Com formação em Psicologia pela Universidade Paulista, especializou-se em Psicogeriatria na Universidade Federal do Rio...
iEm nome de uma brincadeira de adolescentes, jovens cometem violências e, muitas vezes, crimes. Além de não serem responsabilizados pelos seus atos, são até mesmo encorajados a fazê-los através do silêncio ou apoio familiar.
Os fatores que instalam e mantém essa violência são muitos e complexos. Desde a perda da autoridade paterna e a dificuldade de diálogo, passando pela alienação da escola, até a violência urbana. Mas, não podemos negar que uma boa parte desse problema se origina dentro de casa.
O pior e o melhor da natureza humana coexistem dentro de cada um de nós. Os sentimentos mais primários (ódio, inveja) convivem com os mais elevados (solidariedade, lealdade, compaixão). O que determina o caminho que essas potencialidades vão tomar são as possibilidades de transformação dos impulsos primários e a existência de canais adequados para dar vazão a eles.
Cabe à família e à escola ajudar a criança a transformar os impulsos em comportamentos aceitáveis. E cabe a sociedade oferecer canais que direcionem esse fluxo a objetivos elevados.
O problema com a passagem dos parâmetros morais é que nossa crença nos valores se dá em termos abstratos, mas sua transmissão se faz nas miudezas do cotidiano - e muitos de nossos atos desmentem nossas palavras.
Os pais dizem aos seus filhos que devem ser íntegros, mas trapaceiam nos jogos para deixá-los ganhar sob o pretexto de estimular a auto-estima da criança. Com isso, ensinam que só tem boa auto-estima quem ganha. Ensinam também que trapacear é válido.
Muitos pais confundem violência com capacidade de liderança: o filho rebelde "sabe o que quer", "tem personalidade". Outros ainda utilizam a força para punir ou coagir sem se dar conta de que, independentemente da intenção ou intensidade do castigo físico, ao dar um tapa numa criança, um adulto ensina que a violência é uma forma legítima de resolver um problema.
Alguns pais, por não tolerarem a frustração dos filhos, não colocam limites claros e coerentes. Esquecem que a frustração é parte da vida. Crianças que não aprendem a lidar com a frustração tornam-se impacientes e birrentas e tendem a transformar-se em adolescentes insatisfeitos, que não suportam o adiamento das satisfações.
A escola tem um papel importante. Cabe a ela traduzir as normas que regem o convívio humano e a bagagem cultural acumulada ao longo das gerações de modo que a criança possa compreendê-las e utilizá-las. Pelo professor passa mais do que informação, com base em sua postura em sala de aula, os alunos absorvem seu código de ética.
Mas a responsabilidade da escola vai além: tudo o que se passa dentro de seus muros está sob seus cuidados. Apelidos maldosos e brincadeiras embaraçosas são exemplos de situações que acabam por transformar o ambiente escolar num palco de agressões. O professor, mesmo sem perceber, pode funcionar como aliado dos alunos mais agressivos e ser conivente com a humilhação dos mais retraídos.
Sua manifestação mais extremada é o bullying (prática violenta em que um aluno se torna alvo de chacotas e agressões de colegas de modo recorrente), mas esse comportamento era ignorado ou desvalorizado pelos professores e pais até que pesquisas revelaram as graves conseqüências que acarreta para as vítimas, os agressores e as testemunhas.
Os agressores impõem-se por meio da violência, e sua liderança sobre os colegas é garantida pelo medo. Se nada for feito para mudar a trajetória, serão adultos impulsivos, com comportamentos anti-sociais. Se os jovens acreditarem que não têm nada a ver com o que acontece à sua volta, perderemos a chance de ter um mundo melhor.
Casos de adolescentes agressores ou agredidos chegam aos consultórios de psicanálise quando o problema já está instalado e as conseqüências são graves. Dificilmente os pais (ou por indicação da escola) buscam ajuda desde os primeiros sinais de violência. Aqui também são muitos os fatores que dificultam essa busca, como negação do problema, medo do julgamento pelo profissional, onipotência em relação a resolver sozinho questões complexas, ausência de valorização sobre o ocorrido, entre muitas outras. A busca por um atendimento psicológico adequado é importante para que as conseqüências do Bullying sejam minimizadas.
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