Médico formado pela Faculdade de Medicina da USP e com doutorado em Infectologia na Universidade Federal de São Paulo (U...
iRedatora de saúde e bem-estar, autora de reportagens sobre alimentação, família e estilo de vida.
O que é Sífilis?
A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST), exclusiva do ser humano, causada pela bactéria Treponema pallidum.
A doença pode se manifestar em três estágios: sífilis primária, secundária e terciária. Elas apresentam sintomas distintos, como a formação de feridas indolores no órgão genital, vermelhidão na pele, nódulos nas axilas e pescoço, dores musculares e comprometimento da saúde cardiovascular e neurológica.
Causas
Transmissão da sífilis
A principal forma de transmissão da sífilis é por meio da relação sexual sem camisinha com uma pessoa infectada. Além disso, a doença pode ser transmitida verticalmente para a criança durante a gestação ou parto.
Tipos
A sífilis é classificada de acordo com o seu estágio de infecção. Entenda melhor a seguir:
Sífilis primária
A sífilis primária é a que ocorre assim que há a infecção pela bactéria Treponema pallidum. Cerca de três a quatro dias após o contágio, formam-se feridas indolores (cancros) no local da infecção, normalmente na região genital.
Não é possível observar mais sintomas e ela pode passar despercebida, principalmente se as feridas estiverem situadas no reto ou no colo do útero. As feridas da sífilis desaparecem em cerca de até 10 dias, mesmo sem tratamento. A bactéria torna-se dormente (inativa) no organismo nesse estágio.
Sífilis secundária
A sífilis secundária acontece cerca de duas a oito semanas após as primeiras feridas se formarem. Aproximadamente 33% daqueles que não trataram a sífilis primária desenvolvem o segundo estágio. O paciente pode apresentar vermelhidão pelo corpo (exantema), coceira, aparecimento de íngua (gânglios inchados) nas axilas e pescoço.
Aparecem também sintomas como dores musculares, febre, dor de garganta e dificuldade para deglutir. Esses sintomas geralmente somem sem tratamento após umas duas semanas e, mais uma vez, a bactéria fica inativa no organismo. Nesta fase o vírus ainda é transmissível ao se ter contato com a região da infecção.
Sífilis terciária
A sífilis terciária é a mais difícil de ser detectada pois têm sintomas em grandes vasos (como a aorta), cérebro, olhos, coração, juntas e até mesmo dentro do sistema nervoso. Pode causar dor de cabeça e epilepsia e seu diagnóstico é mais complexo.
Sífilis latente
Esse é o período correspondente ao estágio inativo da sífilis, em que não há sintomas. Esse estágio pode perdurar por muito tempo sem que a pessoa sinta nada. A doença pode nunca mais se manifestar no organismo, mas pode ser que ela se desenvolva para o próximo estágio, o terciário – e mais grave de todos.
Sífilis congênita
A sífilis pode, ainda, ser congênita. Nela, a mãe infectada transmite a doença para o bebê, seja durante a gravidez, por meio da placenta, seja na hora do parto. A maioria dos bebês que nasce infectado não apresenta nenhum sintoma da doença.
No entanto, alguns podem apresentar rachaduras nas palmas das mãos e nas solas dos pés. Mais tarde, a criança pode desenvolver sintomas mais graves, como surdez e deformidades nos dentes.
Saiba mais: Sífilis na gravidez: veja riscos para o bebê e como tratar
Sintomas
Sintomas da Sífilis
A sífilis desenvolve-se em diferentes estágios e os sintomas variam conforme a doença evolui. No entanto, as fases podem se sobrepor umas às outras. Os sintomas da sífilis, portanto, podem seguir ou não uma ordem determinada. Veja os sintomas de cada estágio:
Sintomas da sífilis primária
O principal sintoma da sífilis primária é a formação de feridas indolores (cancros) no local da infecção. Nem sempre é possível observar as feridas ou qualquer sintoma, principalmente se as feridas estiverem situadas no reto ou no colo do útero. As feridas desaparecem cerca de quatro a seis semanas depois, mesmo sem tratamento.
