Formada em Medicina pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Patrícia Consorte fez especialização em Terapia Intens...
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Mariana Teixeira Vilasboas, formada em Medicina pela primeira turma da faculdade Pitágoras Montes Claros, fez Residência...
iO que é Síndrome da morte súbita do lactente?
A Síndrome da morte súbita do lactente (SMSL) é a morte inesperada de um bebê com menos de um ano de idade, durante o sono, cuja causa permanece desconhecida mesmo após a investigação pós-óbito (que inclui história clínica, necropsia completa e revisão do local do óbito). A maioria dos casos ocorre nos primeiros seis meses de vida, especialmente entre os dois e quatro meses.
Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a síndrome é a principal causa de morte de bebês com menos de um ano de vida. O perfil dos óbitos por SMSL é caracterizado por crianças sem história prévia de doenças agudas que justificassem o óbito. Normalmente a morte ocorre no local em que o bebê está dormindo, sem nenhum sinal prévio consistente indicando que ele está em risco de vida.
Causas
A causa exata da SMSL ainda é desconhecida, mas estudos sugerem que ela seja decorrente de alterações nos mecanismos controladores das funções neurológicas, cardiorrespiratórias e respiratórias. São múltiplos mecanismos envolvidos, conforme explica Mariana Vilasboas, pediatra da Pineapple Medicina Integrada.
Esses mecanismos envolvem:
- Excitação do sono ruim
- Incapacidade de detectar níveis elevados de CO2 no sangue
- Canalopatia cardíaca, que afeta o ritmo cardíaco em recém-nascidos.
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Diagnóstico
O diagnóstico da SMSL é realizado por uma autópsia adequada a fim de excluir outras possíveis causas, como hemorragia intracraniana, meningite ou miocardite. A necropsia deve ser feita por um médico especialista, como um patologista pediátrico.
Fatores de risco
Os principais fatores de risco para a síndrome da morte súbita do lactente estão relacionados ao ambiente em que o bebê está inserido. Segundo Patrícia Consorte, pediatra e especialista em nutrição materno-infantil, o maior fator de risco observado atualmente está associado ao sono do bebê, especialmente à posição de dormir.
Dormir de lado ou de bruços (posição prona), de acordo com o pediatra Odilo Queiroz, apresenta incidência duas vezes maior do que ao dormir em posição supina (de barriga para cima).
“As orientações sobre sono seguro, ou seja, colocar o bebê para dormir de barriga para cima e sem nada no berço, foram instituídas por volta de 1994 pela Academia Americana de Pediatria e fizeram despencar em 50% os casos”, explica Consorte.
Outros fatores também podem aumentar o risco da síndrome. Segundo Vilasboas, Queiroz e Consorte, são eles:
- Ausência de pré-natal
- Intervalo curto entre as gestações
- Irmão de SMSL
- Baixo nível socioeconômico
- Ter de um a quatro meses, já que mais de 70% dos casos costumam ocorrer nessa faixa etária
- Bebês prematuros ou de baixo peso
- Cama compartilhada, principalmente para os menores de quatro meses
- Uso de cobertores macios, travesseiros e colchão de água
- Pais fumantes
- Doença mental materna e abuso de substâncias pela mãe, como álcool e drogas.
“Alguns estudos mostram que superaquecer o bebê com muitas roupas ou cobertas também poderia ter algum impacto. Existe uma incidência maior também de casos em meninos do que em meninas”, acrescenta Patrícia Consorte.
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Incidência da Síndrome da morte súbita do lactente
Segundo Mariana Vilasboas, não existem estatísticas oficiais sobre a incidência de SMSL no Brasil. Dados de alguns estudos brasileiros indicam uma taxa de mortalidade de 0,13/1.000 nascidos vivos. A maioria das mortes ocorre durante o primeiro mês de vida, com 71,4% até o quarto mês e 85,7% até o sexto mês, conforme aponta a especialista.
