Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Paraná (1976) e é Diretor Científico da Sociedade Paulista de...
iRedatora especialista em conteúdos sobre saúde, família e alimentação.
Graduado em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF//MG) em 2002. Residência Médica em Neurologia pela...
iO que é AVC hemorrágico?
O AVC hemorrágico, também conhecido como acidente vascular cerebral hemorrágico, ocorre quando há o rompimento de um vaso cerebral — ocasionando um sangramento em algum ponto do sistema nervoso. A diferença do AVC hemorrágico para o AVC isquêmico é o que segundo decorre da obstrução de uma artéria e não de seu rompimento.
A hemorragia pode acontecer no interior do tecido cerebral, chamada de AVC hemorrágico intraparenquimatoso, o mais comum e responsável por 15% de todos os casos de AVC. O sangramento também pode ocorrer perto da superfície cerebral, entre o cérebro e a meninge, conhecido como AVC hemorrágico subaracnoideo.
Causas
Um AVC hemorrágico intraparenquimatoso é comumente causado pela pressão alta crônica, já o subaracnóideo no geral é causado por uma ruptura de um aneurisma ou hipertensão descontrolada. Outras causas incluem:
- Inflamação nos vasos sanguíneos, que podem se desenvolver a partir de doenças como sífilis, doença de Lyme, vasculite e tuberculose
- Distúrbios de coagulação do sangue, como a hemofilia
- Ferimentos na cabeça ou no pescoço que resultam em danos aos vasos sanguíneos na cabeça ou no pescoço
- Tratamento com radiação para câncer no pescoço ou cérebro
- Angiopatia amilóide cerebral (uma doença degenerativa dos vasos sanguíneos)
- Aterosclerose
- Arritmia cardíaca
- Doenças das válvulas cardíacas, como prolapso da válvula mitral ou estenose de uma válvula cardíaca
- Endocardite
- Forame oval patente, que é um defeito cardíaco congênito
- Distúrbios de coagulação do sangue
- Vasculite (inflamação dos vasos sanguíneos)
- Insuficiência cardíaca
- Infarto agudo do miocárdio
Sintomas
Sintomas de AVC hemorrágico
Os sintomas do AVC hemorrágico se caracterizam por uma perda neurológica súbita. São eles:
- Dor de cabeça muito forte, beirando o insuportável, sem histórico de dores de cabeça importantes
- Perda de força em um dos lados do corpo
- Paralisia muscular súbita de um dos lados do corpo, geralmente no braço ou na perna, de grau pequeno ou acentuado
- Alteração da fala, como dificuldade para falar, seja por não conseguir articular a palavra (não fazer a boca se mexer) ou por não conseguir elaborar as palavras
- Alterações visuais, como perder uma parte ou totalmente o campo visual
- Sintomas motores ou sensitivos, como dormência no rosto, mãos e pernas
- Em alguns casos, podem acontecer episódios de sonolência ou coma
Diagnóstico
O diagnóstico do AVC hemorrágico pode ser feito a partir da realização de alguns exames, tais como:
- Ressonância magnética
- Tomografia computadorizada
- Angiografia
- Ultrassonografia
- Ecocardiograma.
Fatores de risco
A presença de algumas doenças e condições pode aumentar o risco de AVC hemorrágico, tais como:
- Hipertensão
- Fibrilação atrial
- Diabetes
- Tabagismo
- Colesterol alto
- Uso pesado de álcool
- Sobrepeso e obesidade
- Sedentarismo.
Buscando ajuda médica
Na presença de qualquer um dos sintomas de derrame citados, é importante ir a um pronto-socorro imediatamente. Isso porque, quanto mais rápido se dá o tratamento, menores são as sequelas decorrentes do AVC hemorrágico.
O mais correto é chamar o resgate para fazer a remoção em vez de encaminhar o paciente para o hospital de carro ou ônibus, pois já na ambulância podem ser iniciados alguns procedimentos, como oxigenação. Também é importante dar preferência a hospitais que são conhecidamente preparados para receber um paciente em situações agudas do AVC.
Saiba mais: 7 mudanças que diminuem o risco de AVC
Tratamento
Tratamento de AVC hemorrágico
Após o tratamento de emergência para AVC hemorrágico, quando a condição se estabilizou, o tratamento se concentra na prevenção de outro acidente vascular e acompanhamento das sequelas.
As áreas do cérebro que morrem em decorrência da falta de oxigenação causada pelo AVC hemorrágico podem se reconstruir aos poucos, e a recuperação é mais rápida quando feito o estímulo correto.
Por exemplo, uma pessoa que sofreu alterações da fala terá um acompanhamento com fonoaudiólogo, assim como uma pessoa que sofreu paralisia fará fisioterapia. A recuperação do AVC hemorrágico começa enquanto você ainda está no hospital ou em um centro de reabilitação e continuará quando você voltar para casa. Durante a recuperação do AVC hemorrágico, você vai aprender a gerir:
- Problemas na bexiga e intestino;
- Atividades domésticas feitas anteriormente;
- Perda de movimento ou sensibilidade de uma ou mais partes do corpo;
- Problemas musculares e nervosos;
- Espasmos musculares;
- Problemas de fala;
- Deglutição e problemas alimentares;
- Raciocínio e problemas de memória.
Cirurgia para AVC hemorrágico
O tratamento cirúrgico visa a retirar o sangue de dentro do cérebro. Em alguns casos, coloca-se um cateter para avaliar a pressão dentro do crânio, que aumenta por conta do inchaço do cérebro após o sangramento.
