Realizou residência em Clínica Médica no Hospital Heliópolis (Unidade de Gestão Assistencial 1), em 2022, e residência m...
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O que é Lúpus?
Lúpus é uma doença inflamatória e autoimune que causa fadiga, febre e dor nas articulações e pode afetar múltiplos órgãos e tecidos, como pele, rins e cérebro. Seu nome científico é lúpus eritematoso sistêmico (LES).
Uma doença autoimune ocorre quando o sistema imunológico ataca e destrói tecidos saudáveis do corpo por engano. Dentre as mais de 80 doenças autoimunes conhecidas, o lúpus é uma das mais importantes.
No Brasil, estimativas indicam que existam cerca de 150 a 300 mil pessoas com lúpus, sendo a maioria mulheres entre 20 e 45 anos..
A seguir, entenda mais sobre o que é lúpus, seus sintomas, suas causas e se tem cura.
Causas
O que causa lúpus?
As causas do lúpus ainda não são totalmente conhecidas, mas pesquisas indicam que a doença seja resultado de uma combinação de fatores, como hormonais, infecciosos, genéticos e ambientais. Esses mesmos estudos mostram que pessoas com pré-disposição ao lúpus podem desenvolver a doença ao entrar em contato com algum elemento do meio ambiente capaz de estimular o sistema imunológico a agir de forma errada.
O que a ciência ainda não sabe é quais são todos esses componentes. Os pesquisadores, no entanto, têm alguns palpites:
- Luz solar: a exposição à luz do sol pode iniciar ou agravar uma inflamação preexistente a desenvolver lúpus;
- Infecções: Ter uma infecção pode iniciar lúpus ou causar uma recaída em algumas pessoas;
- Medicamentos: lúpus também pode estar relacionado ao uso de determinados antibióticos, medicamentos usados para controlar convulsões e também para pressão alta. Pessoas com sintomas parecidos com os do lúpus geralmente param de apresentá-los quando interrompem o uso.
Lúpus é contagioso?
Ao contrário de boatos, o lúpus não é contagioso, ou seja, não se pega, não se transmite. O lúpus geralmente é desenvolvido por conta do sistema imunológico, que produz anticorpos que atacam o próprio corpo.
Tipos
Tipos de lúpus
O lúpus pode ser dividido em quatro tipos:
Lúpus cutâneo
O lúpus cutâneo é caracterizado por uma inflamação sempre limitada à pele. Este tipo pode ser identificado a partir do surgimento de lesões cutâneas avermelhadas que costumam aparecer no rosto, na nuca ou também no couro cabeludo.
Lúpus sistêmico
O lúpus sistêmico é a forma mais comum, podendo ser grave ou leve. A inflamação ocorre no organismo, comprometendo vários órgãos ou sistemas do corpo, não sendo restrito a pele. Algumas pessoas com lúpus discoide podem evoluir para a forma sistêmica.
Os sintomas causados por este tipo da doença dependem do local da inflamação como rins, coração, pulmões e até ao sangue, além das lesões cutâneas e às articulações.
Saiba mais: 7 celebridades que sofrem com lúpus
Lúpus induzido por medicamentos
O lúpus induzido por medicamentos é causado por algumas substâncias ou remédios que provocam uma inflamação temporária enquanto do seu uso e sintomas que são muito parecidos com os do lúpus sistêmico. As manifestações desaparecem com o parar do uso.
Lúpus neonatal
O lúpus neonatal é uma condição rara que afeta filhos de mulheres com lúpus, sendo causada por anticorpos da mãe que atuam sobre a criança no útero.
Ao nascer, a criança pode ter uma erupção cutânea, problemas no fígado ou baixa contagem de células sanguíneas, mas esses sintomas desaparecem completamente após vários meses, sem efeitos duradouros.
Alguns bebês com lúpus neonatal também podem ter um defeito cardíaco grave. Com testes adequados, os médicos agora podem identificar a maioria das mães em risco, e a criança pode ser tratada antes ou depois do nascimento.
