Graduada pela Faculdade de Medicina da PUC-SP; Residência Médica em Pediatria pela PUC-SP; Especialização em Neonatologi...
iRedatora especialista em conteúdos sobre saúde, família e alimentação.
O que é Síndrome do bebê sacudido?
A síndrome do bebê sacudido (SBS), também chamada de traumatismo cranial por maltrato ou shaken baby, é uma lesão cerebral grave que ocorre quando um bebê é sacudido com força sem que a cabeça esteja apoiada. O movimento brusco pode causar ruptura dos vasos sanguíneos cerebrais e resultar em inflamação, hematomas e sangramento. Em casos mais graves, pode ocasionar na morte do bebê.
“A síndrome tem um maior acometimento na faixa etária de 2 a 8 meses, quando ainda se observa uma fragilidade dos ossos do crânio, uma imaturidade da musculatura (os bebês só firmam o pescoço aos 3 meses de vida, assim, têm os músculos do pescoço e ombros ‘mais molinhos’) e também a presença da moleira”, explica Ana Cristina Tancredi, pediatra do Fleury Medicina e Saúde.
Causas
A síndrome do bebê sacudido é causada num contexto em que a criança, normalmente devido a um choro inconsolável e prolongado, é agarrada pelo cuidador e sacudida vigorosamente. Segundo estudos, o responsável é mais frequentemente o pai, seguido pelo padrasto e mãe. O trauma raramente é causado por quedas.
“Os bebês apresentam musculatura cervical fraca, a cabeça é mais pesada, o cérebro é imaturo e as fontanelas mais flexíveis, favorecendo a ocorrência das lesões e rupturas de vasos sanguíneos”, explica Mariana Vilasboas, pediatra da Pineapple Medicina Integrativa.
Quando o bebê é sacudido com força, a superfície cortical do cérebro se desloca e se desprende do crânio e da membrana envolta dele, chamada de dura-mater. Nesse processo, podem haver diversas lesões teciduais e vasculares — como sangramento cerebral, hematomas e edemas. A hemorragia intracraniana pode levar ao aumento da pressão dentro da cabeça do bebê, levando aos sintomas da síndrome.
Sinais
Os sintomas da síndrome do bebê sacudido podem variar de acordo com o grau de acometimento. Em quadros mais graves, pode ocorrer:
- Dificuldade respiratória
- Tremores
- Crises convulsivas
- Edema cerebral
- Hemorragias cerebrais
- Hemorragias na retina
- Choque e coma, podendo evoluir para óbito
Em casos moderados e leves, em que o diagnóstico pode ser mais difícil, os pais podem observar os seguinte sinais:
- Distúrbios de alimentação, como vômitos e recusa alimentar
- Confusão mental ou irritabilidade
- Choro intenso
- Sonolência
- Abatimento
Diagnóstico
A criança vítima da síndrome do bebê sacudido raramente apresenta sinais de lesão física, como hematomas. Em algumas situações, é possível observar o rosto machucado e hemorragias nos olhos do bebê, mas, na maioria dos casos, o exame físico não mostra nenhum sinal de abuso.
Por esse motivo, é essencial a realização de exame de imagem e laboratorial, como tomografia do crânio, para detectar hemorragias cerebrais, e fundoscopia, para avaliação de hemorragia na retina. Segundo Ana Cristina, os exames de análises clínicas, como hemograma e marcados infecciosos, são úteis para descartar problemas infecciosos com sintomas semelhantes, como meningite, por exemplo.
Fatores de risco
Os principais fatores de risco para a síndrome do bebê sacudido estão relacionados ao contexto e ao ambiente em que a criança está inserida, como:
- Expectativas criadas e não supridas em relação ao bebê
- Situações constantes de estresse
- Consumo e abuso de bebidas alcoólicas e substâncias
- Violência doméstica
- Ansiedade e depressão
- Situações familiares instáveis
- Pai ou mãe com histórico de maus tratos na infância
- Pais jovens ou solteiros
Tratamento
O manejo e o tratamento adequado visam o acompanhamento multidisciplinar, buscando minimizar os danos causados pelo abuso em níveis físicos, psicológicos e emocionais, e também alcançar um desenvolvimento adequado para a criança.
