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Possui graduação em Farmácia Bioquímica pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1979), mestrado em...
iO que é Adderall?
Adderall, ou Adderall XR, é um medicamento estimulante do sistema nervoso central, composto por dextroanfetamina e anfetamina. Ele é usado em diversos países, como nos Estados Unidos, para o tratamento de pacientes com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e em alguns casos de narcolepsia, um distúrbio do sono.
No entanto, o Adderall é proibido no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a sua venda aqui é ilegal. São diversos os efeitos adversos e problemas relacionados ao uso desse medicamento, incluindo a dependência (vício).
Como o Adderall age no organismo?
O Adderall contém uma mistura de sais de anfetamina e dextroanfetamina (estimulantes) e seu efeito consiste basicamente do aumento da atividade de neurotransmissores (moléculas que fazem a comunicação de um neurônio com outro), como noradrenalina, dopamina e serotonina. Isso deixa a pessoa mais desperta, agitada, com menos fome e aumenta a atividade de vários órgãos, como o coração.
Para que serve o Adderall?
As principais indicações do Adderall, nos países em que seu uso é aprovado, são para o tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção (TDAH) - em que a pessoa tem, basicamente, muita dificuldade de concentração, impulsividade e inquietude - e em alguns casos de narcolepsia, que é um transtorno do sono caracterizado por episódios incontroláveis de sono durante o dia, por vezes até acompanhados de fraqueza muscular.
É importante ressaltar que mesmo no caso de TDAH, principal indicação do medicamento nos países aprovados, ele só deve ser usado como parte de um programa completo de tratamento, que inclui aconselhamento e outras terapias sem medicamentos.
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Uso indevido do Adderall
Apesar de ser indicado para casos de TDAH e narcolepsia, algumas pessoas utilizam o Adderall, inclusive ilegalmente no Brasil, para aumentar o foco e a concentração, sem indicação médica, principalmente estudantes. Por isso, o medicamento é conhecido como a “pílula da boa nota”.
Como o Adderall estimula o sistema nervoso central, ele deixa o estudante mais desperto, sem sono, concentrado e acaba aumentando a sua autoconfiança, o que facilita que ele passe longas horas estudando ou suporte provas extensas. É uma espécie de "doping" dos estudantes.
Da mesma forma, alguns trabalhadores de setores extremamente competitivos fazem uso da droga para passarem a noite acordados. Porém, o uso indevido de Adderall, sem prescrição médica, pode causar diversos prejuízos para a saúde e riscos no trabalho. Falaremos sobre esses riscos mais adiante.
Saiba mais: Distúrbios do sono podem afetar a memória e concentração
Contraindicações
Além das contraindicações por uso indevido, como o caso de pessoas que procuram aumentar a sua concentração ou emagrecer, o Adderall é contraindicado quando a pessoa tem alguma doença do sistema cardiovascular, como arritmia ou arteriosclerose, também no caso de hipertireoidismo, glaucoma, agitação motora, esquizofrenia ou com histórico de episódios psicótico e/ou abuso de drogas.
Considerações
Efeitos colaterais do Adderall
As reações adversas do Adderall dependerão da pessoa que está usando o medicamento, da dose e do tempo de utilização.
Dentre os efeitos adversos graves associados ao uso deste medicamento estão:
- Retardo do crescimento (peso e altura corporal) em crianças
- Convulsões, principalmente em pacientes com histórico do problema
-
Alterações de visão ou visão turva
Entre os efeitos adversos comuns estão:
- Dor de cabeça
- Diminuição do apetite
- Dor no estômago
- Nervosismo
- Dificuldade para dormir
- Alterações do humor
- Perda de peso
- Tontura
- Boca seca
- Taquicardia (coração acelerado)
Outras situações de saúde relacionadas ao uso do Adderall são:
- Morte súbita em pacientes que tenham problemas cardíacos
- Acidente vascular cerebral (AVC)
- Infarto
- Aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca
- Vasculopatia periférica, incluindo fenômeno de Raynaud
- Sensação de dormência, frio e dor nos dedos das mãos ou dos pés, que podem ficar pálidos, azulados ou vermelhos
Sintomas psicóticos, como escutar vozes inexistentes, crer em coisas irreais ou uma desconfiança injustificada são mais comuns em crianças e adolescentes.