Sintomas
Sintomas de lúpus
Os sintomas de lúpus podem surgir de repente ou se desenvolver lentamente. Eles também podem ser moderados ou graves, temporários ou permanentes. A maioria dos pacientes com lúpus apresenta sintomas moderados, que surgem esporadicamente, em crises, nas quais os sintomas se agravam por um tempo e depois desaparecem.
Os sintomas podem também variar de acordo com as partes do seu corpo que forem afetadas pelo lúpus. Os sinais mais comuns são:
- Fadiga;
- Febre;
- Dor nas articulações;
- Rigidez muscular e inchaços;
- Rash cutâneo - vermelhidão na face em forma de "borboleta" sobre as bochechas e a ponta do nariz. Afeta cerca de metade das pessoas com lúpus. O rash piora com a luz do sol e também pode ser generalizado;
- Lesões na pele que surgem ou pioram quando expostas ao sol;
- Dificuldade para respirar;
- Dor no peito ao inspirar profundamente;
- Sensibilidade à luz do sol;
- Dor de cabeça, confusão mental e perda de memória;
- Linfonodos aumentados;
- Queda de cabelo;
- Feridas na boca;
- Desconforto geral, ansiedade, mal-estar.
Leia mais: Sintomas do lúpus que não devem ser ignorados
Lúpus: sintomas localizados
Outros sintomas de lúpus dependem de qual é a parte do corpo afetada:
- Cérebro e sistema nervoso: cefaleia, dormência, formigamento, convulsões, problemas de visão, alterações de personalidade, psicose lúpica;
- Trato digestivo: dor abdominal, náuseas e vômito;
- Coração: ritmo cardíaco anormal (arritmia);
- Pulmão: tosse com sangue e dificuldade para respirar;
- Pele: coloração irregular da pele, dedos que mudam de cor com o frio (fenômeno de Raynaud).
Diagnóstico
Como saber se está com lúpus?
É difícil realizar o diagnóstico para lúpus eritematoso sistêmico, pois os sintomas variam muito de pessoa para pessoa, mudam com o passar de tempo, sobrepõem-se uns aos outros e confundem-se com os sintomas de outras doenças.
Não existe nenhum teste específico para diagnosticar o lúpus. Porém, alguns exames podem ajudam a conduzir o diagnóstico, como:
- Exame físico;
- Exames de anticorpos, incluindo teste de anticorpos antinucleares;
- Hemograma completo;
- Raio X do tórax;
- Biópsia renal;
- Exame de urina.
Além desses exames, o FAN (fator ou anticorpo antinuclear) é um procedimento realizado em uma amostra de sangue que apresenta resultado positivo em quase todos os pacientes com lúpus. O resultado negativo exclui a possibilidade da doença. Já o exame com resultado positivo, atrelado à presença dos principais sintomas, pode fechar o diagnóstico de lúpus.
Fatores de risco
A doença lúpus pode ocorrer em pessoas de qualquer idade, raça e sexo, porém as mulheres são muito mais acometidas. Veja o que pode facilitar a incidência de lúpus:
- Gênero: a doença é mais comum em mulheres do que em homens;
- Idade: a maior parte dos diagnósticos acontece entre os 20 e os 45 anos, apesar de poder surgir em todas as idades. A média de idade é em torno de 31 anos;
- Etnia: lúpus é mais comum em pessoas afro-americanas, hispânicas e asiáticas. É três a quatro vezes maior em mulheres negras do que brancas.
Buscando ajuda médica
Especialistas em lúpus
Os especialistas em lúpus que podem diagnosticar e acompanhar o tratamento de um paciente com a doença são:
- Clínico geral;
- Reumatologista.
Tratamento
Tratamentos para lúpus
O principal objetivo dos tratamentos para lúpus é controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida das pessoas com a doença.
"O tratamento deve abordar orientações gerais que inclui também a educação do paciente sobre a doença, sua evolução e que o tratamento adequado permite uma vida longa, produtiva e com boa qualidade. Um seguimento médico periódico, com boa aderência ao tratamento é muito importante para evolução da doença e seu prognóstico", explica a reumatologista Tatiana Hasegawa.
A doença branda pode ser tratada com:
- Anti-inflamatórios não esteroides para artrite e pleurisia;
- Protetor solar para as lesões de pele;
- Corticoide tópico para pequenas lesões cutâneas;
- Uma droga antimalárica (hidroxicloroquina) e corticoides de baixa dosagem para os sintomas de pele e artrite.
