Médico oftalmologista autor e editor de 15 livros sobre catarata, cirurgia refrativa e administração em oftalmologia.&nb...
iQuem já assistiu ao filme Ensaio sobre a Cegueira do cineasta Fernando Meirelles sai do cinema impactado de várias maneiras. O filme começa num ritmo acelerado, com um homem que perde a visão de um instante para o outro enquanto dirige de casa para o trabalho e que mergulha em uma espécie de névoa leitosa. Após este primeiro episódio, uma a uma, cada pessoa com quem ele se encontra - sua esposa, seu médico, até mesmo o aparentemente bom samaritano que lhe oferece carona para casa - terá o mesmo destino. Na medida em que a doença se espalha, o pânico e a paranóia contagiam a cidade. As novas vítimas da "cegueira branca" são cercadas e colocadas em quarentena num hospício caindo aos pedaços, onde qualquer semelhança com a vida cotidiana começa a desaparecer...
Nos consultórios oftalmológicos, a pergunta mais freqüente ouvida pelos médicos, após a estréia do filme, é se os casos de cegueira súbita são comuns. Qualquer um pode ser acometido pela súbita falta de visão em meio ao caótico trânsito de São Paulo? , questionam os pacientes. Quando a visão diminui ou desaparece nos dois olhos, ao mesmo tempo, como no filme Ensaio Sobre Cegueira, os motivos são, na maioria das vezes, de ordem neurológica. O olho é uma extensão do sistema nervoso central. Um quadro neurológico agudo pode ocasionar cegueira súbita. Entre os problemas neurológicos, a enxaqueca é uma das causas mais comuns. Algumas enxaquecas podem causar cegueira transitória. Nestes casos, passada a cefaléia, a visão se normaliza. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Cefaléia, a enxaqueca com aura - alterações de visão - acomete de 10% a 15% dos pacientes, e os casos de cegueira parcial são raros. Os de cegueira total, então, são raríssimos.
Além das enxaquecas, algumas doenças sistêmicas também podem levar à perda de visão. Pacientes que sofrem de hipertensão arterial e que apresentam colesterol alto são mais propensos à baixa de visão, que pode ser repentina e total. Uma queixa comum dos pacientes hipertensos é o aparecimento de moscas volantes, que podem ser descritas como pontos pretos, manchas escurecidas ou fios que se assemelham às teias de aranha, observados principalmente quando o paciente olha para uma parede branca ou para o céu claro.
No caso das doenças sistêmicas, o diabetes também é fator de risco, pois afeta a retina, e pode deteriorar a visão da noite para o dia. Uma das mais sérias comorbidades do diabetes é a retinopatia diabética, caracterizada por alterações vasculares, lesões que aparecem na retina, podendo causar pequenos sangramentos e a perda da acuidade visual.
Pacientes que apresentam miopia alta que usam lentes corretivas com mais de dez graus também têm maior predisposição para a cegueira súbita, mas neste caso, é possível prevenir o problema. É preciso fazer rotineiramente um exame de retina.
Além dos fatores já citados, outras razões podem provocar a perda de visão subitamente, como inflamações do nervo óptico, das meninges, deslocamento de retina, obstrução de veias e artérias ligadas ao globo ocular e o glaucoma. A cegueira súbita acontece com mais freqüência em apenas um olho. E em muitos desses casos, o paciente pode não perceber claramente a baixa de visão.
Dr. Virgilio Centurion é oftalmologista, diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares.
Para saber mais, acesse: www.imo.com.br