Há bem pouco tempo, para muitos falar sobre infertilidade, principalmente masculina, ainda era um tabu. Mas, os avanços...
iA mudança social e comportamental está fazendo com que a mulher engravide mais tarde. Como consequência, maior é a dificuldade de obter a gestação.
Em virtude disso, cresce o número de casais que buscam o auxílio das técnicas de reprodução, cujo "principal efeito colateral negativo" é a multiparidade (ter mais de um parto).
Com os constantes avanços da medicina reprodutiva, um dos principais desafios dos especialistas em reprodução humana tem sido descobrir uma forma de reduzir a incidência de gêmeos, sem comprometer o sucesso do tratamento.
Gestação múltipla: uma epidemia
A gestação múltipla deve ser evitada pelos especialistas, não só como indicação médica, mas, principalmente, como obrigação ética e moral perante os casais que tratamos.
As técnicas de reprodução assistida estão cada vez mais incidentes e empregadas onde esta tecnologia é mais acessível. Na Dinamarca, por exemplo, cerca de 5% de todas as crianças nascidas são provenientes destes tratamentos.
Logo, a transferência de um único embrião selecionado para o útero(eletive single embryo transfer) está cada vez mais sendo empregada, principalmente na Europa.
O primeiro país a adotar a transferência única foi a Finlândia, seguida pela Suécia. Porém foi a Bélgica que, através de um projeto governamental regulamentado em primeiro de janeiro de 2003, referendou a transferência de um único embrião nos dois primeiros ciclos de fertilização, e de no máximo dois até o sexto ciclo de tentativa, especialmente às mulheres com menos de 35 anos.
A meu ver, medida bastante lógica, uma vez que diminui significativamente o número de gêmeos e erradica os trigêmeos. Além de ser muito melhor para as crianças nascidas, é altamente benéfico aos casais.
Sem contar que é muito mais barato para o governo pagar mais ciclos de fertilização do que manter bebês prematuros nas UTIs ou, ainda, custear as complicações futuras advindas da prematuridade.
Situação no Brasil
Infelizmente, não temos medidas semelhantes aqui no Brasil. Contamos com o bom senso e discernimento dos profissionais que trabalham com a reprodução assistida.
Calcula-se que 15% das crianças nascidas como únicas através das técnicas de reprodução assistida participaram desta situação. Para que isto ocorresse, um dos fetos não foi viável, desaparencendo em algum momento de seu desenvolvimento.
Quanto mais tardio é este desaparecimento, pior são as consequências para o feto que continuou no útero. A principal complicação pode ser a paralisia cerebral, patologia não tratável e de consequências desastrosas à criança e à família.
Sabemos que há um aumento de 40 vezes no risco de paralisia cerebral para o bebê remanescente - quando o outro feto desaparece no terceiro trimestre de gestação.
Nos casos de fertilização in vitro, o desaparecimento ocorre nas fases iniciais de gestação, levando a um aumento de 80% para a ocorrência da paralisia cerebral para o feto remanescente.
Quanto mais velha for a mãe ao ter seu primeiro filho, maior a probabilidade. Por todas estas complicações nós profissionais da medicina reprodutiva devemos procurar, cada vez mais, adotar medidas eficientes que possam melhorar a qualidade do embrião, de maneira que possa ser transferido o menor número possível, sem prejudicar as possibilidades de gestação.
Ter sucesso não é conseguir a gravidez do casal, mas sim fazer com que este casal consiga ter um bebê sadio, após os nove meses de gestação.
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