Sintomas graves ou que acarretem risco de morte (como a anemia hemolítica, amplo envolvimento cardíaco ou pulmonar, doença renal ou envolvimento do sistema nervoso central) frequentemente necessitam de um tratamento mais agressivo com especialistas.
O tratamento para lúpus mais grave inclui:
- Alta dosagem de corticoides ou medicamentos para diminuir a resposta do sistema imunológico do corpo (imunossupressores);
- Drogas citotóxicas (drogas que bloqueiam o crescimento celular) quando não houver melhora com corticoides ou quando os sintomas piorarem depois de interromper o uso. Esses medicamentos têm efeitos colaterais graves, por isso o médico deverá monitorar o uso com muita frequência.
Medicamentos
Medicamentos para lúpus
Entre os medicamentos para lúpus mais utilizados estão:
- Androcortil;
- Azatioprina;
- Benevat;
- Betatrinta;
- Betnovate;
- Betametasona;
- Bi Profenid;
- Celestone;
- Cetoprofeno;
- Decadron;
- Diprospan;
- Duoflam;
- Prednisolona;
- Prednisona;
- Predsim;
- Profenid.
Somente um médico pode dizer qual o medicamento mais indicado para o seu caso, bem como a dosagem correta e a duração do tratamento. Siga sempre à risca as orientações do seu médico e nunca se automedique.
Não interrompa o uso do medicamento sem consultar um médico antes e, se tomá-lo mais de uma vez ou em quantidades muito maiores do que a prescrita, siga as instruções na bula.
Tem cura?
Lúpus tem cura?
Lúpus não tem cura. Contudo, o prognóstico do lúpus é melhor hoje do que nunca. Com acompanhamento e tratamento próximos, 80-90% das pessoas com lúpus podem viver uma vida normal.
Prevenção
Não há formas conhecidas para se prevenir o lúpus. Contudo, evitar gatilhos para a doença, como a exposição excessiva ao sol e entender melhor a doença assim como melhorar o grau de enfrentamento frente a doença são salutares no tratamento do lúpus.
Convivendo (Prognóstico)
Se você tem lúpus, é importante ter cuidados com a saúde, especialmente com a saúde do coração, a fim de prevenir problemas cardíacos mais graves no futuro. Além disso, é igualmente importante fazer uma análise frequente da imunização e testes para verificar também a saúde dos ossos (presença ou não de osteoporose) e outras doenças.
Saiba mais: Entenda como o paciente de lúpus deve cuidar da saúde bucal
A psicoterapia e os grupos de apoio podem ajudar a aliviar a depressão e as alterações no humor que venham a ocorrer em pacientes com a doença.
Siga algumas dicas também que podem melhorar sua qualidade de vida e ajudar no tratamento:
- Descanse bastante: pessoas com lúpus frequentemente sentem-se cansadas, mas não é um cansaço normal - é fadiga, um sintoma da doença que precisa ser tratado;
- Tome cuidado com o sol: você deve utilizar roupa protetora, óculos escuros e protetor solar com FPS acima de 30 quando estiver exposto ao à luz solar;
- Exercite-se: exercícios físicos regulares podem ajudar na recuperação de uma crise causada pelo lúpus, a reduzir o risco de ataque cardíaco, tratar sintomas de depressão e no bem-estar geral do corpo (“na fase muito ativa da doença, pode ser necessário repouso relativo. Após o controle da fase inflamatória, deve-se estimular atividade física regular e progressiva, para melhorar condicionamento cardiovascular, manter o trofismo muscular e prevenir a diminuição de massa óssea e doenças cardiovasculares”, explica a reumatologista Tatiana Hasegawa);
- Não fume: o consumo do cigarro aumenta os riscos de doenças cardiovasculares e pode também piorar os efeitos do lúpus;
- Mantenha uma dieta balanceada e rica em cálcio: isso auxilia na prevenção de osteoporose, aumento de colesterol e obesidade.
A recuperação do indivíduo depende da gravidade da doença. O resultado para pessoas com lúpus melhorou nos últimos anos.