Sintomas da sífilis secundária
Os principais sintomas da sífilis secundária são:
- Vermelhidão da pele (exantema), que pode se estender até para as mãos
- Aparecimento de gânglios inchados nas axilas e pescoço
- Dores musculares
- Febre
- Dor de garganta
- Dificuldade para engolir
- Aumento do fígado e do baço
Sintomas da sífilis terciária
Esse estágio da sífilis aparece quando a doença não foi tratada antes e ataca outras regiões do corpo, como grandes vasos (como a aorta), cérebro, olhos, coração, juntas e até mesmo dentro do sistema nervoso. Os sintomas da sífilis terciária variam muito, mas podem incluir:
- Meningite
- AVC
- Sintomas de demência
- Perda de coordenação
- Formigamento
- Cegueira ou problemas de visão
- Problemas cardiovasculares
Sintomas da sífilis congênita
A maioria dos bebês que nasce infectado pela sífilis não apresenta nenhum sintoma da doença. No entanto, alguns podem apresentar erupções na pele, nas palmas das mãos e nas solas dos pés. Mais tarde, a criança pode desenvolver sintomas mais graves, como surdez e deformidades nos dentes.
Diagnóstico
Os sintomas da sífilis costumam ser muito similares a sintomas de outras doenças, então o médico deve realizar exames específicos para conseguir fazer o diagnóstico. Veja alguns exames que o especialista poderá solicitar:
- Exame VDRL: bastante comum, pode identificar anticorpos no sangue que estão combatendo alguma infecção. Eles permanecem no sangue por anos, enquanto a bactéria estiver instalada no organismo, por isso o exame pode ser feito também para diagnosticar infecções antigas, cuja transmissão aconteceu há muito tempo. A vantagem do VDRL é que ele mostra a doença mesmo quando está ativa, por ser um teste quantitativo
- FTA-ABS: esse exame é considerado treponêmico, ou seja, ele é preparado com proteínas específicas para o Treponema pallidum. Ele é um teste qualitativo (resultado sim ou não) e serve apenas para o diagnóstico e não para o acompanhamento da doença
- Teste rápido para sífilis: os testes rápidos são feitos em menos de 30 minutos e é similar a um teste de gravidez: aparecendo uma ou duas faixas pintadas. Eles podem ser feitos em centros públicos de referência em IST e AIDS
- Cultura de bactérias: o médico pode optar também por recolher amostras de uma secreção expelida por alguma ferida presente no corpo, que será analisada em microscópio. Este tipo de teste só pode ser realizado durante os dois primeiros estágios da sífilis, cujos sintomas envolvem o surgimento de feridas. A análise dessas substâncias pode indicar a presença da bactéria no organismo do paciente
- Punção lombar: se há suspeita de que o paciente está com complicações neurológicas causadas pela sífilis, o médico poderá coletar uma pequena amostra do líquido céfalo-raquidiano. As amostras são enviadas para laboratório e analisadas
Saiba mais: ISTs: conheça os exames para identificá-las e quando fazê-los
Fatores de risco
Alguns fatores são considerados de risco para contrair sífilis. Confira:
- Manter relações sexuais desprotegidas com uma ou mais pessoas
- Estar infectado com o vírus do HIV, causador da AIDS
Na consulta médica
Especialistas que podem diagnosticar um caso de sífilis são:
- Infectologista
- Clínico geral
- Ginecologista
- Urologista
Tratamento
Tratamentos para sífilis
Quando diagnosticada precocemente, a sífilis não costuma causar maiores danos à saúde e o paciente costuma ser curado rapidamente. O tratamento para sífilis mais indicado pelos médicos é feito à base de penicilina, um antibiótico comprovadamente eficaz contra a bactéria causadora da doença.
Uma única injeção de penicilina já é o bastante para impedir a progressão da sífilis, principalmente se ela for aplicada no primeiro ano após a infecção. Se não, o paciente poderá precisar de mais de uma injeção.
A penicilina, aliás, é o único tratamento recomendado por especialistas para mulheres grávidas diagnosticadas com sífilis. Mesmo que o tratamento nesses casos seja bem-sucedido, o bebê também deverá ser tratado com antibióticos depois de nascer.
