Um estudo realizado recentemente pelo Instituto do Coração (Incor) chegou a uma conclusão alarmante: 21 mil paulistanos podem ser vítimas de morte súbita este ano, caso não sejam diagnosticados e tratados a tempo. Sendo que este número pode chegar a 212 mil para todo o Brasil.
Mas afinal, como saber se alguém foi vítima da morte súbita ou corre este risco? "O que caracteriza a morte súbita é o óbito durante, no máximo, as primeiras 24 horas do início dos sintomas, segundo a definição da OMS", explica o cardiologista Fernando Cruz, do Instituto Nacional de Cardiologia e autor do livro Morte Súbita no Novo Milênio.
Em geral, as vítimas são encontradas já falecidas, o que dificulta a descoberta de causa da morte. Também por essa definição são excluídos os eventos traumáticos, tais como acidentes de qualquer tipo. Costuma-se usar o termo morte súbita cardíaca, o que exclui outras causas de morte súbita como AVCs, embolia pulmonar e dissecção aórtica (quando a aorta sofre uma espécie de rasgo).
As causas
A principal causa de morte súbita são problemas cardiovasculares, como infarto, AVC e parada cardiorrespiratória. As arritmias cardíacas respondem por 90% dos casos, segundo o estudo do Incor. Pessoas que têm doenças que levam a problemas nos músculos cardíacos, ou que tenham hipertensão (que leva a uma hipertrofia do coração), doenças inflamatórias, displasias, entre outros, podem estar no grupo de risco para a morte súbita.
Dentre as cardiopatias citadas, algumas podem ser adquiridas geneticamente, que fazem com que o "sistema elétrico" do coração (as bombas de cálcio, sódio e potássio) não funcione. Uma das doenças que pode ser observadas em crianças é a Síndrome do QT Longo (SQTL). O diagnóstico é feito a partir de exames, além de relatos de morte súbita em membros da família com idade inferior a 30 anos e surtos de síncope (perda da consciência) relacionada ao estresse, atividade física ou ao acordar.
Também não é rara a descrição da chamada morte súbita infantil, quando o recém-nascido é encontrado em parada cardiorrespiratória ou já falecido no berço. "Praticamente não existem mortes por asfixia de bebês no berço, em geral, elas estão associadas a eventos de morte súbita, pois os bebês se viram quando se sentem sufocados", explica o cardiologista.
Muitos casos de morte súbita também ocorrem no esporte. Garotos de aproximadamente 20 anos morrem de parada cardíaca, em geral, durante os treinos e jogos. "Isso ocorre na maioria da vezes pela falta de acompanhamento médico ou indisciplina dos atletas", diz Fernando Cruz. "Muitos são diagnosticados com problemas cardíacos, mas optam por continuar treinando." Nas academias e entre os "atletas de finais de semana", a morte súbita também pode ocorrer.
As drogas também representam um risco para a morte súbita. Drogas como a cocaína, heroína e crack, por exemplo, podem gerar espasmos e arritmias malignas no coração. "É como se houvesse um infarto sem a obstrução da artéria", explica o cardiologista. Alguns medicamentos, como anti-histamínicos e antibióticos, também podem piorar o quadro de quem possui doenças do coração.
Dá para prevenir
A morte súbita é repentina, mas até esse mal é passível de prevenção. Exames de eletrocardiograma devem obrigatoriamente entrar na sua rotina, além de observar quadros genéticos. "Há famílias que tiveram até 11 casos de morte súbita entre os membros, ou seja, o fator hereditário pode pesar bastante", diz Fernando Cruz.
Um método muito utilizado para o tratamento das arritmias permite curar uma grande variedade delas sem a necessidade de cirurgia. Os focos das arritmias são eliminados através da aplicação de energia de radiofrequência por meio de um eletrodo controlado por computador. Outro grande avanço no auxílio aos pacientes que sofrem de arritmias cardíacas são os ressincronizadores cardíacos, ou seja, marcapassos especiais que promovem a estimulação sequencial do coração em vários pontos, sincronizando as paredes cardíacas e evitando uma parada súbita.
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