- Especialista responde: Quem tem lúpus pode comer carne vermelha?
- Especialista responde: Quem tem lúpus pode praticar esportes?
- Especialista responde: Quem tem lúpus pode se aposentar em virtude da doença?
- Especialista Responde: Quem tem Lúpus pode ter filhos?
Apoio
Se você tem lúpus, é provável que tenha uma série de sentimentos dolorosos sobre sua condição, do medo à extrema frustração. Os desafios de viver com lúpus aumentam o risco de depressão e problemas de saúde mental relacionados, como ansiedade, estresse e baixa autoestima. Para ajudá-lo a lidar com lúpus, tente seguir os seguintes passos:
- Saiba tudo o que puder sobre lúpus: Anote todas as dúvidas que você tiver sobre o lúpus para que você possa perguntar ao médico na próxima consulta. Quanto mais você sabe sobre o lúpus, mais confiante você sentirá em suas escolhas de tratamento.
- Converse com seus amigos e familiares: Fale sobre lúpus com seus amigos e familiares e explique maneiras de ajudar quando você está tendo crises. O lúpus pode ser frustrante para seus familiares porque geralmente não conseguem vê-lo, e você pode não parecer doente.
- Tome tempo para você: Lide com o estresse em sua vida tomando tempo para você. Use esse tempo para ler, meditar, ouvir música ou escrever em um diário. Encontre atividades que acalmam e renovem você.
- Conecte-se com pessoas que têm lúpus: Você pode se conectar com outras pessoas que têm lúpus através de grupos de suporte em sua comunidade ou através de fóruns de mensagens online. Outras pessoas com lúpus podem oferecer um apoio único porque enfrentam muitos dos mesmos obstáculos e frustrações que você enfrenta.
Complicações possíveis
Se não tratado corretamente, o lúpus pode causar complicações graves a diversos órgãos importantes do nosso corpo, como:
- Rins: a falência dos rins está entre as principais causas de morte por complicações de lúpus nos primeiros cinco anos da doença. Irritação, coceira generalizada, dores no peito, falta de ar, náuseas, vômito e edemas estão entre os sintomas de que o lúpus chegou aos rins
- Cérebro: o paciente pode apresentar alguns sintomas específicos se o cérebro tiver sido afetado, como dor de cabeça, confusão, tontura, mudanças de comportamento, alucinações, derrame cerebrais (AVC) e convulsões
- Vasos sanguíneos: Anemia, aumento no risco de sangramentos e inflamação dos vasos (vasculite) estão entre as principais complicações possíveis decorrentes de lúpus
- Pulmões: lúpus também pode levar à pleurisia (também conhecida como pleurite), que pode causar dor durante a respiração
- Coração: pode ocorrer também a inflamação dos músculos do coração e artérias e pericardite. As chances de ter um ataque cardíaco e outras doenças cardiovasculares também aumentam significativamente
Ter lúpus também pode acarretar em outros problemas, como:
- Infecção: as chances de uma pessoa com lúpus desenvolver algum tipo de infecção aumentam muito, pois tanto a doença quanto o tratamento comprometem o sistema imunológico. As infecções mais comuns são no trato urinário e respiratório, por fungos, salmonela e herpes.
- Câncer: o surgimento de tumores e de agravamento ao câncer também é uma das possíveis complicações do lúpus.
- Necrose avascular: ocorre a morte das células que revestem os ossos, causando pequenas fraturas e o rompimento de muitas articulações, em especial as do quadril.
- Complicações na gravidez: as mulheres que sofrem de lúpus e engravidam geralmente são capazes de manter a gravidez e dar à luz um bebê saudável, desde que não sofram de doença renal ou cardíaca grave e que o lúpus esteja sendo tratado adequadamente. Entretanto, a presença de anticorpos de lúpus pode aumentar o risco de perda na gravidez.
Referências
Secretaria de Saúde do Distrito Federal
Associação Brasileira Superando Lúpus
Sociedade Brasileira de Reumatologia
National Resource Center on Lupus
Colégio Americano de Reumatologia
Tatiana Hasegawa, médica reumatologista, CRM 103415 SP