Tudo vai bem até que chega a hora de se apresentar em público ou de se relacionar com uma turma maior do que a de costume.
Você começa a suar frio e a primeira reação que lhe vem a cabeça é fugir daquela situação, afinal, mais uma tentativa se esgotou e você não conseguiu vencer esse medo inexplicável que chega sem avisar.
Para quem não sofre com o problema, é apenas mais um caso de timidez aguda, mas para quem vive o dilema, é uma angústia que parece não ter fim.
A fobia social é uma síndrome que se caracteriza pela dificuldade excessiva de conviver em sociedade e pelo medo aparentemente inexplicável de se expressar em público.
De origens ainda desconhecidas, a doença acomete crianças e adultos e impede o desenvolvimento social das pessoas causando sofrimento e dor, que pode se manifestar através de reações físicas. "Quando sabem que passarão por alguma situação em que terão que se expor em público, alguns pacientes reagem instintivamente, roendo unhas, fumando descompassadamente ou até mordendo os lábios e se beliscando. É o jeito que encontram de se refugiar daquela situação limite", explica a coordenadora do Projeto Transtornos do Espectro Obsessivo Compulsivo (Protoc), Christina Gonzalez, da Unifesp.
Medo persistente de que?
Geralmente, quem tem fobia social sofre com o medo do julgamento dos outros e de sua própria autocrítica, que os impede de ao menos tentar se relacionar com alguém. Acha que não faz nada certo e que todo mundo percebe isso apenas de olhá-la, daí o pânico diante de situações públicas.
Para Christina Gonzalez, um dos sintomas mais marcantes da síndrome é esse medo persistente e acentuado do que os outros vão pensar.
O primeiro passo para se livrar do problema, ou ao menos controlá-lo, é acabar com a própria autocrítica: "todos nós cometemos erros na vida, isso faz parte do nosso crescimento. Não dá para evitar o contato com o próximo com medo de errar. As relações saudáveis devem ser construídas inclusive na base da tolerância ao erro e da aceitação das pessoas como elas são. Sem isso, fica difícil manter laços afetivos", explica Christina.
Nem tudo parece uma ameaça
Ao contrário do que muita gente pensa, quem sofre com fobia social nem sempre foge de todas as situações que envolvem exposição ao público.
Existem casos, como explica a especialista da Unifesp, em que a pessoa tem medo apenas de determinadas situações, como assinar um cheque em público, por exemplo, e casos mais graves em que até um curto diálogo com alguém desconhecido no ponto de ônibus causa pânico.
"Nem todo caso é crônico e, mesmo quando é desta natureza, pode se manifestar de diversas formas. Em geral, o medo está associado à exposição pública, seja durante um seminário, numa festa ou no trabalho, mas cada um reage de um jeito. O fato é que a pessoa pode ter medo apenas de uma situação específica ou de todas, só ela poderá dizer."
Problema detectado
Uma das grandes problemas da fobia social é que a pessoa que vive esta situação sabe que tem um problema e sofre por achar que ela é culpada por ele.
A estudante Glaucia Torres sabe bem como é conviver com o medo do outro. Aos 22 anos, ela deixou emprego e diversos cursos por não conseguir se relacionar com ninguém e hoje, tenta se livrar do problema que para ela ainda não tem uma causa definida: "não sei por que fiquei assim. Eu morava no interior em um lugar onde convivia apenas com pessoas próximas. Quando cheguei a São Paulo, comecei a perceber que todas as vezes em que eu tentava conversar com alguém desconhecido ou me via em lugares movimentados, me batia um desespero muito grande e eu achava que estava todo mundo me olhando, me julgando. Era muito doloroso", explica a estudante.
"Passei anos achando que o problema era comigo, que eu era chata, não tinha competência para trabalhar e resolvi me isolar. Foi então que percebi que esta 'incapacidade' de me relacionar me fazia sofrer e procurei ajuda", continua.
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Causa genética
Segundo a psiquiatra Christina Gonzalez, as causas para o problema ainda são desconhecidas, mas existem indícios de que a herança genética pode explicar a ocorrência de alguns casos: "Percebemos que há uma maior incidência da doença em pessoas que têm histórico familiar, ou seja, parentes que já desenvolveram algum tipo de transtorno, mas isso não é uma regra", diz Christina.
Existem outros fatores que podem explicar a síndrome, mas isso depende muito da experiência de vida de cada um. Pode ser um trauma de infância, uma perda, uma mudança brusca ou ainda uma causa desconhecida.
Psicoterapia comportamental x psicólogos
Quando o assunto é o tratamento adequado para a síndrome, a psiquiatra alerta para os perigos da escolha errada. Segundo ela, a melhor opção é a terapia comportamental que deve envolver sessões de terapia associadas e , dependendo do caso, a indicação de medicamentos que controlam a ansiedade: "a terapia comportamental tem resultados comprovados. Muitos pacientes desistem de se tratar por que se desiludiram com a terapia errada e acabam piorando muito achando que seu caso é tão grave que nem os médicos conseguem resolver e não é bem assim", alerta a psiquiatra.
"Em geral, um bom tratamento se dá em duas frentes: uma com a terapia e a outra com medicamentos, porém, isso pode variar de acordo com cada caso. O ideal é procurar um psiquiatra e seguir o tratamento até o final. Infelizmente, não há cura do problema, mas se o paciente se dedicar, pode recuperar a qualidade de vida e ser feliz".