Xi, isso é psicólogico. Com certeza você já escutou essa frase, dita quando nenhum motivo aparente parece justificar est...
iEsse texto surgiu por conta de uma demanda enorme de dúvidas que recebi de internautas sobre ser amante, ter amante ou mesmo ser vítima de um amante. Num primeiro momento, vem à mente a imagem da "femme fatale", aquela mulher sem escrúpulos que inferniza e atormenta a vida de casais felizes. Apesar da minha intimidade em lidar e me envolver com questões ligadas à sexualidade, confesso que fiquei um tanto perdida, pois idéias e verdades absolutas (e outras nem tanto como veremos) me assaltaram e percebo que isso ocorreu por conta da mudança da sociedade, do papel e dos anseios da mulher. Desde já ressalto que me restringirei apenas às amantes mulheres. Mas isso não quer dizer que a recíproca não seja verdadeira nesse momento de igualdade sexual. Admito que ainda há homens que se satisfazem em se relacionar com mulheres comprometidas, seja por amor, comodismo, opção ou ânsia de preservarem sua individualidade e liberdade, como muitos pensam.Mas como eu dizia vou tentar dissecar um pouco esse papel tão malvisto, perseguido, vilipendiado, porém presente nas melhores famílias e também naquelas acima de qualquer suspeita. Porque o fato de se apaixonar, se interessar ou mesmo desejar uma pessoa foge totalmente do controle racional.
Não quero aqui fazer uma apologia do adultério e da traição. E sim enxergar sem falso moralismo uma prática que existe e, na maioria das vezes, quando descoberta é vivenciada com a força de um furacão destruidor e, na medida em que discutimos, dissecamos e trazemos à baila da razão, podemos até auxiliar casais que estão à beira do precipício por conta dessa situação. Na terapia de casal não é raro deparar com a amante principalmente como um sintoma do casamento ou do momento de individualidade de seus membros. Questões que se bem trabalhadas pelo casal, caso necessário com ajuda terapêutica, podem resultar num desfecho surpreendente, quer unindo de vez o casal ou separando se essa for a melhor solução. Mas com uma compreensão realista da vivência que diminui e muito as dores que, sem dúvida, vêm no rastro dessa situação. Na maioria dos casos, ainda se vê o modelo antigo e arcaico de se ter uma amante para perpetuar o poder do macho no sentido de posse ou para exercer na realidade a fantasia do sultão em seu harém. Claro que os motivos diferem de acordo com a história pessoal e até da camada social. Aqui eu gostaria de falar da mulher que antigamente seria a ´teúda´ e ´manteúda´. Mas isso mudou e, apesar da motivação masculina não ter mudado muito, a da mulher ganhou contornos mais independentes. Ela pode ter a limitação do romance escondido, mas apesar disso, cultiva de forma especial uma vida própria com suas amizades sem que o investimento na relação secreta as deixe solitárias e excluídas da sociedade como no modelo tradicional das mulheres que por amor, carência ou modo de vida subjugavam-se ao ´sexo-poder´. Como repercutem ainda na criação e nas experiências familiares, muitas moças preferem o modelo de relacionamento da esposa subordinada ao marido para se preservarem donas da sua própria vida. Também existe uma exacerbação do romantismo e do amor de perdição que numa determinada fase da vida fazem com que o homem proibido ou impossível seja o que mais satisfaça. É verdade que apesar disso o modelo da amante ameaçadora que telefona e faz chantagem ainda existe. Mas isso ocorre na minoria dos casos, pois em sã consciência fugir da pseudo- prisão do casamento e cair numa arapuca dessa ninguém merece! Contudo, infelizmente ainda se vê isso e neste caso quem mais procura apoio psicológico são as vítimas dessa situação: maridos e esposas, traídos e traidores, ficam perdidos quando isso ocorre. As mil facetas do adultério e da traição são difíceis de serem descritas, porém o que vale aqui é chamar a atenção para essa vivência que, por inúmeros motivos intrapsíquicos, são fomentadas e quando as pessoas se dão conta estão vivendo num carrossel de emoções. A princípio, pode ser agradável pela descarga de adrenalina, mas com o amadurecimento esperado das relações, essas emoções ou sucumbem ou geram grande dor e sentimento de desvalia. Portanto vale analisar com carinho e sem paixão a motivação que leva as pessoas a se envolverem em relacionamentos que trazem pouca contribuição ao desenvolvimento pessoal. Com medo de ser tachada de moralista, explico que é uma relação pela metade, assim como a esposa também o é na grande maioria dos casamentos. Essa dicotomia aparece em razão da polarização dos papéis de esposa e amante. Do lado da esposa existem as preocupações e obrigações; do lado da amante, o prazer sexual e as conversas interessantes. Isso tudo numa busca incondicional de dois valores fundamentais: a preservação da liberdade e o bom relacionamento sexual. Diferente do que possa parecer, o papel da amante com a possibilidade de ser sujeito, escolher, optar e ser independente fica nula, pois a amante submete-se, na maioria das vezes, a um papel passivo e até humilhante. Fica sempre à espera do parceiro e não é assumida na sua completude, sendo parcialmente companheira com muitas limitações. Provoco mais uma reflexão: os amantes escolhem ou apenas se conformam com esse tipo de relacionamento? Numa época em que não se aceita mais ser metade não valeria a pena rever conceitos e necessidades para que as buscas fossem coerentes? Sei que sou romântica nessa leitura da possibilidade de acabar com as mazelas ou imperfeições. Mas, como diria o poeta, tudo vale a pena se a alma não é pequena.