Riscos do Adderall
Riscos do uso contínuo do Adderall com recomendação médica
Quando o uso do Adderall é recomendado pelo médico, nos países em que o uso é aprovado, pode ser que o paciente precise fazer uso do medicamento por longos períodos. Nestes casos, o especialista responsável, normalmente o médico psiquiatra, deve fazer o monitoramento regular desta pessoa.
O psiquiatra deve verificar a ocorrência de alterações no sangue, no coração e na pressão arterial durante o tratamento. Se quem está utilizando o Adderall é uma criança, ela também deve ser monitorada quanto ao seu peso e altura.
Caso seja identificado algum problema durante o tratamento, o médico pode suspender o uso desta medicação e indicar outras possibilidades terapêuticas.
Riscos do uso de Adderall sem indicação médica
O maior risco do uso de Adderall sem indicação médica é a dependência que ele pode causar, que demandaria um tratamento de reabilitação bastante similar aos utilizados por pessoas viciadas em diversas drogas. Isso porque sem a indicação médica, além da pessoa não ter a necessidade de usar o medicamento, o uso geralmente é feito em doses maiores do que o recomendado e por um período bastante prolongado.
Dentre os demais riscos, quando tomado por uma pessoa com uma contraindicação prévia, como a esquizofrenia, o Adderall pode aumentar os sintomas da doença ou até facilitar o seu aparecimento (quando ela ainda não se manifestou). Também há riscos relacionados ao bom funcionamento dos órgãos vitais, como o coração, uma vez que o medicamento é estimulante e, portanto, acelera os batimentos cardíacos. Outros riscos são:
- Aumento da pressão arterial
- Intoxicação
- Irritabilidade
- Desencadeamento de crises de mania em pacientes bipolares
- Desencadeamento de surtos psicóticos.
No caso dos jovens que conseguem o medicamento no mercado ilegal, os riscos não mudam mesmo no caso dos mais saudáveis, pelo contrário. Considerando que o cérebro de adolescentes está passando por várias modificações nessa fase de amadurecimento, o uso de anfetaminas durante esse período de idade pode levar a consequências potencialmente danosas por toda a vida - assim como o uso de diversas drogas, como a cocaína.
Como acontece a dependência (vício) em Adderall?
As anfetaminas, presentes no Adderall, estimulam a comunicação entre neurônios, incluindo aqueles que usam o neurotransmissor chamado dopamina. Muitos dos neurônios que liberam dopamina são ativados quando a pessoa consome algo que dá prazer, como alimentos doces, ou faz algo prazeroso, como sexo.
A anfetamina age como um meio artificial de ativar esses neurônios que comunicam sinais de prazer e por meio disso causa a sensação de bem-estar e euforia após seu consumo.
O problema é que com o uso repetido das anfetaminas, elas acabam modificando o funcionamento dos neurônios que controlam o prazer, conhecida como via neural de recompensa, e o indivíduo pode perder o controle do uso da droga e consumi-la compulsivamente por causa dessa alteração em seus neurônios. Dessa forma, a pessoa se torna dependente e coloca o uso da droga à frente de todas as prioridades de sua vida.
Outro problema é que não é possível prever com certeza quem se tornará ou não dependente, por isso o uso controlado e por pouco tempo é essencial para o paciente que realmente necessita do medicamento não se tornar dependente.
Referências
Stephen V. Faraone, The pharmacology of amphetamine and methylphenidate: Relevance to the neurobiology of attention-deficit/hyperactivity disorder and other psychiatric comorbidities, Neuroscience & Biobehavioral Reviews, Volume 87, 2018, Pages 255-270, ISSN 0149-7634, https://doi.org/10.1016/j.neubiorev.2018.02.001
Kevin T. Fitzgerald, Alvin C. Bronstein, Adderall® (Amphetamine-Dextroamphetamine) Toxicity, Topics in Companion Animal Medicine, Volume 28, Issue 1, 2013, Pages 2-7, ISSN 1938-9736, https://doi.org/10.1053/j.tcam.2013.03.002