele, houve inoculação de células cancerígenas em outras áreas próximas — isto é, as células cancerígenas teriam se espalhado pelo rosto da paciente.
“Porém, o mais significativo é que estas células cancerígenas podem ter entrado na corrente sanguínea, atingindo outros órgãos”, aponta José Roberto Fraga Filho, diretor clínico do Instituto Fraga de Dermatologia e membro Titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Para somar, o melanoma representa apenas 3% dos casos de câncer de pele no Brasil, mas é potencialmente mais agressivo e pode se espalhar rapidamente, causando a morte em apenas alguns meses após o diagnóstico. Em todo caso, a identificação precoce é essencial para um bom prognóstico.
O caso se tornou conhecido a partir de uma publicação da dermatologista Fabia Luna, do Rio de Janeiro. Mais tarde, a especialista apagou a publicação, mas afirmou que o tratamento da paciente seria cirúrgico.
O microagulhamento é contraindicado para pessoas com câncer de pele e infecções próximas da região tratada, de acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). A técnica deve ser realizada por um profissional capacitado e com um material autorizado pela Anvisa.
Como ocorre o microagulhamento?
O microagulhamento, ou indução percutânea de colágeno (IPCA), promove o estímulo à produção de colágeno pelo próprio organismo e é usado para fins estéticos, como melhora da qualidade da pele e cicatrizes de acne.
Ele pode ser realizado com diversos dispositivos, mas o mais comum é o dermaroller, um rolo que dispõe de até 540 agulhas. Ele é deslizado sobre a pele com pressão controlada, em movimentos de vai e vem, provocando a abertura de microcanais que, posteriormente, irão se regenerar.
Normalmente, para esse tipo de procedimento, apenas uma avaliação clínica é realizada, sem a necessidade de exames complementares. No entanto, esse não é o ideal, conforme explica Juliana Neiva, médica especialista em dermatologista pela Sociedade Brasileira de Dermatologia.
“Idealmente, a detecção precoce de tais sinais pode ser realizada através de exames complementares, como dermatoscopia ou biópsia, garantindo um diagnóstico mais preciso. Isso pode evitar procedimentos inapropriados, como o microagulhamento, que seria contraindicado”, aponta a especialista, que também é diretora médica do Grupo Juliana Neiva, clínica especializada em saúde e beleza.
Quem não pode fazer microagulhamento?
Além do câncer de pele e infecções cutâneas, o microagulhamento é contraindicado nas seguintes situações, segundo Juliana:
- Doenças dermatológicas ativas
- Doenças autoimunes, como lúpus
- Lesões cutâneas abertas
- Pele sensível (em casos de rosácea, por exemplo)
- Gravidez
- Ceratose solar
- Verrugas
- Uso de anticoagulantes
- Pessoas em tratamento de quimioterapia, radioterapia ou corticoterapia
- Diabetes descompensada
- Acne ativa
- Uso recente de isotretinoína oral
- Pele com queimaduras solares
Sinais de alerta para um câncer de pele
Os sintomas de câncer de pele consistem em qualquer lesão que esteja:
- Coçando, descamando ou sangrando
- Mudando de tamanho, forma ou cor
- Com vermelhidão ou inchaço
- Escurecendo
Ele pode variar bastante de aparência e qualquer novo sinal na pele deve servir de alerta para procurar um dermatologista. Segundo José Alberto e Juliana Neiva, um critério amplamente reconhecido é o ABCDE, cujo objetivo é reconhecer um câncer de pele em seu estágio inicial:
- Assimetria: imagine uma divisão no meio da pinta e verifique se os dois lados são iguais. Se apresentarem diferenças, deve ser investigado
- Bordas irregulares: verifique se a borda está irregular, serrilhada ou não uniforme
- Cor: verifique se há várias cores misturadas em uma mesma pinta ou mancha. Segundo Juliana, uma mancha com tonalidade muito escura ou com múltiplas variações de cor requer atenção, especialmente no caso de um melanoma, que é uma lesão pigmentada
- Diâmetro: veja se a pinta ou mancha está crescendo progressivamente
- Espessura (ou evolução): observe se a mancha está aumentando de tamanho, forma ou cor
“O câncer de pele melanoma é menos frequente, mas é o mais grave, pois pode se espalhar (o que chamamos de metástase) e levar à morte”, explica Viviane Scarpa, dermatologista da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Já os cânceres de pele não melanoma são subdivididos em basocelulares e espinocelulares. Eles são mais frequentes e raramente se espalham, mas, se não tratados, podem aumentar localmente e causar dano estético.