Médico oftalmologista autor e editor de 15 livros sobre catarata, cirurgia refrativa e administração em oftalmologia.&nb...
iCulturalmente, o brasileiro só vai ao médico, se estiver com muita dor ou em casos de emergência. Ou seja, tarde demais! Primeiro recorre a parentes, vizinhos e amigos, faz uso de remédios caseiros, de simpatias e da automedicação para adiar a ida a um especialista. Atuar nas conseqüências do adoecimento é pouco efetivo, tardio e, muitas vezes, mais dispendioso. A prevenção de doenças é muito pouco difundida junto à população
Agir preventivamente em relação à saúde tem o objetivo de impedir o adoecimento. A população pode e deve aprender a viver melhor, produtivamente e gozando de boa saúde, desde a infância até a idade mais avançada. Para isto, é preciso difundir a cultura da prevenção: o paradigma do século 21 é a opção pelo cuidado da saúde e não das doenças.
Trabalhando pela prevenção
No berço...
Logo ao nascer, o bebê deve ser submetido ao teste do olhinho vermelho. O teste do olhinho ainda é um procedimento pouco conhecido da população, mas é capaz de detectar uma série de problemas de visão em bebês e complicações que podem levar até à cegueira.
Para realizá-lo, o oftalmologista aponta um foco de luz em cada um dos olhos do recém-nascido para observar o reflexo que se forma no fundo das pupilas o mesmo que costuma aparecer nas fotos quando se olha diretamente para a luz do flash. Podem ser detectados por meio do procedimento tumores, catarata congênita, traumas de parto e erros de refração: miopia, hipermetropia e astigmatismo.
O diagnóstico precoce de doenças oculares que só seriam percebidas mais tarde, quando as chances de tratamento já estariam limitadas é o grande mérito do teste do olhinho. No caso da catarata congênita, o bebê deve ser submetido a uma cirurgia antes do segundo mês de vida, quando as chances de recuperação da visão chegam a 100%.
Outra moléstia que pode ser detectada pelo teste do olhinho é o glaucoma congênito, que se caracteriza pelo aumento da pressão no interior do globo ocular. Neste caso, o bebê precisa ser submetido a uma cirurgia de urgência para evitar que o olho atingido seja permanentemente lesado.
O retinoblastoma, tumor maligno que pode ser curado se o diagnóstico for precoce, é outra doença que pode ser diagnosticada por meio do teste. Segundo a Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer, 400 novos casos da doença são registrados por ano no Brasil. Originário das células da retina, o retinoblastoma é causado por mutação genética. O problema costuma dar seus primeiros sinais entre o nascimento e os 23 meses de vida da criança. Detectado precocemente, o retinoblastoma tem tratamento e o bebê terá a visão poupada, após a realização da quimioterapia ou da radioterapia.
Na fase escolar
Ao iniciar a vida escolar é preciso que pais e professores fiquem atentos aos problemas de visão na criança, pois o processo de ensino-aprendizagem depende primordialmente da visão. Na verdade, o ideal é fazer um exame oftalmológico completo, dando ênfase ao diagnóstico de vícios de refração - miopia, hipermetropia e astigmatismo - todo início de ano letivo.
O exame de motilidade ocular também é muito importante, pois detecta o potencial de mobilidade da musculatura do olho: se existe limitação à movimentação, incoordenação; dessincromia ocasionando visão dupla, dores de cabeça ou ainda a presença de doenças oculares, endócrinas ou cerebrais. A avaliação da motilidade ocular é realizada através do oclusor manual ou do reflexo luminoso corneal, solicitando que o paciente fixe o olhar num ponto. Assim pode ser verificado o desvio dos olhos para perto ou para longe. Por meio deste exame, o oftalmologista pode diagnosticar o estrabismo.
É também na fase escolar que deve ser iniciada a realização do exame de fundo de olho, região que fica entre o cristalino e a retina. O procedimento pode identificar doenças sérias como tumores e problemas vasculares. Qualquer alteração nessa área pode apontar um desequilíbrio no corpo. Para observá-la é usada uma lente especial, que aumenta a imagem diversas vezes. O exame completo só pode ser feito com a pupila dilatada
Analisando os vasos sangüíneos do fundo do olho, o oftalmologista pode detectar problemas de pressão e de colesterol. O exame pode ainda identificar diabetes, leucemia, inflamações reumáticas, tuberculose, toxoplasmose e desequilíbrios da tiróide. O exame de fundo do olho não se caracteriza como um exame preventivo, pois quando um sintoma aparece no olho, com certeza já existe uma doença instalada no organismo. Sua função principal é ajudar no diagnóstico de doenças que, às vezes, não foram percebidas pelo paciente nem por outros médicos.
Na idade adulta e na terceira idade
Além dos periódicos exames de refração e de motilidade ocular, quando a idade avança é necessário também a realização do exame de fundo de olho com mapeamento da retina. Este exame visa o estudo de toda a superfície retiniana, em particular da região periférica, que não pode ser observada pela oftalmoscopia convencional. É muito útil no diagnóstico e caracterização do descolamento de retina, da retinopatia diabética, das uveítes e de diversas retinopatias.
Outro exame preventivo importante, apontado pelo oftalmologista, é a biomicroscopia do segmento anterior. Esta avaliação é fundamental para a detecção precoce da presença, localização, extensão das opacidades cristalinianas, para a revelação de possíveis fragilidades de zônula e/ou ectopia ou luxação do cristalino, sinais de inflamação intra-ocular e ainda para a avaliação da higidez da córnea, íris e ângulo da câmara anterior do olho
A tonometria é também apontada como um exame essencial, pois é capaz de rastrear o aparecimento do glaucoma. Ao medir a pressão ocular, por meio do tonômetro, o oftalmologista pode detectar a presença de hipertensão ocular, que pode ou não ser diagnosticado como glaucoma, de acordo com a alteração ou não do campo visual e da papila óptica.
O que você deve ter em mente?
Que um exame ocular de rotina é útil para:
1. Fazer a anamnese das queixas atuais e do histórico familiar do paciente;
2. Verificar a acuidade visual;
3. Examinar a motilidade ocular;
4. Observar o fundo do olho;
5. Medir a pressão intra-ocular;
6. Diagnosticar vícios de refração.
Virgilio Centurion é oftalmologista, diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares.