Médico especialista em Endocrinologia e Metabologia, atuando principalmente nos seguintes temas: diabetes, transplante d...
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Dados do Atlas do Diabetes 2021, divulgado pela Federação Internacional de Diabetes (IDF), indicam que mais de 537 milhões de adultos com idade entre 20 e 79 anos convivem com o diabetes, representando 10,5% da população mundial nessa faixa etária. De acordo com o mesmo levantamento, apenas no Brasil, 15,7 milhões de adultos são diagnosticados com a doença – mostrando que um em cada dez indivíduos convive com o diabetes.
Além disso, estima-se que 18 milhões de adultos (11,9%) são pré-diabéticos e possuem alto risco de desenvolver o diabetes tipo 2. O problema é que boa parte da população brasileira não acredita que mudanças no estilo de vida sejam efetivas para prevenir essa doença. É o que afirma a pesquisa "Diabetes: mude seus valores", desenvolvida pela Sociedade Brasileira de Diabetes. Por isso, elencamos abaixo os fatores de risco para o diabetes tipo 2 e como prevenir esse problema:
Tenha uma alimentação equilibrada
"A alimentação é um dos pilares mais importantes na prevenção do diabetes", afirma o endocrinologista Fádlo Fraige, presidente da Associação Nacional de Assistência ao Diabético (Anad). Isso porque o excesso de peso é um fator de risco para a doença. "Ingerindo mais calorias do que se gasta, a tendência é que o ponteiro da balança suba", explica. Por isso, elabore refeições ricas em verduras, legumes e frutas e modere no consumo de carboidratos e proteínas.
Que fique bem claro: comer doce não causa diabetes. "O que favorece o diabetes é o sobrepeso e a obesidade, que podem acontecer graças à ingestão excessiva de doces", explica o endocrinologista Balduíno Tschiedel, presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes. Por isso, maneire no consumo. A recomendação merece atenção especial apenas por quem já é portador do diabetes. "Neste caso, a taxa de glicose no sangue pode ficar muito alta, ocasionando a chamada hiperglicemia", complementa.
Afaste o sedentarismo
De acordo com Tschiedel, exercícios também são fundamentais para ficar longe do diabetes tipo 2. Mas fique tranquilo: ninguém precisa fazer uma grande mudança na rotina para atender a esse quesito. "Cerca de 30 minutos de caminhada diariamente já é o bastante para afastar o risco de desenvolver a doença", aponta o especialista. Se possível, entretanto, associe exercícios aeróbicos com atividades que exigem força muscular para queimar calorias e definir o corpo.
Controle o peso
"O excesso de peso faz com que os tecidos do organismo não consigam captar glicose, apesar da ação da insulina", afirma o endocrinologista Fádlo Fraige. Segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, cerca de 80% dos portadores de diabetes tipo 2 tem sobrepeso ou são obesos.
O especialista explica que a insulina é um hormônio que tem como principal função abrir uma porta de entrada nos tecidos para a absorção da glicose. Por esse motivo, a cirurgia bariátrica se tornou uma boa opção para quem sofre de obesidade e diabetes. Afinal, por meio dela, há redução brusca do peso e, consequentemente, melhor captação de glicose.
Cuide do seu sono
A apneia do sono também é um mecanismo de resistência insulínica. Segundo o endocrinologista Balduíno Tschiedel, o distúrbio do sono aumenta a produção de hormônios como o cortisol, que são contrarreguladores da insulina. "Isso que dizer que eles interferem de forma negativa do balanceamento entre insulina e glicose, aumentando a concentração desta última no sangue", afirma.
Não esqueça dos check-ups
O diagnóstico do diabetes, muitas vezes, é feito quando médicos diversos, como ginecologistas, solicitam uma bateria de exames. Mas, ao invés de depender desses especialistas, que tal definir uma data para realizar seus check-ups médicos anualmente? "Dentre os exames solicitados, costuma aparecer o de glicemia de jejum e, caso haja suspeita de diabetes, um teste de hemoglobina glicada é solicitado", explica Fádlo Fraige. O primeiro indica as taxas de açúcar no sangue no momento do exame. O segundo, esses mesmos índices nos últimos 90 dias.
