Dra. Fabíola Monteiro atua como médica geneticista no laboratório Mendelics realizando análise de sequenciamento de nova...
iJornalista especializada na cobertura de saúde, ciência, cultura e lifestyle, tendo trabalhado nas maiores redações do País
iO que é Intersexualidade?
Intersexualidade, ou distúrbios da diferenciação do sexo, é uma condição que configura um distúrbio tanto morfológico quanto fisiológico de uma pessoa. Ela acomete as gônadas sexuais e/ou os órgãos genitais, que não se encaixam nas normas binárias (masculino e feminino). Isso significa que indivíduos intersexo simultaneamente manifestam estrutura tecidual testicular e ovariana.
Causas
Tipos e causas da intersexualidade
A intersexualidade é causada por configurações cromossômicas e exposição ou deficiência de hormônios sexuais. Isso influencia diretamente no desenvolvimento das genitália do bebê. Existem, ainda, casos sem causa definida.
Conheça as quatro situações em que Intersexo acontece:
46-XX Intersexo
O indivíduo nasce com os cromossomos femininos (XX) e com ovários, mas a genitália externa é masculina.Geralmente, essa condição é resultado de um feto do sexo feminino que foi exposto a altas quantidades de hormônio masculino durante a gestação.
Neste caso, os grandes lábios, que são as dobras da pele da genitália feminina externa, fundem-se, e o clitóris aumenta de tamanho e fica com a aparência de um pênis.
Pessoas com essas características, geralmente, apresentam útero e trompas de falópio saudáveis. As causas mais comuns para este tipo de intersexualidade são:
- Hiperplasia adrenal congênita
- Exposição excessiva de hormônios masculinos durante a gestação
- Tumores, na maioria das vezes ovarianos, que fazem com que a mãe produza hormônios masculinos em excesso
- Deficiência de aromatase, uma enzima que normalmente converte hormônios masculinos em hormônios femininos
46-XY Intersexo
Neste tipo de intersexualidade, o indivíduo apresenta cromossomos masculinos (XY), mas a genitália externa não é completamente formada – ela pode ser ambígua ou evidentemente feminina.Internamente, as gônadas sexuais podem tanto apresentar estrutura testicular saudável como podem, também, apresentar testículos mal formados ou, ainda, completamente ausentes. As principais causas para esse tipo são:
- Síndrome da insensibilidade do andrógeno (SIA). Essa é a causa mais comum deste tipo de intersexualidade. Aqui, os hormônios são todos normais, mas os receptores dos hormônios masculinos não funcionam corretamente
- Problemas com testículos, responsáveis pela produção de hormônio masculino. Se eles não forem totalmente formados, o indivíduo poderá apresentar problemas com a produção de testosterona
- Problemas com a formação de testosterona. Diversas enzimas trabalham para produzir o hormônio masculino, portanto, deficiências em qualquer uma dessas enzimas podem prejudicar a produção de testosterona e, assim, levar aos sinais de intersexualidade do tipo 46-XY. Diferentes tipos de hiperplasia adrenal congênita também se encaixam nesta categoria
- Problemas com o uso da testosterona. Algumas pessoas têm os testículos totalmente formados e também produzem as quantidades adequadas de testosterona, mas, ainda assim, apresentam este tipo de intersexualidade
- Deficiência da 5-alfa-reductase. Pessoas com este problema não possuem a enzima necessária para converter testosterona em dihidrotestosterona (DHT). Existem, pelo menos, cinco tipos diferentes de deficiência da 5-alfa-reductase. Alguns bebês têm a genitália masculina, outros têm a genitália feminina e muitos têm a genitália que não pode ser determinada visualmente. Nesses casos, a maioria passa a ter a genitália masculina externa quando chega à puberdade
Intersexo Gonadal Verdadeiro
O indivíduo apresenta tanto tecido ovariano quanto tecido testicular. Isso pode acontecer na mesma gônada (chamado, portanto, de ovotestículo) ou a pessoa também pode apresentar um ovário e um testículo.
O indivíduo pode ter cromossomos XX, cromossomos XY ou ambos. A genitália externa pode ser ambígua ou parecer feminina ou masculina.
Na maioria das pessoas com intersexo gonadal verdadeiro, a causa subjacente é desconhecida.
