Redatora de saúde e bem-estar, autora de reportagens sobre alimentação, família e estilo de vida.
A depressão é algo que vai além do nosso cérebro. Como muitas outras doenças, essa condição psicológica se manifesta em outros aspectos da nossa fisionomia, como por exemplo, em nossa temperatura corporal.
Temperatura e depressão
Um estudo, realizado pela Universidade da Califórnia, em São Francisco, identificou uma relação entre a temperatura corporal e a depressão. A equipe responsável pela análise observou uma relação positiva entre as variáveis, ou seja, que o aparecimento de sintomas depressivos estava relacionado a uma temperatura corporal elevada dos participantes.
A relação foi proporcional: quanto maior a gravidade dos sintomas, maiores as temperaturas corporais. Observaram também uma aparente relação entre a variabilidade da temperatura e os sintomas depressivos, mas esta não demonstrou ser estatisticamente significativa, sendo assim, não podem ser tiradas conclusões a respeito.
Mas, além da incidência estatística, pouco se sabe sobre essa relação. Por exemplo, a equipe destacou que ainda é um mistério se o aumento da temperatura corporal acontece devido a uma perda da capacidade de controle, a um aumento na geração de temperatura por meio de processos metabólicos ou se por uma combinação de fatores.
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Mais de 20 mil participantes
Para realizar o estudo, a equipe compilou informações de 20.880 participantes de 106 países. Durante a análise, que durou sete meses em 2020, os participantes usaram um aparelho com termômetro para medir a temperatura corporal e relataram diariamente sua temperatura e os sintomas de depressão.
“Até onde sabemos, esse é o maior estudo que examina a associação entre a temperatura corporal (medida tanto pela autoavaliação quanto por meio de sensores vestíveis) e sintomas depressivos em uma amostra geograficamente grande”, explicou a psiquiatra Ashley Mason, em um comunicado à imprensa. O estudo foi publicado na revista Scientific Reports.
Uma antiga suspeita
Embora seja provavelmente a mais numerosa, essa não é a primeira análise que aponta a relação. Um estudo, publicado em 2003, apontou a existência dessa relação e sua possível ligação com a proteína 5-HTT, o “transportador de serotonina”.
Outra pista importante tem a ver com os medicamentos comumente usados no tratamento da depressão, os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS) e os inibidores da recaptação da serotonina e da noradrenalina (IRSN). Nos últimos anos, vários estudos comprovaram que esses compostos reduzem a tolerância térmica de quem os consome. Os principais estudos a respeito foram analisados em uma revisão de literatura, publicada em 2022.
Correlação e causa
O presente estudo encontra uma ligação entre temperatura e depressão, mas não indica a possível causa, se houver. É impossível determinar, a partir dos dados conhecidos, se a depressão causa um aumento na temperatura corporal ou se uma temperatura corporal elevada pode aumentar o risco de depressão.
Também não é possível descartar que exista uma causa subjacente para ambos que a análise não detecta: o estresse ou os processos inflamatórios podem causar, de forma independente, sintomas depressivos e aumento da temperatura corporal.
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Frio ou calor como terapia?
Entender o que está acontecendo pode nos ajudar a compreender melhor a depressão e, portanto, nos fornecer as ferramentas que procuramos para combatê-la. Até agora, o calor tinha sido usado para melhorar a condição dos pacientes. Esse tipo de terapia pode fazer sentido através de um “efeito rebote”, ajudando o corpo a recuperar a sua capacidade de autorregulação térmica, acrescentam os estudiosos.