Doutor em cardiologia pela Universidade Federal de São Paulo / Escola Paulista de Medicina, tem título de especialista e...
iHoje falarei sobre infarto e angina. O coração recebe sangue por meio das veias e bombeia de volta para o corpo e pulmões pelas artérias. Mas o músculo do coração, o miocárdio, não consegue aproveitar o sangue que recebe do corpo para sua nutrição. Uma pequena parte do sangue oxigenado que o ventrículo bombeia para o corpo vai para as artérias coronárias, que caminham por cima do miocárdio e o alimentam. Então, a nutrição do miocárdio depende do sangue que flui por meio das artérias coronárias. Se existe algum estreitamento nas coronárias, o fluxo de sangue que alimenta o miocárdio diminui. O paciente sente mais essa deficiência de sangue (e, quando falamos de sangue, falamos do oxigênio que é carregado no sangue) quando mais ele precisa: quando faz esforço ou quando o coração acelera.
As coronárias acumulam gordura em placas, que se aglomeram ao longo da vida. Apesar de muitos dos mecanismos não serem conhecidos e do papel da herança genética ainda ser subvalorizado, sabemos que dieta, sedentarismo e algumas doenças mal controladas, como hipertensão e diabetes, favorecem a formação e crescimento destas placas.
A artéria com placas não consegue dilatar e permitir passagem de oxigênio quando o músculo mais precisa, levando ao sofrimento do músculo e dor no peito. Como várias terminações nervosas que se entrelaçam e se misturam trazem a sensação de dor do coração para o cérebro, essa dor cardíaca pode ser sentida desde a mandíbula até o umbigo. Pode simular dor no estômago, dor nas costas - ou nenhuma dor, se manifestando apenas como falta de ar (dispneia).
Essa dor no peito, geralmente mal delimitada, que piora com esforço e melhora com repouso, duração curta, pode ser angina. A angina é a dor no peito pelo sofrimento do músculo que não consegue "respirar". A placa pode ser estável, e o paciente apresentar a dor sempre após executar o mesmo nível de esforço.
Infarto
A angina pode modificar suas características, apresentando piora progressiva cada vez com mesmos esforços - o que significa que cada vez menos sangue passa pela coronária doente. Ou a placa pode romper de repente, e toda gordura e células mortas caem na circulação, gerando atividade inflamatória local, aglomeração de plaquetas e fibrina e oclusão total e sofrimento grave do músculo (que não recebe sangue nenhum). A isso chamamos infarto, que apresenta dor semelhante à da angina, mas que não melhora, geralmente associada a sintomas de sudorese fria, insuficiência cardíaca aguda e até morte.
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O papel do médico é buscar avaliar o mais cedo possível o risco de vida e de complicações graves. O papel do paciente é buscar informação o mais rápido possível em caso de sintomas, antes que complicações graves e às vezes não reversíveis se instalem. A estratificação de risco envolve história clinica e exame físico, e eventualmente exames complementares. Em caso de um primeiro episódio de dor, uma visita ao pronto socorro se faz necessária. Lá, o risco de vida iminente será avaliado, e se necessário, a internação hospitalar vai proteger o paciente do risco maior.