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O uso de medicamentos e o aconselhamento em consultório fazem parte do tratamento padrão do tabagismo. Porém, aliada a isso, uma receita inusitada pode ser essencial para quem quer parar com o hábito: fumar em pé, em um local isolado, olhando para uma parede lisa.
Essa é a sugestão da cardiologista Jaqueline Scholz, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e diretora do Programa de Tratamento do Tabagismo do Instituto do Coração (InCor). A técnica, chamada de “fumar de castigo”, nasceu em 2015 e foi tema de um artigo científico publicado no ano passado, sendo reportada pela BBC News Brasil em julho deste ano.
O artigo em questão foi escrito em parceria com colegas da USP e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e contou, também, com a participação de uma representante do Departamento de Cardiologia Preventiva do Hospital Universitário de Oslo, na Noruega.
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Para o estudo, foram comparados dois grupos de pacientes que passaram por tratamentos diferentes para o tabagismo. O primeiro, composto por 324 fumantes, foi instruído a seguir o método padrão, com o uso do medicamento vareniclina (que reduz a abstinência), aconselhamento no consultório e a definição de uma data para abandonar o cigarro.
Já o segundo grupo, composto por 281 pacientes, também fez uso do medicamento e do aconselhamento, mas não foi orientado a largar o vício repentinamente. Eles poderiam fumar quando quisessem, desde que seguissem a técnica de “fumar de castigo”.
Os resultados mostram que a alternativa sugerida pela cardiologista pode ser mais eficaz do que somente o método padrão para cessar o tabagismo: 65% do segundo grupo (fumar de castigo) largaram completamente o cigarro em comparação a 34% do primeiro grupo (tratamento convencional).
Como funciona a técnica?
O tratamento à base de vareniclina, que vem acompanhado de aconselhamento no consultório e, em alguns casos, de uso de adesivo de nicotina e de outros recursos farmacêuticos, pode não trazer resultados efetivos em alguns pacientes. Isso acontece porque o cigarro segue sendo uma fonte importante de prazer para essas pessoas.
"Nós sabemos que o prazer de fumar tem uma associação com as memórias hedônicas [relacionadas ao prazer], e não há remédios que atuam nesses aspectos", apontou Scholz em entrevista à BBC News Brasil. "Para elas, o cigarro representa a repetição de uma experiência prazerosa e agradável, mesmo que os receptores de nicotina estejam bloqueados", complementa.
Ou seja, para alguns pacientes, o tabagismo está vinculado a uma série de eventos prazerosos, como uma conversa com os amigos, um happy hour, uma pausa no trabalho, entre outros.
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Por isso, ao fumar de castigo, sem ninguém por perto e olhando para uma parede, os estímulos prazerosos vinculados ao hábito de fumar acabam sendo perdidos. Embora a técnica seja promissora, ainda é necessário submetê-la a mais estudos rigorosos para comprovar a sua eficácia.