Redatora de saúde e bem-estar, autora de reportagens sobre alimentação, família e estilo de vida.
Cada vez mais estudos demonstram os efeitos positivos que o café tem sobre a nossa saúde. Deixando de lado uma infinidade de mitos e lendas sobre a bebida, a verdade é que os pesquisadores estão cada vez mais certos sobre os benefícios do café, seja para partes específicas do corpo, para a concentração ou para a prática de esportes. No entanto, sabíamos relativamente pouco sobre como o café afeta o cérebro, embora estejamos cada vez mais perto de entender isso.
Uma recente revisão de estudos concluiu que a ingestão regular de café pode ter impacto sobre doenças como a demência ou o Alzheimer, por estar relacionado à carga amiloide cerebral.
A cafeína e o cérebro
Nos últimos anos, as pesquisas sobre o efeito da cafeína se concentraram em nossos cérebros. Há momentos em que os resultados são retumbantes – tanto positivos como negativos –, mas em outros casos, as pesquisas revelam que há um meio-termo.
Um exemplo é o estudo que analisou o efeito do café na tomada de decisões, neste caso, no futebol: os participantes foram mais precisos em passes curtos e longos após o consumo de cafeína, mas também mais erráticos quando se tratava de tomar decisões rápidas e impulsivas.
Estudos anteriores foram contraditórios, com resultados apontando para um nível mais alto de ansiedade decorrente da ingestão de cafeína, mas também sugerindo que ele pode ter ação protetora contra o Alzheimer. Em um estudo de 2023, foi observada uma relação inversa entre o consumo de café e o acúmulo de proteínas TAU, moléculas ligadas ao início do Alzheimer. A mesma relação inversa foi encontrada para a carga amiloide.
Embora estejamos perto de compreender a origem genética do Alzheimer, ainda não temos todas as respostas a respeito dessa doença, e qualquer sinal verde é uma esperança. Há algumas semanas, um grupo de pesquisadores publicou um estudo, na Alzheimer's Association, no qual tiveram como base um trabalho anterior onde foram avaliados 263 participantes com mais de 70 anos com comprometimento cognitivo leve ou com Alzheimer, entre 2010 e 2015.
No estudo original, os voluntários revelaram seus hábitos de consumo, que incluíam a ingestão de cafeína (proveniente do café ou de outras fontes). Para esse novo estudo, foram criados dois grupos: aqueles que consumiam uma média de pouco mais de 200 ml por dia, considerados “consumidores baixos”, e os “consumidores altos”, que eram aqueles que consumiam mais do que essa quantidade. Os pesquisadores também coletaram dados de exames de ressonância magnética, amostras de sangue e amostras de líquido cefalorraquidiano (LCR).
Qual foi a conclusão?
Eles concluíram que as pessoas com menor consumo de cafeína apresentavam marcadores associados a um risco maior de comprometimento cognitivo leve, inclusive comprometimento da memória. Especificamente, o grupo com baixo consumo de cafeína tinha quase 2,5 vezes mais chances de ter um diagnóstico de Alzheimer.
O que encontraram foi uma relação significativa entre o menor consumo de cafeína e níveis mais baixos da proteína beta-amiloide Aβ42 no LCR, bem como na relação Aβ42/Aβ40. Isso implica que há uma carga amiloide cerebral mais alta, sendo essa carga mais alta um dos biomarcadores para o diagnóstico do Alzheimer. No grupo que ingeriu mais cafeína, a carga de amiloide no cérebro foi menor.
Mas, são necessárias mais pesquisas
Embora os resultados sejam interessantes e certamente motivem mais pesquisas, há dois pontos importantes a serem observados sobre o estudo. O primeiro é que o consumo de cafeína a longo prazo não foi medido, o que é crucial para ver como o consumo do passado pode influenciar os efeitos atuais e futuros.
O segundo é que, embora a amostra fosse grande e tivesse muitos elementos para avaliar, este foi um estudo observacional, portanto, a causalidade não pode ser estabelecida de forma alguma.
Os próprios pesquisadores comentam que os estudos de longo prazo são necessários e, de fato, afirmam que os resultados os incentivaram a montar um ensaio clínico para medir com mais precisão o impacto da cafeína sobre a função cognitiva em pessoas com Alzheimer. Atualmente, o estudo está em processo de recrutamento e o objetivo será analisar a relação entre o consumo de cafeína e estes biomarcadores, como proteínas TAU e amiloides.
Pelo menos, com os resultados da observação de um estudo anterior, conseguimos dar origem a novas investigações mais específicas que, esperançosamente, nos darão mais informações, tanto sobre o Alzheimer como, sobretudo, sobre a relação entre o café e o nosso cérebro.
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