Sylvia Sabbato vai além da análise do comportamento para buscar entender os anseios de quem não consegue encontrar as re...
iAs relações humanas andam cada vez mais escassas. Paradoxalmente, nunca houve um momento na história em que tivéssemos tanto acesso à comunicação. A tecnologia hoje nos permite contato com qualquer país a qualquer momento do dia ou da noite. Mas relacionar-se é bem mais que manter qualquer forma de comunicação com o outro. É uma espécie de entrega por meio dos órgãos dos sentidos. É doar seu coração e sua mente ao outro e esperar o mesmo dele. Nisso se inclui toda forma de relação: a profissional, a amorosa, a social, a familiar.
O principal requisito para que consigamos adentrar esse mundo de troca é estarmos inteiros ou integrados a nós mesmos. Ao aprofundarmos o autoconhecimento, conhecermos quem somos, nossos anseios, nossas faltas, nossas alegrias, acabamos encontrando o substrato do humano, sendo mais fácil e mais natural alcançar o humano no outro lado da relação.
Uma grande dica para que isso aconteça é, antes de iniciarmos um diálogo com o outro, nos questionarmos: "o que eu preciso do outro?", "o que eu realmente quero neste momento?". Ao respondermos a estas questões, estamos simultaneamente entrando em contato com nossa própria falta (autoconhecimento) e abrindo ao outro uma janela de possibilidade para que se estabeleça uma relação autêntica. Uma troca que nos alimenta em nossa real necessidade e alimenta o outro em sua qualidade de doador.
Ora, mas você poderia perguntar: "mas se eu disser ao outro que preciso dele ou de algo que pode me dar, não estarei me tornando vulnerável, rebaixado, expondo minhas fraquezas?". Sim! Você está sim expondo uma falta, uma necessidade. E pelo orgulho também inerente à raça humana é que é tão difícil essa exposição. Mas sem ela, não há como sabermos a necessidade e nem a obtenção do nosso desejo.
Se o orgulho prevalecer, há o grande de ocorrerem manipulações. Acabamos dizendo ou fazendo coisas para que o outro diga ou faça algo que queremos. Qualquer um que esteja do outro lado se sente manipulado, ainda que a sensação não seja consciente. E age futuramente da mesma forma. Ou seja, manipulando. Aí sim está encerrada qualquer possibilidade da relação autêntica.
Ao passo que, se utilizarmos a primeira pessoa do singular em qualquer diálogo, estaremos oferecendo a oportunidade ao outro de abrir a carcaça do orgulho e nos emprestar os ouvidos da alma. É dizer: "eu sinto muito a sua falta", ao invés de "você só quer saber dos seus amigos". A primeira frase expõe nossa falta e nosso desejo. A segunda é uma acusação, uma cobrança. Ninguém gosta de ser acusado ou cobrado, mas todos gostam de ser desejados e queridos.
Nada mais engrandecedor e corajoso do que poder admitir e encarar nossa própria imperfeição e incompletude. Por isso, é muito importante que saibamos nossas reais necessidades, nossas faltas e anseios. É assim que nos tornamos inteiros e aptos para estarmos em relação.