A Dra. Carolina Ambrogini, formada em ginecologia pela Faculdade de Medicina de Jundiaí, em 2000.Com residência na UNIFE...
iA sexualidade feminina sempre foi envolta por preconceitos devido às questões históricas de submissão e inferioridade em relação ao homem. Considerava-se que a mulher possuía papel passivo durante o ato sexual, ignorando-se sua capacidade para sentir prazer.
Com as mudanças socioculturais do século XX e a descoberta da pílula anti-concepcional, a mulher foi adquirindo papel cada vez mais importante na economia e nas relações interpessoais, conquistando independência financeira e liberdade sexual. As mulheres hoje se reconhecem, apresentam maior vulnerabilidade a fatores socioculturais e situacionais, o que promove mais variações do comportamento sexual delas, ao longo da vida.
A mulher contemporânea exerce diversos papeis na sociedade, trabalha para ter satisfação pessoal e financeira, é mãe, dona de casa, consumidora, preocupa-se com a aparência, engravida, amamenta, entra na menopausa, enfim. São diversas situações em que a sexualidade fica confusa e muitas vezes torna-se um problema.
A complexidade da função sexual feminina é diferente da masculina. O desejo sexual feminino, por exemplo, é mais tênue, por ter influência biológica menor. Uma mulher jovem tem de 10% a 15% menos desejo sexual que um homem na mesma faixa etária devido a fatores hormonais e isto pode gerar muitas brigas entre um casal, onde o homem não consegue entender que a parceira sente menos vontade do que ele.
Esse descompasso é muito freqüente num relacionamento estável, principalmente porque o desejo feminino sofre maior variação do que o masculino. Durante o período de um ciclo menstrual há uma flutuação hormonal, fazendo com que os níveis de testosterona fiquem mais altos durante o período fértil. Assim, a mulher tem mais vontade sexual nesta fase, facilitando a procriação. Depois desse período, o desejo tende a diminuir, pois a mulher passa a produzir a progesterona, o hormônio da gravidez, se preparando para uma eventual fertilização do óvulo. Desta forma, o corpo não estimula novas relações, já que a função biológica do sexo já foi cumprida naquele mês. Sim, não podemos nos esquecer que antes de sermos seres pensantes e racionais, somos animais e, instintivamente, somos programados para nos reproduzir e passar adiante nossos genes.
A gravidez é outro período delicado na sexualidade feminina, pois a progesterona pode diminuir o desejo sexual. Além disto, o mito de que o pênis machuca o bebê ainda existe. Com o crescimento do útero, o sexo pode tornar-se incômodo e cansativo, fazendo com que muitos casais desistam da brincadeira . Depois do nascimento do bebê, vem o período de resguardo e a amamentação que também influenciam negativamente o desejo sexual devido à produção de prolactina, o hormônio que estimula a produção de leite. O corpo entende que se a mulher está amamentando, precisa se dedicar ao filho e inibe a produção dos hormônios do ovário, para que não haja ovulação, por isso a mulher tem menos desejo nesta fase. No lado emocional, a maternidade ocupa todo o seu tempo e, muitas mulheres esquecem que são amantes.
A menopausa também pode atrapalhar a sexualidade. A diminuição da produção de estrogênio, o principal hormônio feminino, leva a uma série de sintomas como ondas de calor, insônia, irritabilidade, depressão, vagina seca, etc. E, ainda tem mais, causa uma idéia de que estamos envelhecendo, perdendo a capacidade reprodutiva. Muitas mulheres ficam abaladas física e emocionalmente, se sentindo menos sensuais e sexualmente atrativas.
Saber que toda esta variabilidade hormonal faz parte da natureza feminina é fundamental para tentar superar a falta de desejo. Uma boa conversa com o parceiro é o início do caminho. Tentar se conhecer e desvendar os mistérios do seu próprio corpo pode revelar muitas surpresas. E, principalmente, não desista de procurar seu desejo mesmo que ele pareça estar bem escondido, pois esta busca representa a vontade que todas temos de sermos plenas e felizes.