Controle o estresse e a pressão arterial
O estresse aumenta a produção de hormônios contrarreguladores da insulina, assim como os distúrbios do sono. "Além disso, o estresse crônico é um fator de risco também para a hipertensão, doença que caminha lado a lado com o diabetes", declara o endocrinologista Balduíno Tschiedel.
Ele explica que a hipertensão pode, de alguma forma, antecipar o aparecimento do diabetes, uma vez que ambas as doenças têm mecanismos de aparecimento semelhantes. Outra questão acerca do estresse é que ele tem impacto inflamatório - ou seja, favorece uma série de processos inflamatórios em nosso corpo, e estes podem agravar ainda mais a produção de insulina e favorecer o acúmulo de glicose no sangue.
Não fume
"A nicotina interfere na ação da insulina, elevando os níveis de glicose no sangue", explica o endocrinologista Fádlo Fraige. Entretanto, os especialistas explicam que fumar somente não está relacionado com um aumento do risco de diabetes. "Ele causa um prejuízo maior a pacientes que já tem diabetes, aumentando o risco de inflamação nas artérias e, consequentemente, um entupimento", ressalta Balduíno Tschiedel.
Mesmo não sendo um causador direto da doença, o tabagismo pode ser um complemento maligno a pessoas que já estão em forte risco para o diabetes, como obesos e hipertensos, uma vez que o cigarro só irá prejudicar o bom funcionamento do organismo.
Maneire no álcool
O excesso de bebida alcoólica pode favorecer o diabetes tipo 2, uma vez que sua ingestão contribui para o excesso de peso, principalmente o acúmulo de gordura visceral (abdominal). Esse tipo de gordura localizada é a mais perigosa no que diz respeito ao surgimento do diabetes tipo 2, já que ela intensifica a produção de substâncias inflamatórias que geram uma cadeia de desequilíbrio no nosso corpo, levando à doença.
O alcoolismo também aumenta o depósito de gordura no fígado, que gera um efeito no pâncreas chamado de lipotoxicidade. "Ela acontece quando a gordura circulante é tóxica ao funcionamento das células beta do pâncreas", explica a endocrinologista Andressa Heimbecher, de São Paulo. Esse mau funcionamento das células beta do pâncreas, que causa a resistência insulínica, pode agravar e se transformar em diabetes tipo 2.
Atenção ao uso de medicamentos corticoides
Os corticoides aumentam bastante a incidência de diabetes. "São remédios, no geral, usados para situações mais agudas, como asma, alergias, dores articulares - mas aqueles que ministram esses medicamentos com frequência têm muito mais chances de desenvolver a doença", explica o endocrinologista Balduíno Tschiedel.
Esses medicamentos são sintetizados na glândula suprarrenal, pelo cortisol, que por sua vez é um hormônio produzido pelo nosso corpo para regular diversas funções, como o metabolismo dos ossos, proteínas, açúcar e gorduras. O cortisol é produzido em maior quantidade pela manhã e vai reduzindo com o passar do dia - por isso acordamos dispostos e à noite estamos mais cansados.
"Quando uma pessoa usa corticoides, a produção de cortisol pode ficar alterada, interferindo nesses processos", conta o especialista. Dessa forma, o uso prolongado desses medicamentos tem ação anti-insulinínica e por isso merecem atenção, principalmente naquelas pessoas que já possuem outros fatores de risco para o diabetes tipo 2.
Faça o rastreamento
O risco de desenvolver diabetes também aumenta caso o indivíduo tenha familiares portadores da doença. Por isso, buscar saber tais informações pode ser extremamente importante. "Nesse caso, o paciente deve realizar o exames de check-up com maior frequência", aponta Tschiedel.
Contorne o pré-diabetes
Ouvir do médico que você tem pré-diabetes não é sentença, é um alerta. "Ainda é possível reverter casos nesse estágio, desde que o paciente se dedique", aponta o endocrinologista Balduíno Tschiedel. Comece a mudança adotando uma dieta equilibrada, se possível orientada por um nutricionista, e estipulando uma rotina de exercícios.