
Formada em Medicina pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Patrícia Consorte fez especialização em Terapia Intens...
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O que é Síndrome de Reye?
A Síndrome de Reye é uma doença grave e não contagiosa, potencialmente fatal, caracterizada por uma inflamação do cérebro e por um rápido acúmulo de gordura no fígado — o que provoca a degeneração e a perda da função hepática.
Embora possa acometer pessoas de todas as faixas etárias, a doença é mais comum em crianças entre cinco e 14 anos. Segundo Patrícia Consorte, pediatra e especialista em nutrição materno-infantil, existem casos descritos em bebês menores de um ano de idade.
A Síndrome de Reye pode levar à óbito em 30% a 40% dos casos.
Causas
As causas da Síndrome de Reye não são completamente conhecidas, mas acredita-se que ela possa ser desencadeada por uma infecção viral, especialmente influenza A, B ou varicela.
“Anteriormente, era associada principalmente ao uso de aspirina na infância durante os quadros infecciosos, o que fez cair drasticamente o seu consumo no mundo, tendo atualmente indicações estritas na faixa etária infantil”, explica Consorte.
Porém, existem vários outros fatores que podem estar relacionados ao desenvolvimento da Síndrome de Reye segundo a especialista. São eles:
- Fatores hereditários;
- Erros inatos do metabolismo;
- Reações a medicamentos e a toxinas.
“A sua fisiopatologia parece estar relacionada à disfunção da mitocôndria, uma organela presente em nossas células responsável pela produção de energia e pela metabolização de várias vias do nosso corpo, dentre elas dos ácidos graxos, gerando seu acúmulo no fígado e uma disfunção importante nesse órgão”, aponta Consorte. O uso da aspirina potencializaria esse dano ao fígado.
Sintomas
Os sintomas iniciais da Síndrome de Reye são semelhantes aos de um quadro viral, como de uma infecção das vias respiratórias superiores, gripe e varicela. Nos primeiros dias, é comum que a criança apresente:
- Febre;
- Coriza;
- Dor de cabeça;
- Mal-estar.
Todavia, normalmente após cinco ou sete dias após o início da enfermidade viral, a criança pode ter sintomas mais graves como:
- Vômitos;
- Sonolência;
- Letargia;
- Desorientação;
- Dificuldade na fala;
- Distúrbio de comportamento;
- Confusão mental;
- Delírio;
- Irritabilidade;
- Agitação;
- Falência hepática;
- Convulsões.
As alterações no comportamento da criança são causadas por um aumento na pressão dentro do crânio e, às vezes, podem provocar coma e morte.
Diagnóstico
O diagnóstico da Síndrome de Reye é feito através de uma investigação dos sintomas apresentados pela criança. Segundo a pediatra Patrícia Consorte, esse diagnóstico ocorre após o especialista excluir outras causas possíveis, principalmente infecciosas, para as alterações neurológicas e de toxicidade para alteração do fígado.
Consorte ainda explica que, para o diagnóstico, é possível observar:
- Aumento das enzimas hepáticas;
- Aumento das TGO e TGP;
- Aumento das bilirrubinas;
- Alteração das provas de coagulação;
- Aumento de um substrato tóxico chamado amônia, que é controlado pelo fígado.
“Normalmente, realizamos exames de imagem para avaliação neurológica, como tomografia e ressonância, em que podemos visualizar, nos quadros graves, inchaço do cérebro. Também é coletado um líquido da medula espinhal para descartar encefalites infecciosas”, explica a especialista.
Tratamento
Não existe tratamento específico para a síndrome de Reye. O mais comum consiste em medidas para tratar a insuficiência hepática e neurológica.
Normalmente, em unidade de terapia intensiva, não existe uma medicação específica para a doença e a morte está associada, em inúmeros casos, à piora do quadro neurológico.
De acordo com o Manual MSD, o tratamento da hipertensão intracraniana (elevação e súbita da pressão cerebral) inclui:
- Intubação;
- Hiperventilação;
- Restrição de líquidos;
- Administração de medicamentos que forçam o corpo a eliminar água;
- Elevação da cabeceira da cama;
- Monitoramento direto da pressão intracraniana.
Prevenção
Como a fisiopatologia da síndrome de Reye ainda não é totalmente elucidada e, na maioria das vezes, ela é desencadeada por uma infecção viral, ainda não existem meios de prevenir a doença, conforme explica Patrícia Consorte.
A única forma de prevenção possível seria evitar o uso de aspirina no trato de infecções virais, visto que alguns estudos apontam que o medicamento poderia ser um fator desencadeante.
“Os dados atuais mostram uma grande queda nos diagnósticos entre 1980-1990, após os pediatras desencorajarem o uso das aspirinas nos quadros infecciosos. Isso nos mostra como devemos evitar a medicalização das crianças sem a orientação médica adequada”, finaliza Consorte.
Complicações possíveis
Se não tratada adequadamente, a síndrome de Reye pode trazer complicações à saúde da criança. Segundo o Manual MSD, alguns deles incluem:
- Hipertensão intracraniana;
- Diabetes;
- Hipotensão;
- Arritmia cardíaca;
- Pancreatite;
- Insuficiência respiratória;
- Pneumonia;
- Deficiente regulação da temperatura;
- Herniação uncal;
- Morte.