Graduada em Psicologia pela Universidade Bandeirante de São Paulo (UNIBAN), Lizandra Arita é psicóloga institucional e c...
iJornalista especializado na cobertura de temas relacionados à saúde, bem-estar, estilo de vida saudável e à pratica esportiva desde 2008.
iO segredo da felicidade é uma busca incessante e que acompanha a humanidade há séculos. Se na antiguidade grandes filósofos se propuseram a entender o que nos deixava felizes e quais os caminhos para chegar lá, hoje essa busca passa também pela ciência.
Feito há alguns anos, um longo estudo de Harvard, com quase 80 anos de duração, se propôs a entender quais eram os fatores importantes para a felicidade. Começado em 1938, o estudo acompanhou a saúde de 268 estudantes de Harvard e, depois, de seus descendentes.
Com base nos dados analisados até meados dos anos 2010, desses homens e de mais de 1.300 de seus descendentes, eles estudaram as trajetórias de saúde dos participantes e suas vidas em geral, incluindo as coisas que fizeram na vida, acertos e erros nas carreiras e no casamento.
Com base nesses milhares de dados coletados ao longo de quase 80 anos, os estudiosos finalmente chegaram à uma conclusão do que de fato era mais importante para a felicidade.
Esse é o segredo da felicidade, segundo Harvard
A principal descoberta do estudo é que os relacionamentos próximos são o fator mais significativo para uma vida saudável e satisfatória. Mais do que riqueza, fama ou até mesmo fatores genéticos, a qualidade das conexões interpessoais se mostrou essencial.
“A descoberta surpreendente é que nossos relacionamentos e quão felizes somos neles têm uma influência poderosa em nossa saúde”, disse Robert Waldinger, diretor do estudo e professor de psiquiatria na Harvard Medical School. “Cuidar do seu corpo é importante, mas cuidar dos seus relacionamentos também é uma forma de autocuidado. Essa, eu acho, é a revelação”.
Os pesquisadores também observaram que a solidão tem um efeito tão prejudicial quanto o tabagismo ou o alcoolismo. Aqueles que mantiveram laços sociais fortes e significativos experimentaram menos declínio mental e físico com o passar dos anos.
“Quando reunimos tudo o que sabíamos sobre eles aos 50 anos, não foram os níveis de colesterol na meia-idade que previram como eles iriam envelhecer”, disse Waldinger em uma palestra do TED. “Era o quão satisfeitos eles estavam em seus relacionamentos. As pessoas que estavam mais satisfeitas em seus relacionamentos aos 50 anos eram as mais saudáveis aos 80 anos”.
Leia mais: 7 hábitos que podem levar qualquer um a ser feliz de acordo com a ciência
Relacionamentos felizes, envelhecimento feliz
Segundo os especialistas, casamentos felizes e relações familiares e comunitárias harmoniosas desempenham um papel protetor na saúde mental, especialmente em idades mais avançadas. Mesmo em dias de dor física, indivíduos em relacionamentos satisfatórios relataram menos sofrimento emocional, o que reforça a importância do apoio emocional.
“Bons relacionamentos não protegem apenas nossos corpos, eles protegem nossos cérebros”, disse Waldinger em sua palestra no TED. “E esses bons relacionamentos não precisam ser suaves o tempo todo. Alguns dos nossos casais octogenários podiam brigar um com o outro dia após dia, mas, desde que sentissem que realmente podiam contar um com o outro quando as coisas ficassem difíceis, essas discussões não afetavam suas memórias.”
Por isso, os resultados do estudo têm implicações profundas para o envelhecimento. Eles sugerem que o autocuidado vai além de manter o corpo em forma: envolve também a nutrição dos relacionamentos ao longo da vida.
“À medida que pensamos sobre o impacto dos relacionamentos próximos na nossa saúde e bem-estar, é fundamental entender os benefícios emocionais e inconscientes que esses laços podem oferecer”, completou a psicóloga Lizandra Arita, da Clínica Mantelli.Leia mais: Casar-se com melhor amigo traz mais felicidade, diz estudo
A felicidade é real quando é compartilhada
Pedimos à psicóloga Lizandra que analisasse o estudo e ela destacou três áreas-chave em que os relacionamentos desempenham um papel crucial na nossa vida emocional e inconsciente.
- Conexão e pertencimento: “emocionalmente, relacionamentos próximos proporcionam uma sensação de pertencimento e segurança, fundamentais para o bem-estar”, diz Lizandra. Ou seja, sentir-se conectado aos outros reduz o estresse e promove a felicidade
- Validação e reconhecimento: inconscientemente, o reconhecimento recebido nas interações sociais reforça a autoestima e a autoconfiança. “Isso preenche uma necessidade humana básica de ser visto e valorizado”
- Regulação emocional: relacionamentos saudáveis atuam como reguladores emocionais, ajudando a equilibrar sentimentos negativos e a promover resiliência em momentos de dificuldade
“O que podemos aprender com o estudo de Harvard é que, enquanto buscamos sucesso profissional, estabilidade financeira e conquistas pessoais, é essencial não perder de vista a importância dos relacionamentos”, destaca a especialista.
Ela reforça que dedicar tempo para fortalecer os laços com amigos, familiares e a comunidade pode ser uma das melhores decisões que fazemos para garantir uma vida longa e feliz. “Mais do que nunca, em uma era em que a conexão digital muitas vezes substitui o contato humano, é crucial lembrarmos do valor dos encontros presenciais, das conversas significativas e do apoio mútuo”.
Afinal, a ciência prova: ao investirmos em nossas relações, estamos, na verdade, investindo em nossa saúde e felicidade em longo prazo. “O estudo nos mostra que a verdadeira riqueza não está nos bens materiais, mas nas pessoas com quem compartilhamos nossas vidas. E esse é um lembrete poderoso de que, ao final do dia, são os relacionamentos que realmente importam”.