Carolina Freitas (CRP 09 8329 - Inscrição anterior CRP 01 de 13/03/1998 a 05/12/2012) é mestre em Psicologia pela Univer...
iQuando comecei a atender na clínica da sexualidade era muito presente a falta de desejo sexual da mulher num relacionamento heterossexual. Eram comuns casos em que o marido trazia como queixa a não procura da mulher por relação sexual e a mulher uma busca de como retomar o desejo sexual devido às cobranças do marido.
Hoje, 20 anos depois, o consultório tem revelado que, independentemente de orientação afetivo-sexual e identidade de gênero, a libido tem altos e baixos em qualquer tipo de relacionamento - inclusive nas pessoas solteiras.
Primeiro, vamos entender que libido é o desejo, a energia e disposição para vida. É o que nos move, inclusive sexualmente. O desejo está para além da atividade sexual, está também na sua relação com você e com o mundo. Por isso, sexualmente falando, é importante a compreensão do que te atrai, as razões pelas quais você faz sexo, o que te excita e ainda qual o significado do jogo erótico para você.
Assim, a forma de compreender o baixo desejo sexual não pode deixar de fora o contexto de vida e as individualidades. A intensidade e a forma vão inevitavelmente se modificando nos ciclos e fases da vida por influência de fatores como:
- Medicação
- Estresse
- Uso de celular e redes sociais
- Excesso de acesso à pornografia
- Gravidez
- Puerpério
- Pós-cirúrgico
- Algumas doenças
- Parcerias
- E, por que não, a pandemia.
Então, como entender o desejo sexual, se é "normal" não gostar de sexo e o que está por trás da baixa libido? Para debater esses temas trago reflexões sobre o desejo sexual do homem, da mulher e a falta de atração sexual (assexualidade).
Desejo sexual masculino
A queixa da sexualidade masculina quanto ao desejo sexual era muito focada na ausência de desejo da parceria. Hoje constata-se um número alto de demandas masculinas quanto à própria falta de desejo sexual, independentemente de faixa etária, tempo e tipo de relacionamento. Recebo homens jovens e idosos, de diversas orientações afetivo-sexuais e tipos de relacionamento (monogâmicos e não monogâmicos). Daí surge a pergunta: é "normal" o homem não querer transar?
Vivemos em uma sociedade na qual homens aprenderam que têm de estar sempre prontos (desejosos e eretos) para o sexo, jamais devem evitar uma proposta ou provocação sexual. De forma paradoxal, esta obrigação é um dos fatores dificultadores de uma vida sexual prazerosa. Pois, com isso, alguns homens se sentem sexualmente ansiosos e inseguros e passam a evitar o contato sexual, contribuindo para a baixa de libido.
Outro fator que pode estar por trás da baixa libido masculina é o fazer sempre tudo igual no sexo. A convivência e ter a parceria ali disponível para o sexo, sem mistérios nem novidades é uma das queixas de homens. Investir no relacionamento é uma maneira de manter o desejo sexual presente, mesmo em relacionamentos de longa duração. Vale lembrar que a responsabilidade de fantasia e reconquistar é de todas as pessoas envolvidas na relação.
A produção de testosterona, principal hormônio sexual presente no organismo masculino, pode influenciar no desempenho e desejo sexual. Logo, quando os homens começam a ter baixa de testosterona no organismo, a conhecida andropausa (que acontece por volta dos 50 anos), podem ser acometidos pela diminuição da energia sexual. Se este for o seu caso, procure ajuda médica especializada e cuide de sua saúde sexual.
Caso a baixa não esteja ligada à produção de testosterona é importante procurar psicoterapeutas com especialização em sexualidade para ajudar a identificar possíveis causas e auxiliar nessa retomada do desejo sexual.
Desejo sexual feminino
A baixa libido é a principal queixa na clínica da sexualidade das mulheres. Conhecido clinicamente como desejo sexual hipoativo, ele acomete 65% das mulheres (FMUSP, 2013), sendo decorrente de fatores emocionais e monotonia sexual.
Então é fato que as mulheres não gostam tanto sexo? Não! Bem como nos homens, existem situações hormonais e emocionais que interferem na libido feminina. Por exemplo, a menopausa é um fator importante na vida sexual da mulher. A queda do estrógeno, hormônio sexual feminino, que acontece neste período, pode impactar diretamente na vida sexual e mental da mulher com depressão e baixa libido.
Mas fique tranquila, se este for o seu caso, procure especialistas em ginecologia e cuide da sua saúde sexual. Invista, também, na sua saúde mental por meio de psicoterapia e terapia voltada para sexualidade, caso necessário.
Ponto importante do que pode estar por trás da baixa libido feminina é que culturalmente a mulher aprendeu a satisfazer a sua parceria ao invés de se conhecer sexualmente e ter prazer. Tal fato pode interferir diretamente na baixa libido. Se não tem ganhos (prazeres), ela vai perdendo o interesse.
Assim, se mostra relevante para as vivências sexuais prazerosas o autoconhecimento e a auto estimulação feminina. Conhecer seu corpo, fantasiar e ter prazer são maneiras de alimentar a vontade sexual.
O dia a dia corrido da mulher tem feito com que ela não priorize a sua vida sexual. Trabalho (dentro e fora de casa), maternidade, parceria, atividade física, alimentação, sono estão na frente do prazer sexual da mulher, deixando, assim, a libido em baixa.
Assexualidade
De forma bem simplificada, a assexualidade é a falta de atração sexual. Não é doença, disfunção nem trauma sexual. As pessoas assexuais vivem bem, trabalham, se divertem, podem ou não se masturbarem e transarem, se relacionam afetivamente e não há sofrimento quanto a não atividade sexual. Logo, não é patologia, é uma orientação afetivo-sexual. Ou seja, é uma possibilidade de viver a sexualidade sem interesse na atividade sexual.
Por fim, saiba que baixa libido tem solução. É preciso aprender que desejo sexual não vem do nada. Muitas vezes a libido está baixa ou a pessoa diz não gostar de sexo por não priorizar nem investir na vida sexual e nos seus prazeres. É importante pensar em sexo, fantasiar sexualmente, conhecer suas sensações físicas (não apenas genitais) por meio da masturbação. Ou seja, alimentar seus desejos sexuais para poder realizá-los.
Saiba que o desejo é um fenômeno complexo e individual que depende de você agir e sentir. É atitude! Logo, deixo uma provocação: o que você tem feito por você enquanto pessoa desejante e desejada?