
7 anos de experiência em atendimento psicoterapêutico com crianças, adolescentes e adultos. Responsável por grupos terap...
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Jornalista com sete anos de experiência em redação na área de beleza, saúde e bem-estar. Expert em skincare e vivências da maternidade.
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Quando se fala em depressão, muita gente imagina um problema que atinge apenas os adultos. Mas a verdade é que esse transtorno também pode afetar crianças — e de formas que nem sempre são fáceis de identificar. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), de 10% a 20% das crianças e adolescentes no mundo sofrem com algum transtorno mental, sendo a depressão e a ansiedade os mais comuns.
De acordo com a psicóloga Ana Cristina Smith Gonçalves, do Instituto de Especialidades Pediátricas (IEP) do Grupo Prontobaby, é comum que os sinais da doença passem despercebidos. “A criança não consegue nomear as emoções. Por isso, muitas vezes, apresenta sintomas físicos, como dores de cabeça e de estômago, excesso ou falta de apetite. Também pode haver enurese noturna”, explica a especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental.
Reconhecer esses sinais pode ser o primeiro passo para buscar ajuda especializada e garantir que a criança receba o cuidado necessário. A seguir, listamos 5 sinais importantes que podem indicar que uma criança está enfrentando um quadro depressivo:
1. Mudanças frequentes de humor
A criança passa a se mostrar triste, irritada ou com raiva sem um motivo claro. Pode parecer mais desanimada e até reclamar de coisas que antes não incomodavam. “Se esses sintomas persistirem por mais de duas semanas, é importante investigar, porque pode ser um sinal de depressão”, alerta a psicóloga.
2. Perda de interesse em atividades que antes eram prazerosas
Sabe aquela criança que amava desenhar, brincar com os amigos ou participar das aulas na escola? De repente, ela se mostra desinteressada e apática. “Isso costuma aparecer primeiro no ambiente escolar. Os professores notam e avisam que a criança não quer mais fazer as atividades ou parece desmotivada”, explica Ana.
3. Alterações no apetite
Tanto a falta quanto o excesso de apetite podem ser sinais de alerta. “Se o seu filho leva o lanche para a escola e volta com ele intacto, ou não come direito nas refeições, vale a pena observar. Por outro lado, se acabou de comer e já está pedindo mais comida, também é um comportamento que deve chamar a atenção”, afirma a especialista.
4. Dificuldade de concentração
Quando a criança começa a se distrair com facilidade, não consegue terminar as tarefas ou apresenta queda no rendimento escolar, é hora de investigar. “Esse sintoma muitas vezes vem acompanhado de ansiedade. Os pais percebem que a criança está mais aérea, não consegue focar no que está fazendo”, comenta Ana.
5. Queixas físicas sem causa aparente
Dores de cabeça, dor de barriga e cansaço constante podem ser formas de a criança expressar o que está sentindo emocionalmente. “Às vezes, ela pede para ir embora da escola porque diz que está se sentindo mal. Se essas queixas forem frequentes e o médico não encontrar nenhum problema físico, a causa pode ser emocional”, explica a psicóloga.
Segundo Ana Cristina, o diagnóstico da depressão infantil exige uma análise cuidadosa e a participação ativa da família. “Coletamos informações sobre o histórico da criança, o que mudou em seu comportamento, se há alguma condição médica em tratamento ou se ocorreu algo no ambiente, como luto, separação dos pais ou bullying. Muitos fatores externos podem contribuir para o quadro”, afirma.
E um alerta importante: nem toda alteração no comportamento é birra. “A birra é uma explosão emocional pontual. Já a depressão é persistente, dura semanas ou meses, e a criança não volta ao estado normal rapidamente”, esclarece.
Como é feito o tratamento da depressão em crianças
Falar sobre depressão infantil é essencial — e entender como é feito o tratamento pode ser o primeiro passo para ajudar uma criança a recuperar sua saúde emocional e qualidade de vida. Embora cada caso seja único, o acompanhamento psicológico é sempre fundamental. Segundo a psicóloga, uma das abordagens mais eficazes nesse contexto é a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC).
“A abordagem ajuda a criança a enxergar um novo significado para tudo o que está acontecendo e a realmente sair desse quadro depressivo”, explica Ana Cristina. Na prática, isso significa ensinar a criança a identificar pensamentos negativos, entender como eles influenciam seu comportamento e substituí-los por ideias mais realistas e positivas.
Um ponto essencial do tratamento é o envolvimento da família. “Os pais precisam estar cientes do que está acontecendo com os filhos e ajudar nas etapas do tratamento. Chamamos isso de psicoeducação”, destaca a especialista. Ou seja, não basta apenas levar ao consultório: é preciso acolher, escutar e participar ativamente do processo terapêutico.
Outro desafio comum é quando a criança começa a misturar o real com o imaginário — algo típico da infância, mas que pode se intensificar em quadros depressivos. “Muitas vezes, por conta do medo que mexe com o imaginário, a criança começa a achar que aquilo que está pensando é realidade. Por isso, é importante dar ferramentas para que ela consiga sair desse estado”, comenta Ana.
Além da reestruturação dos pensamentos, a psicóloga também ressalta a importância de desenvolver habilidades de enfrentamento, fundamentais para lidar com emoções difíceis e momentos de estresse — que, inevitavelmente, vão surgir ao longo da vida.
“Técnicas de relaxamento, de resolução de problemas e de habilidades sociais são algumas das estratégias que utilizamos durante o tratamento”, explica.
Com o apoio certo, afeto e estratégias bem aplicadas, é possível, sim, ajudar a criança a vencer a depressão. O mais importante é lembrar que ela não precisa — e nem deve — enfrentar isso sozinha.
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