Graduada em Psicologia pela Universidade Bandeirante de São Paulo (UNIBAN), Lizandra Arita é psicóloga institucional e c...
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iCrianças que assumem grandes responsabilidades na infância podem, frequentemente, carregar para a vida adulta comportamentos moldados por essa experiência precoce, de acordo com a psicologia.
Ou seja, por terem que lidar com responsabilidades desde cedo, essas pessoas podem não conseguir, na vida adulta, se verem livres de padrões de ação que foram úteis para elas quando ainda eram pequenas.
De acordo com a psicóloga Lizandra Arita, da Clínica Mantelli, existe, inclusive, um comportamento específico muito comum na maioria dessas pessoas. Sabe qual é?
Responsabilidade na infância e dificuldade em delegar tarefas
Um dos principais desafios relatados por essas pessoas que tiveram muitas responsabilidades na infância é a dificuldade em delegar tarefas. Lizandra explica que, por aprenderem a confiar apenas em si mesmas, essas pessoas acreditam que os outros não são capazes de desempenhar as atividades com a mesma qualidade.
"Essas crianças, que cresceram assumindo grandes responsabilidades, muitas vezes se tornaram adultas que centralizam tarefas. Elas sentem que, para garantir um bom resultado, precisam fazer tudo sozinhas", afirma Lizandra.
Esse comportamento é comum em ambientes de trabalho, onde a pessoa prefere lidar com todas as etapas de um projeto em vez de confiar que os colegas possam executá-las com a mesma precisão.
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A dificuldade de delegar e a busca por controle
Pessoas que tiveram muita responsabilidade desde cedo podem ter crescido com a percepção de que erros não eram tolerados ou que as consequências do fracasso recaem exclusivamente sobre elas.
Esse pensamento cria uma dificuldade em confiar nos outros, seja em um ambiente familiar, social ou profissional. No ambiente de trabalho, essa dificuldade se manifesta quando essas pessoas assumem múltiplas funções e têm relutância em confiar tarefas aos colegas, o que acaba por causar estresse e fadiga.
"Elas acreditam que ninguém fará tão bem quanto elas mesmas, e isso gera um ciclo de controle que é desgastante", explica Lizandra. Ao mesmo tempo, essa centralização prejudica a colaboração e impede que outros desenvolvam suas habilidades, criando um ambiente de trabalho onde todos dependem de uma única pessoa.
Essa autossuficiência excessiva gera sobrecarga e, em longo prazo, pode comprometer a produtividade e o bem-estar. Inclusive, pode levar a desgaste e até a burnout, um sentimento de estresse e cansaço constantes relacionados ao trabalho.
No ambiente familiar e em casa, esse comportamento, também pode gerar uma sobrecarga emocional e física. Ao assumir todas as responsabilidades, essas pessoas acabam se esgotando e sentem frustração quando os outros não contribuem como esperam. Isso pode gerar conflitos, pois a falta de delegação cria um desequilíbrio, com uma pessoa sobrecarregada e os outros se sentindo excluídos ou incapazes.
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Outros comportamentos comuns
Além da dificuldade em delegar, pessoas que cresceram com responsabilidades precoces podem apresentar outros comportamentos marcantes, como aponta Lizandra Arita. A seguir, destacamos alguns deles.
Dificuldade para descansar sem culpa
"Pessoas que sempre tiveram que estar produtivas na infância podem sentir que descansar é uma perda de tempo", explica Lizandra. Mesmo em momentos de lazer, elas podem sentir que deveriam estar fazendo algo útil ou produtivo, o que pode levar ao esgotamento.
Autonomia excessiva e resistência a pedir ajuda
Por terem aprendido a lidar com problemas sozinhas desde cedo, essas pessoas tendem a ver o ato de pedir ajuda como um sinal de fraqueza. "Elas foram condicionadas a resolver tudo por conta própria e, na vida adulta, essa autonomia excessiva se transforma em um obstáculo, especialmente em situações em que estão sobrecarregadas, mas ainda assim resistem a pedir auxílio", comenta a psicóloga.
Tendência a priorizar os outros
Aqueles que cresceram assumindo responsabilidades por outras pessoas, como familiares, desenvolvem uma tendência a colocar as necessidades dos outros acima das suas próprias. "Elas continuam repetindo esse padrão de comportamento, mesmo quando isso prejudica seu bem-estar", alerta Lizandra. Esse comportamento, muitas vezes, leva à exaustão emocional, pois a pessoa está constantemente cuidando dos outros sem priorizar suas próprias necessidades.
Perfeccionismo
O perfeccionismo é outro traço que surge dessas experiências. "A necessidade de ser eficiente na infância muitas vezes se traduz em um padrão perfeccionista na vida adulta", aponta a psicóloga. Pessoas com essa característica estão sempre em busca de um desempenho impecável e raramente se sentem satisfeitas com seus resultados, acreditando que sempre poderiam ter feito mais.
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Como lidar com esses comportamentos?
Para aqueles que reconhecem esses padrões em si, a psicoterapia pode ser uma ferramenta essencial para desenvolver novas formas de lidar com as demandas da vida adulta. "A terapia ajuda a pessoa a entender suas origens e a aprender a confiar mais nos outros, além de trabalhar a autocompaixão e a capacidade de relaxar sem culpa", finaliza Lizandra.
Aprender a delegar, confiar nas habilidades de outras pessoas e estabelecer limites saudáveis são passos importantes para alcançar o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, garantindo mais qualidade de vida e menos estresse.