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Em maior ou menor grau, muitas mães já devem ter passado pelo dilema do "meu filho não come". Seja a clássica rejeição pelos legumes e frutas ou então restrições mais sérias, é importante entender as causas da falta de apetite para saber tratar de forma efetiva o problema.
Uma pesquisa feita pela agência IPSOS Health Care analisou 984 famílias brasileiras e descobriu que quase 50% dos pais relataram dificuldades alimentares em algum momento da vida de crianças pré-escolares. Diferentes levantamentos científicos mostram que o problema acomete de 8% a 50% das crianças, independentemente de idade, sexo, etnia e condição econômica. Para entender melhor esse quadro, os pesquisadores separaram alguns perfis básicos de dificuldades alimentares. Conversamos com especialistas no assunto e explicamos como identificar e tratar essas complicações:
Ingestão altamente seletiva
Também conhecido como seletividade alimentar, esse quadro indica uma criança que recusa ou aceita alimentos devido a características como cheiro, sabor, textura, aparência ou consistência. De acordo com a pesquisa de Carlos Alberto, alguns aspectos fora dos hábitos alimentares podem indicar que seu filho é seletivo, como baixa tolerância a ruídos ou sujeira e desconforto em manipular produtos de determinadas consistências, como massas de modelar ou determinados tecidos.
Segundo a pediatra Alessandra Cavalcante Fernandes, do Hospital São Luiz, em São Paulo, a criança seletiva manifesta a tríade: recusa alimentar, pouco apetite e desinteresse pelo alimento. É importante dizer que esse comportamento é diferente de quando a criança rejeita um alimento em especifico - esse tipo de postura é normal e pode mudar com o passar do tempo. A situação se torna preocupante quando a criança começa a rejeitar grupos alimentares inteiros, como frutas ou verduras.
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A psicóloga comportamental especializada em crianças Andréia Leonor de Oliveira, de São Paulo, explica que é importante entender o porquê dessa seleção, e não simplesmente rotular a criança como birrenta ou teimosa. "Cada caso de seletividade alimentar tem suas peculiaridades, requer orientação individualizada de acordo com as características específicas da criança, da família e do meio onde ela vive." Muitas vezes, é necessário apresentar os alimentos várias vezes e até de diferentes formas até que a criança os aceite.
Criança agitada e com baixo apetite
É comum os filhos mais ativos, que gostam de brincar o tempo inteiro, se esquecerem de comer ou então sentirem pouca fome. "É importante primeiro observar qual intensidade de agitação da criança e se isso impacta negativamente no seu dia a dia, encaminhando se necessário a um profissional para avaliação e diagnóstico de um possível Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)", afirma a psicóloga Andréia. Descartada essa possibilidade, a especialista afirma que estabelecer uma rotina com horários definidos é fundamental, interrompendo a brincadeira para que a criança possa se alimentar - seja em casa, na escola ou com outros familiares - mantendo sempre a regularidade e oferecendo alimentos variados e com aparência atrativa.
"O ambiente onde a criança realiza as refeições deve ser tranquilo e harmonioso, sem televisão ligada ou brinquedos, e de preferência com uma música tranquila ao fundo e baixo", aconselha a especialista. É importante também não atender as chantagens da criança, como fazer aviãozinho ou contar histórias para que ela coma. "Uma boa opção é estimular a criança a comer sozinha, para que ela entre em contato com os alimentos e sinta que a refeição também é uma atividade divertida", afirma.
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Fobia alimentar
Esse tipo de quadro pode se manifestar de duas formas principais: um medo excessivo da deglutição por receio de aspirar o alimento, caracterizando as fobias de deglutição, ou então a aversão por determinados tipos de alimentos. No primeiro caso, a criança pode recusar qualquer tipo de alimento e manifestar um comportamento agressivo quando exposta à comida. "As fobias podem ser desencadeadas por um evento traumático em que tenham ocorrido vômitos ou sensação de náuseas, enjoos e asfixia provocados pela comida, ou ainda por uma questão emocional", diz a psicóloga Andréia. "A vivência traumática desses episódios pode evoluir com recusa alimentar."
