Com mais de 40 anos de experiência, Dr. Paulo Chaccur é formado pela Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo. I...
iNem todo mundo sabe, mas a resposta para a questão acima é SIM, a tosse pode ser um indicativo de que há algo errado com a sua saúde cardiovascular. Você deve então estar se perguntando: mas qual seria a relação entre as duas? Não há apenas um, mas alguns fatores que alteram o funcionamento do coração e desencadeiam o sintoma.
A maioria das pessoas associa a tosse apenas a um sinal de, por exemplo, gripes, resfriados ou outros problemas pulmonares e respiratórios, como bronquites, asmas ou uma doença pulmonar obstrutiva crônica. Também é um indício comum quando causada por agentes irritantes, que vão desde fumaça, gases e o uso de tabaco até a deglutição ou ingestão inadequada de bebidas e alimentos.
O fato é que a tosse relacionada ao coração muitas vezes passa despercebida. No entanto, não deveria. A chamada tosse cardíaca pode ser considerada um sinal do mau funcionamento do órgão, ocasionado por uma insuficiência cardíaca - isto quer dizer, quando o coração se torna incapaz de bombear adequadamente o sangue pelo corpo.
A tosse cardíaca surge, especialmente, em quadros de insuficiência cardíaca congestiva (CHF), nas doenças da válvula mitral, em casos avançados das lesões da válvula aórtica, nas doenças obstrutivas do coração e em várias cardiopatias congênitas. Daí já dá para começar a entender porque merece atenção.
Por que a insuficiência cardíaca nos faz tossir?
Em quadros de insuficiência cardíaca, o coração, no geral, fica dilatado e com sua função de bombeamento sanguíneo reduzida. O órgão faz contrações com menos força do que deveria, fato que pode fazer com que o sangue volte aos pulmões e gere um acúmulo de líquido na região, criando o que chamamos de edema pulmonar. O organismo então reage com a tosse de forma intermitente na tentativa de eliminar o excesso da substância.
Características da tosse cardíaca
Dependendo da causa, a tosse cardíaca e os sintomas que a acompanham podem ser sentidos de diferentes maneiras por cada indivíduo. Normalmente, é uma tosse persistente, que pode produzir muco branco ou rosa (um catarro esbranquiçado como se estivesse tingido com sangue).
É possível ter ainda a sensação do peito borbulhar, com um som de assobio dos pulmões, respiração forte e chiado intenso; falta de ar ao caminhar, se movimentar e até ao ficar deitado; fadiga e fraqueza; retenção de líquidos e inchaços nas pernas, tornozelos e pés; dispneia noturna paroxística (acordar no meio da noite, ofegar e tossir); batimentos cardíacos rápidos ou irregulares e aumento da necessidade de urinar durante a noite.
Com o diagnóstico de insuficiência cardíaca e o início do tratamento adequado, a tosse tende a desaparecer. O importante é buscar atendimento médico ao perceber os sintomas e não esperar o quadro se agravar.
Tossir ajuda a corrigir distúrbios cardíacos e até interrompe um ataque cardíaco?
Basta uma breve busca na internet para encontrar este tipo de informação. Será, entretanto, que é mesmo possível corrigir um ritmo cardíaco irregular e escapar de um infarto do miocárdio simplesmente tossindo? A resposta é NÃO. A questão é complicada, pode gerar confusão e trazer riscos.
O ato de tossir pode ser utilizado e é efetivo quando ocorre o chamado efeito vagal, ou seja, uma redução dos batimentos cardíacos e queda da pressão arterial. Isso acontece, por exemplo, quando fazemos uma simples coleta de sangue. No ato da retirada, algumas pessoas sentem mal estar, com sensação de desmaio em decorrência desse efeito vagal. Neste momento, tossir pode corrigir o efeito e normalizar os batimentos cardíacos, além de melhorar a pressão.
Quando uma pessoa tosse há uma mudança na pressão intratorácica (a pressão que envolve os pulmões), afetando assim o fluxo sanguíneo que vai para o coração, além de interagir com o sistema nervoso - especialmente o sistema nervoso parassimpático (vagal), que liga o coração, os pulmões e o abdômen ao cérebro. Quando o efeito é estimulado, ocorre um impacto no sistema elétrico do coração. Desta forma, essas mudanças sutis no fluxo sanguíneo e no sistema elétrico podem agir na arritmia.
Porém, o infarto do miocárdio ocorre quando o fornecimento de sangue ao músculo cardíaco é interrompido na artéria coronária devido à formação de coágulos. Nestas situações, há predomínio do efeito vagal, com redução da frequência cardíaca. No entanto, o estímulo dado pela tosse não é suficiente para reverter o quadro.
O ato de tossir não é eficaz na recuperação da interrupção do fluxo de sangue na artéria coronária. Por isso, em quadros de infarto, a recomendação é, ao primeiro sinal, procurar o serviço de emergência o mais breve possível. Quanto mais rápido o diagnóstico e o início de tratamento, menores são as chances de danos ao músculo cardíaco.
Comecei a tossir, devo correr para o cardiologista ou hospital?
Em via de regra, se algo está irritando os pulmões ou o organismo está tentando se livrar de um corpo estranho preso no muco, a tosse tende a parar assim que o fator irritante ou a infecção desaparecerem. No caso da tosse persistente é outra questão. Por isso, é preciso avaliar sua frequência e os sintomas associados.
Na presença de tosse persistente e limitante, a recomendação é buscar um especialista para uma avaliação cardiopulmonar. Só assim será possível o diagnóstico diferencial entre as doenças pulmonares e as relacionadas ao coração.
A tosse intermitente pode ser de causa pulmonar, ter outro fator desencadeante ou ser até um efeito colateral de alguns medicamentos usados para a insuficiência cardíaca. No entanto, é preciso investigar. Se estiver relacionada ao coração, a demora na busca por intervenção médica coloca você em alto risco cardíaco. Se não tratada em caráter de urgência, poderá até levar ao edema agudo pulmonar e risco de morte.