Durante o primeiro dia de tratamento, o paciente poderá sentir aquilo que os médicos chamam de reação de Jarisch-Herxheimer, que inclui uma série de sintomas, como febre, calafrios, náuseas, dores nas articulações e dor de cabeça. A boa notícia é que esses sintomas não costumam demorar mais do que um dia.
Durante o tratamento da sífilis, o paciente deverá fazer visitas regulares ao médico para garantir que está tudo bem. É necessária a realização de exames de sangue de acompanhamento após três, seis, 12 e 24 meses para garantir que não há mais infecção.
O médico poderá solicitar, também, que o paciente faça um exame específico para HIV, para garantir que o paciente não desenvolverá complicações mais graves por causa do vírus da AIDS.
A atividade sexual deve ser evitada até que o segundo exame mostre que a infecção foi curada. A sífilis é extremamente contagiosa por meio do contato sexual nos estágios primário e secundário.
Durante o tratamento da sífilis é importante tomar cuidados como:
- Evitar relações sexuais até que a infecção esteja curada
- Beber muita água e cuidar do sistema imunológico
- Avisar seus parceiros sexuais sobre o diagnóstico para que eles também possam fazer os exames
Saiba mais: Sífilis: coleta de líquor mostra se bactéria chegou ao sistema nervoso
Medicamentos
Medicamentos para sífilis
Os medicamentos para sífilis mais usados são:
Tem cura?
Sífilis tem cura?
Quando diagnosticada precocemente (no estágio primário e secundário), a sífilis tem cura e pode ser tratada tranquilamente com penicilina. O diagnóstico na fase terciária tem tratamento mais difícil, pois é preciso localizar onde a bactéria está alojada.
Mas mesmo assim as perspectivas de cura são altas. Em casos de sífilis congênita, o ideal é que a criança seja tratada desde bem cedo para evitar complicações mais graves.
Prevenção
O uso da camisinha e ter relações sexuais seguras são a melhor forma de prevenir a sífilis. A camisinha é medida preventiva não só para sífilis, mas também para todas as outras infecções sexualmente transmissíveis (IST’s).
Ter relações sexuais com pessoas distintas aumenta o risco de contrair a doença, mas o mais importante é sempre fazer uso do preservativo. Você pode contrair a doença tendo contato sexual com uma só pessoa como também pode contraí-la após entrar em contato sexual com várias. Tudo vai depender mesmo do uso ou não de preservativo.
Saiba mais: O que é janela imunológica e por que é importante conhecê-la
Complicações possíveis
Quais são as complicações da sífilis?
Sem tratamento, a sífilis pode evoluir, se espalhar pelo corpo e causar complicações mais graves para os pacientes infectados. Além disso, pode aumentar o risco de infecção por HIV e, em mulheres, pode causar complicações na gravidez.
É importante ressaltar que o tratamento da sífilis pode impedir problemas futuros, mas não pode reverter danos causados anteriormente. Por isso, o tratamento precoce é essencial.
Veja as complicações que podem ser causadas por sífilis não tratada:
- Surgimento de inchaços na pele, ossos, fígado e outros órgãos no último estágio da doença. Com tratamento, esses inchaços costumam desaparecer, mas se não tratados eles podem evoluir para tumores
- Problemas neurológicos também podem aparecer, como AVC, meningite, surdez, problemas de visão e demência
- Aneurisma e inflamação da aorta e de outras artérias e vasos sanguíneos, danos às válvulas do coração e outros problemas cardiovasculares também são algumas das complicações possíveis
- As chances de contrair o vírus do HIV aumentam significativamente em pessoas com sífilis, pois as feridas presentes na pele – características dos dois primeiros estágios da doença – costumam sangrar facilmente, facilitando a entrada do vírus da AIDS no organismo durante uma relação sexual
- Na gravidez, a mulher infectada pode passar a doença para o feto. Sífilis congênita pode elevar os riscos de aborto e os de morte do bebê durante a gestação ou após os primeiros dias de vida
Referências
Ministério da Saúde
Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde
Sociedade Brasileira de Infectologia
Sociedade Brasileira de Análises Clínicas
Mayo Clinic, clínica de referência nos Estados Unidos