Podem ser necessárias medidas de suporte de vida em uma UTI pediátrica, uso de suporte ventilatório, de medicamentos anticonvulsivantes e de soro para hidratação endovenosa. Em casos mais graves, pode ser indicada uma cirurgia para amenizar o edema e o sangramento cerebral, segundo Ana Cristina.
Após o tratamento da síndrome, o acompanhamento multidisciplinar com pediatra de rotina, neurologista pediátrico, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, assistente social e psicólogo, deve ser mantido. Ana aponta a importância de observar o contexto e a situação familiar e identificar quais aspectos podem e devem ser modificados para manter o crescimento e desenvolvimento saudável do bebê.
“Promover a conscientização, dar apoio aos familiares e elaborar ações educacionais sobre segurança e técnicas de cuidado infantil desempenham um papel crucial nestes casos”, aponta a especialista.
Prevenção
Como a principal causa do problema são os movimentos bruscos do corpo do bebê, é essencial que os pais conheçam os riscos dessas práticas e, em situações de estresse ou choro inconsolável, mantenham a calma. “O alerta que fazemos é, muitas vezes, durante choro intenso e exaustão, tentando acalmar nossos bebês embalando, podendo não notar que o movimento feito está muito intenso”, alerta Patrícia.
Leia também: 7 tipos de choro de bebê (e como lidar com cada um deles)
O choro é a única forma do bebê de se comunicar e mostrar que está incomodado, seja por sono, fralda suja ou sede. Por isso, acolhê-lo e tentar encontrar a causa é o melhor caminho para acalmá-lo e, consequentemente, evitar problemas como a síndrome do bebê sacudido.
“A educação das populações de alto risco sobre as consequências da síndrome do bebê sacudido é o principal meio de prevenção. Os profissionais devem ser capacitados para orientar família e cuidadores”, finaliza Mariana.
Como manejar corretamente o choro do bebê?
Buscar a causa do choro do pequeno é o primeiro passo para acalmá-lo. Verifique se a fralda está suja, se ele está com fome, se a temperatura está adequada para ele e, não menos importante, se ele somente quer carinho e colo.
Caso essas não sejam as causas, o bebê pode simplesmente estar cansado. Nesse caso, o uso do ruído branco e sons da natureza, o banho, a shantala e a própria amamentação são métodos que ajudam a acalmar o pequeno e a fazê-lo dormir, se for o caso.
Leia também: Ruído branco: como o som pode ajudar a acalmar o bebê
Nesses momentos, é importante que os pais contem com uma rede de apoio, seja de familiares ou amigos — a fim de tornar a experiência de criar um bebê mais prazerosa e saudável.
“Trocar o cuidador responsável, permitir e incentivar o descanso, ter uma rede de apoio e pedir ajuda para descansar e poder dormir é completamente humano e serve como prevenção dessa patologia tão grave e por vezes desconhecida”, explica Ana Cristina.
Complicações possíveis
Sequelas da síndrome do bebê sacudido
Mesmo em casos mais leves, a síndrome do bebê sacudido pode resultar em danos irreversíveis ao cérebro da criança. Inclusive, a mortalidade é de aproximadamente 30% dos casos. Das vítimas que sobrevivem, de 30% a 70% podem apresentar sequelas neurológicas graves. As principais sequelas incluem:
- Cegueira parcial ou total
- Atrasos no desenvolvimento
- Problemas de aprendizagem e comportamental
- Transtornos convulsivos
- Paralisia cerebral
Leia Mais
Como notificar o abuso infantil?
No Brasil, o Conselho Tutelar e o SINAN (Sistema de Informação de Agravos e Notificação) são os órgãos que devem ser notificados em caso de violência infantil ou suspeita. Para violências contra meninas ou mulheres, disque 180.
Referências
LOURENCO, Lara et al . Síndrome do bebé abanado: experiência de 10 anos de um Serviço de Cuidados Intensivos Pediátricos. Nascer e Crescer, Porto , v. 22, n. 2, p. 72-74, abr. 2013 . Disponível em <http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0872-07542013000200002&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 23 nov. 2023.