Graduado em Medicina pela Faculdade de Medicina do ABC (1978) e doutorado em Psiquiatria pela Faculdade de Medicina da U...
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O que é Coma alcoólico?
O coma alcoólico é uma condição grave em que o paciente fica inconsciente devido a uma intoxicação alcoólica. O consumo excessivo de álcool sobrecarrega a capacidade do fígado de metabolizar a substância e, por consequência, ocorre o aumento rápido do teor de álcool no sangue, o que prejudica significativamente a função cerebral.
“A intoxicação alcoólica ocorre quando há tanto álcool na corrente sanguínea que as áreas do cérebro que controlam as funções básicas de suporte à vida — como respiração, frequência cardíaca e controle de temperatura — começam a falhar”, explica Arthur Guerra, psiquiatra e presidente executivo do CISA (Centro de Informações sobre Saúde e Álcool).
No estado de coma, não há interação com o meio, impedindo a abertura dos olhos mesmo quando o paciente é estimulado de forma rigorosa.
Os efeitos do álcool em excesso no organismo
O álcool é uma substância que leva, em média, uma hora para ser processada pelo fígado. Segundo Manoel Antônio de Paiva Neto, neurologista do Hospital Edmundo Vasconcelos, a quantidade capaz de provocar os sintomas pode variar conforme sexo, peso e sensibilidade do paciente.
Quando uma pessoa ingere uma quantidade de álcool acima do que o fígado consegue metabolizar, o organismo não dá conta de transformar a substância em glicose. Como resultado, ocorre uma intoxicação que afeta diretamente os órgãos vitais, como coração, estômago e cérebro.
“Após ingerido, o álcool é metabolizado no fígado e cérebro, interagindo com vários neurotransmissores, causando de euforia a depressão e, consequentemente, sonolência e coma”, acrescenta o especialista.
Leia também: Como reconhecer um alcoolista e ajudar a pessoa a se tratar
Sinais
Os primeiros sintomas que indicam o coma alcoólico são:
- Vômitos;
- Dificuldades respiratórias;
- Perda de sensibilidade e dos reflexos;
- Sonolência excessiva;
- Convulsão;
- Dificuldade de andar
- Palidez;
- Diminuição dos batimentos do coração;
- Baixas temperaturas;
- Incoordenação.
Os sintomas costumam surgir quando os níveis de álcool no sangue estão acima de 0,3-0,4%, o que corresponde a cerca de 3-4 gramas de álcool por litro de sangue, segundo Arthur.
Diagnóstico
O diagnóstico de coma alcoólico é realizado por meio da história de ingestão, dos sintomas e da aferição dos sinais vitais e da quantidade de álcool no organismo através de dosagens em vias aéreas (bafômetro ou similar) ou do sangue.
Tratamento
O tratamento de coma alcoólico pela equipe médica consiste na administração de líquidos (como soro e glicose) para combater a desidratação e o baixo nível de açúcar no sangue.
Ademais, é necessária a reposição de vitaminas e a regularização dos níveis de eletrólitos, caso estejam alterados. O médico ainda poderá indicar medicamentos antieméticos ou anticonvulsivantes, de acordo com os sintomas apresentados pelo paciente.
Primeiros socorros
Na suspeita de coma alcoólico, o primeiro passo é chamar uma ambulância ou SAMU (192) para que o paciente seja atendido o mais rápido possível — a fim de evitar o agravamento da situação e complicações que comprometam a vida. “É importante não esperar que a pessoa tenha todos os sintomas citados para pedir ajuda”, ressalta Arthur Guerra.
Além disso, existem algumas práticas necessárias nos primeiros socorros de um paciente em coma alcoólico. Segundo Arthur, Manoel e Antônio Wanderson Lack de Matos, especialista em nutrição clínica e responsável pelo setor de nutrição do Hospital de Clínicas do Ingá, são elas:
- Não dê banhos frios, café quente ou force caminhadas;
- Se o paciente estiver vomitando, faça com que ele se sente e se incline para a frente para evitar asfixia;
- Se o paciente estiver acordado, pode ser oferecida água para hidratação. Procure mantê-lo aquecido para evitar hipotermia;
- Se estiver inconsciente ou deitado, vire-o de lado, também para evitar asfixia.
Convivendo (Prognóstico)
Como é feito o tratamento de alcoolismo?
A dependência de álcool é uma doença crônica que pode ocorrer em função de inúmeros fatores, incluindo quantidade e frequência de uso do álcool, condição de saúde do indivíduo e fatores genéticos, psicossociais e ambientais.
Não existe tratamento único para o alcoolismo. Após o diagnóstico feito por profissionais da saúde, Arthur Guerra explica que o próximo passo é identificar o tratamento mais adequado para cada indivíduo. Todavia, existem algumas abordagens que podem ser utilizadas no tratamento, tais como:
- Administração de medicamentos que reduzem a vontade de beber ou que causam “reação alérgica” quando o paciente entra em contato com o álcool
- Psicoterapias
- Grupos de ajuda mútua (Alcoólicos Anônimos)
- Atividades físicas
- Hospitalização para casos mais graves, em que o paciente precisa fazer uma desintoxicação e um tratamento mais intensivo
“Lembrando mais uma vez que cada paciente vai se encaixar melhor em algum destes tipos de tratamentos e que, quando são feitos de forma humanizada e individualizada, os resultados são melhores e mais consistentes. E todos estes tratamentos estão disponíveis gratuitamente no Brasil pelo SUS”, esclarece Arthur.
Leia mais: Quando e como acontece o primeiro contato com o álcool?
Complicações possíveis
Sequelas do coma alcoólico
O coma alcoólico pode trazer consequências graves à saúde. Segundo Arthur e Antônio, algumas delas incluem:
- Danos neurológicos, devido à ocorrência de convulsões, asfixia e traumatismo craniano devido a quedas
- Hipoglicemia, distúrbio causado pela baixa concentração de glicose no sangue
- Pneumonia por aspiração, devido ao vômito que pode acontecer enquanto a pessoa está inconsciente
- Morte, nos casos mais graves, devido à diminuição dos níveis de glicose e da temperatura corporal, assim como alteração dos batimentos cardíacos e da respiração
Leia mais: Brasil teve o maior número de mortes por álcool em 10 anos
Referências
Arthur Guerra, psiquiatra e presidente executivo do CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool - CRM 33807
Manoel Antônio de Paiva Neto, neurologista do Hospital Edmundo Vasconcelos
Antônio Wanderson Lack de Matos, especialista em nutrição clínica e responsável pelo setor de nutrição do Hospital de Clínicas do Ingá