Em algumas situações, o tratamento cirúrgico é decidido por esta medida e não realizado logo na entrada do paciente no hospital, principalmente porque alguns têm um novo sangramento poucas horas depois do primeiro.
Prevenção
Muitos fatores de risco contribuem para o seu aparecimento. Embora alguns fatores não possam ser modificados, como idade e constituição genética, outros fatores podem ser diagnosticados e tratados, tais como a hipertensão arterial, diabetes, doenças cardíacas e o uso de anticoncepcionais hormonais.
Também é importante adotar alguns hábitos de vida mais saudáveis, evitando o consumo de álcool e o fumo — além de priorizar uma alimentação adequada e a prática de atividades físicas regularmente.
Complicações possíveis
Sequelas do AVC hemorrágico
Quando você tem um AVC hemorrágico, o suprimento de sangue e oxigênio a uma parte do seu cérebro é reduzido. Depois de cerca de quatro minutos sem sangue e oxigênio, as células cerebrais ficam danificadas e podem morrer.
O corpo tenta restaurar sangue e oxigênio para as células por meio da ampliação de outros vasos sanguíneos (artérias), perto da área. Se o fornecimento de sangue não for restaurado, danos cerebrais permanentes geralmente ocorrem.
Quando as células do cérebro são danificadas ou morrem, as partes do corpo controladas por essas células podem não funcionar. A perda de função pode ser leve ou grave, temporária ou permanente. Isso depende de onde e como a maior parte do cérebro foi danificada e a rapidez com que o fornecimento de sangue foi devolvido para as células afetadas.
Saiba mais: Como minimizar as sequelas do AVC?
Entre as principais sequelas do AVC hemorrágico, podemos destacar:
- Paralisias: a área mais afetada pelo AVC é aquela responsável pelos movimentos do corpo, sendo o lado esquerdo do cérebro responsável pelos movimentos do lado direito e vice-versa. Por isso, é comum os pacientes passarem os primeiros dias após o AVC com um dos lados do corpo paralisados, e mesmo com a recuperação alguns têm a movimentação limitada
- Déficit sensitivo: a perda de sensibilidade do lado afetado pelo AVC acontece quando a área do encéfalo responsável por interpretar a sensibilidade é lesada. Grande parte da melhora acontece no primeiro ano após o evento, mas nada impede que elas continuem acontecendo
- Afasia: quando o AVC ocorre na área do cérebro correspondente à linguagem, é comum o paciente sofrer com a afasia, a perda da comunicação, que pode ser a fala ou o entendimento de uma mensagem
- Apraxias: além da dificuldade na fala, um paciente de AVC com apraxia perde a capacidade de se expressar por gestos e mímicas e de realizar tarefas motoras em sequências. Por exemplo: a pessoa sabe o que é uma chave e sabe o que é uma fechadura, mas simplesmente não consegue ligar uma coisa na outra, realizando o ato de inserir a chave na fechadura
- Negligência: diz respeito ao paciente que negligencia uma parte ou um lado se seu corpo — a intensidade do problema dependerá do tamanho da lesão. Ela se caracteriza por uma falta de percepção da metade afetada do corpo, como se aquele segmento não pertencesse à pessoa. É uma sequela muito grave, mas que normalmente desaparece depois dos três primeiros meses
- Agnosia visual: é a incapacidade da pessoa de reconhecer objetos e pessoas através da visão, apesar de essa não ter sido comprometida. Dependendo do grau da lesão, a pessoa pode inclusive não reconhecer mais rostos
- Déficit de memória: a perda de memória normalmente é déficit secundário, inserido dentro de um contexto de outras perdas. O sintoma de déficit de memória dependerá da área do cérebro afetada, mas no geral a pessoa perde a capacidade de lembrar eventos recentes, recordando apenas episódios passados
- Lesões no tronco cerebral: no tronco cerebral estão localizados centros responsáveis por atividades vitais, como a respiração. Lesões no tronco cerebral podem deixar sequelas graves e até mesmo levar à morte — a gravidade dependerá da extensão da lesão. Pacientes com esse tipo de sequela podem apresentar também paralisia nos dois lados do corpo, estrabismo e dificuldades para engolir — cada ponto sendo tratado por sua especialidade específica.
- Alterações comportamentais: o indivíduo geralmente passa por quadros de agitação e de apatia, passando por sintomas como perda de iniciativa ou explosões de raiva sem causa aparente. Os cuidadores devem buscar orientação médica, pois em alguns casos pode ser necessário que o paciente seja medicado.
- Depressão: a doença funciona exatamente como a depressão comum, mas há uma janela de tempo que liga esses sintomas ao AVC. Os sintomas são iguais aos da depressão comum, como tristeza, apatia, sono inadequado, transtornos alimentares, entre outros
- Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT): uma pesquisa feita pela Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, mostrou que quase 25% dos pacientes de AVC sofrem de estresse pós-traumático, e um em cada nove desenvolve TEPT crônico mais de um ano depois. Sintomas que ajudam a identificar o problema são pesadelos persistentes e tendência do paciente a evitar lembranças do evento, bem como frequência cardíaca e pressão arterial elevadas
A recuperação depende da localização e da quantidade de danos cerebrais causados por acidente vascular cerebral, a capacidade de outras áreas saudáveis do cérebro para assumir a funcionar para as zonas danificadas, e reabilitação. Em geral, a menos que haja danos no tecido cerebral, as chances de invalidez são pequenas.
Referências
Sociedade Brasileira de Cardiologia
Ministério da Saúde
Manual MSD