Nos Estados Unidos, a síndrome da morte súbita do lactente representa cerca de 53,9 óbitos por 100.000 nascidos vivos, de acordo com o pediatra Odilo Queiroz. É a terceira causa de mortalidade infantil no país.
Prevenção
Embora não haja uma causa bem definida para a síndrome, existem algumas práticas que diminuem consideravelmente seu risco, especialmente quando relacionadas ao sono do bebê.
De acordo com um estudo publicado no Jornal de Pediatria, da SBP, em 2001, “apesar de algumas crianças já nascerem com risco maior de SMSL e do mecanismo da morte ainda não ser totalmente conhecido, acredita-se que, ao fornecemos um ambiente de sono mais propício, eliminamos os fatores ‘gatilho’ das crianças vulneráveis, reduzindo consequentemente a mortalidade”.
A Academia Americana de Pediatria traz as seguintes recomendações:
- Posição correta durante o sono: crianças de até um ano de idade devem dormir na posição supina (barriga para cima). As posições de lado e prona (barriga para baixa) não são seguras nessa faixa etária;
- Dormir em local adequado: superfície firme com colchão adequado em berço aprovado pelas normas de segurança, com lençol de elástico, sem qualquer objeto solto (naninha, travesseiro, colchas, mantas soltas e protetores de berço). Os berços devem ter grades espaçadas de forma adequada. Os menores de um ano não devem dormir em camas, carrinhos de bebê ou cadeirinhas de carro, pois isso aumenta o risco de estrangulamento;
- Quarto compartilhado: crianças de até um ano (pelo menos até os seis meses de vida) devem dormir no quarto dos pais, próximo a eles, mas em seu próprio berço;
- Amamentação: o aleitamento materno exclusivo até os seis meses tem grande efeito de proteção contra morte infantil;
- Evitar o uso de cobertores e de outros objetos que possam causar o superaquecimento nos bebês. O correto é ajustar o aquecimento com as próprias roupas do bebê, sendo que a cabeça deve ficar descoberta durante o sono;
- Cuidados pré e pós-natais: evitar o uso de álcool, cigarro e drogas ilícitas durante a gravidez e após o nascimento do bebê. Realizar as consultas e exames do pré-natal adequadamente;
- Imunização: as crianças devem ser vacinadas conforme o Programa Nacional de Imunizações, sendo considerado um fator protetor.
Convivendo (Prognóstico)
Importância do acompanhamento psicológico
O óbito inesperado e sem causa do bebê causa intenso sofrimento à família. Como não se pode encontrar uma causa exata para a morte, é comum que os pais sejam golpeados por sentimentos intensos de dor e culpa.
Por isso, é de suma importância que os pais, ao encararem a ocorrência de morte por SMSL, recebam apoio psicológico e suporte para o enfrentamento do luto — e não somente nos primeiros dias após a morte, mas durante vários meses.
Esse suporte deve ser feito com visitas à família a fim de observar as circunstância em que o fato ocorreu e aconselhar os pais com relação à causa da morte, conforme aponta o Manual MSD. Patricia Consorte ainda ressalta que é obrigação de todo pediatra fazer as orientações sobre sono seguro desde a primeira consulta da criança.
“Após a idealização de um sonho, ver o filho vir a óbito sem uma causa explicável, gera angústia, tristeza e muitas vezes sentimentos de culpa por parte dos pais, que devem ser acolhidos e amparados por psicoterapia familiar”, finaliza Mariana Vilasboas.
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Referências
Sociedade Brasileira de Pediatria
Academia Americana de Pediatria
Manual MSD
Patricia Consorte, pediatra e especialista em nutrição materno-infantil - CRM 149570/SP. Dra. Mariana Vilasboas, pediatra da Pineapple Medicina Integrada - CRM 220001
Odilo Queiroz, médico pediatra e pesquisador sobre o sono de bebês.