Intersexo Complexo ou Indeterminado
Muitas configurações cromossômicas, além dos simples 46-XX ou 46-XY, podem resultar em transtornos do desenvolvimento sexual. Uma pessoa com este tipo de intersexualidade pode apresentar diferenciações cromossômicas, que incluem 45-XO (somente um cromossomo X), 47-XXY e 47-XXX, sendo que os dois últimos apresentam um cromossomo sexual extra.
Esses transtornos, no entanto, não resultam necessariamente em uma condição de intersexo, pois nem sempre há discrepância entre a genitália interna e a externa.
Pode haver problemas com: níveis de hormônio sexual, desenvolvimento sexual e números alterados de cromossomos sexuais.
Sinais
Geralmente, os sinais de intersexualidade são visíveis no nascimento. Os sintomas dizem respeito a anormalidades cromossômicas que, eventualmente, podem levar às distinções físicas que caracterizam os diferentes tipos de intersexualidade.
Normalmente, algumas pessoas intersexo costumam desenvolver as características da puberdade tardiamente, outras podem até mesmo pular essa fase e não desenvolver a puberdade nunca. Além disso, pode acontecer de uma pessoa sofrer mudanças repentinas e inesperadas neste período.
Saiba mais: Puberdade tardia: causas e como lidar
De resto, os sinais de intersexualidade limitam-se ao campo físico e variam de acordo com o tipo.
Diagnóstico
A intersexualidade pode ser diagnosticada com base somente na observação clínica. No entanto, alguns exames podem ser solicitados para identificar qual é a causa e o tipo exatos da condição. Veja:
- Análise cromossômica
- Análise de níveis dos hormônios sexuais
- Testes de estímulos hormonais
- Testes eletrolíticos
- Testes moleculares específicos
- Exame endoscópico, usado para verificar a ausência ou presença de vagina ou cérvix
- Ultrassom ou ressonância magnética para avaliar se os órgãos sexuais internos estão presentes (como o útero, por exemplo)
Na consulta médica
Especialistas que podem diagnosticar intersexualidade são:
- Clínico geral
- Geneticista
- Ginecologista
- Urologista
- Endocrinologista
- Assistente social
- Psiquiatra
- Psicólogo
- Médico neonatologista
- Pediatra
Tratamento
De acordo com a médica geneticista Fabíola Monteiro, o direcionamento médico atual mais utilizado para pessoas intersexo é feito por uma equipe multidisciplinar. Isso inclui médicos de diferentes especialidades, como cirurgiões, psicólogos, assistentes sociais, entre outros.
Saiba mais: Puberdade precoce: sintomas, quando pode acontecer e tratamentos
É importante que a criança e a família sejam acompanhadas e orientadas em relação aos aspectos clínicos, cirúrgicos, éticos e psicológicos que acontecem com os distúrbios da diferenciação do sexo.
“Por ser um grupo bastante heterogêneo, a escolha do gênero é individualizada, e irá depender de fatores genéticos, anatômicos e psicológicos, devendo sempre ser feita de forma conjunta com a família e, sempre que possível, com a criança. Também é muito importante receber suporte psicológico contínuo e de grupos de apoio”, explica.
Convivendo (Prognóstico)
Obviamente, o intersexo é uma questão complexa, mas há formas de lidar com a condição com o apoio de profissionais e grupos de apoio dedicados a ela.
Os pais devem compreender as mudanças ocorridas no que diz respeito ao tratamento de intersexualidade. No passado, o senso comum era atribuir um gênero específico o mais rápido possível - muitas vezes com base na genitália externa e não no gênero cromossômico.
Agora, especialistas na área alertam para outros fatores mais importantes para a saúde da criança: fatores cromossômicos, neurais, psicológicos e comportamentais, que podem influenciar a identidade do gênero de um indivíduo, que independe do órgão genital.
Saiba mais: Identidade de gênero, sexualidade e sexo: entenda os termos
Um exemplo é que, ao optar por atribuir o órgão masculino cirurgicamente após o nascimento do bebê, é possível que, internamente, as características femininas no organismo sejam mais predominantes.
Por isso, muitos especialistas estimulam os pais a não realizar a cirurgia em seus filhos, de modo a esperar que com a idade mais avançada os indivíduos que nasceram com essa condição possam fazer a escolha que bem entenderem.
Referências
Ministério da Saúde
Organização Mundial da Saúde
Intersex Society of North America
American Psychological Association
Inter/Act Youth