Em outras situações, a fobia alimentar tem causas emocionais e surge como protesto. "Pode ser uma mudança brusca na rotina, como uma nova escola, ausência de algum familiar ou a chegada de um irmão", afirma Andréia. "Neste caso deve-se perceber se a dificuldade interfere nas outras áreas de sua vida, e a partir daí procurar por um especialista, que tratará o problema por meio de psicoterapia", completa. Se necessário, pode ser feito um acompanhamento multidisciplinar com um psiquiatra ao lado de um nutricionista para receitar medicamentos, se houver a necessidade.
Presença de doença orgânica
De acordo com a pesquisa, a baixa ingestão alimentar pode acontecer devido à presença de alguma doença orgânica. Nesse caso, o uso de fármacos para o tratamento, doenças que afetam a deglutição, desconforto pós-alimentação, caquexia (enfraquecimento geral das funções vitais) ou mesmo o estresse psicológico causado pela doença podem fazer com que a criança não coma. "Quadros como dor de garganta, aftas e estomatites geralmente são agudos, e a criança volta a se alimentar após a cura", diz o pediatra Vanderlei Wilson Szauter, do Hospital e Maternidade São Cristóvão. No entanto, outras doenças gastrointestinais e doenças neurológicas, psicomotoras e cardíacas podem resultar em diminuição do apetite, devendo ser observadas com atenção. "É importante levar a criança ao médico e para verificar a existência de alergias ou intolerâncias, bem como a presença de outras doenças que possam afetar a alimentação."
Criança com distúrbio psicológico ou negligenciada
Filhos apáticos ou com problemas de relacionamentos com os pais podem refletir esse sentimento no desinteresse pela comida. "Pais com histórico de depressão e transtornos alimentares ou que sejam muito exigentes tendem a apresentar filhos com maior risco de padrões alimentares inadequados", declara a psicóloga especialista em crianças Andréia. A especialista afirma que famílias desestruturadas tendem a apresentar crianças seletivas com maior frequência. "Essa seletividade pode ser a única manifestação de protesto de uma criança frente a pais com posturas educacionais inapropriadas", alerta. Identificado esse problema, é essencial buscar a ajuda de um profissional para melhorar o ambiente familiar e mudar alguns de seus comportamentos.
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Interpretação equivocada dos pais
"Uma criança que come bastante não necessariamente está fazendo uma alimentação adequada", explica a pediatra Alessandra. De acordo com ela, a carência nutricional é causada não só pela ingestão em pouca quantidade, mas também pela alimentação de má qualidade, rica em gorduras e açúcares e pobre em vitaminas e minerais. Na maioria das vezes, o problema está na maneira como os pais interpretam a rejeição a novos alimentos, e acabam por deixar de oferecer as opções mais saudáveis. "Hipertensão, diabetes e obesidade são algumas consequências da alimentação inadequada não atrelada ao baixo peso", diz a especialista. Por isso, não desista de oferecer os alimentos. Com o tempo ele vai saber o que comer e conseguir distinguir um alimento do outro.
Baixo peso nem sempre é uma preocupação
Uma boa alimentação resultará em uma criança saudável e inteligente. Não é por pular uma ou outra refeição que os filhos ficarão desnutridos ou terão seu desenvolvimento comprometido - embora esses eventos tenham de ser esporádicos, para não comprometer a alimentação da criança. "O metabolismo, o biótipo e genética contribuem para que algumas crianças demorem em ganhar peso, mas isso não significa que ela está desnutrida", diz a psicóloga Andréia. "Além disso, é de fundamental importância que se estabeleça uma avaliação médica multidisciplinar, para excluir doenças que tem como sintoma o emagrecimento."