Redator de saúde e bem-estar, entusiasta de pautas sobre comportamento e colaborador na editoria de fitness.
A acessibilidade é um dos direitos garantidos à pessoa com deficiência (PcD) pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência, sancionado em 2015. Através dela, as PcDs, independente de suas limitações, devem poder aproveitar uma vida sem barreiras - sejam elas sociais ou físicas - e exercer suas liberdades fundamentais. Porém, a falta de acessibilidade e de inclusão ainda é uma realidade.
"A nossa sociedade é estruturada e planejada majoritariamente para e por pessoas não deficientes. Dessa forma, pessoas com deficiência frequentemente não têm suas necessidades atendidas, o que gera grande frustração", explica o psicólogo Ricardo Milito.
De acordo com uma análise realizada por psicólogas da Universidade Federal de Santa Catarina, a acessibilidade é um direito à vida e a sua falta gera não apenas a invisibilidade de PcDs na sociedade, mas também um sofrimento que diminui o potencial de ação das pessoas e afeta sua saúde mental. Isso não por conta da deficiência, mas por causa da exclusão.
Falta de acessibilidade urbana
A acessibilidade urbana deve garantir segurança, conforto e autonomia às pessoas com ou sem deficiência ou com mobilidade reduzida, como é o caso de grávidas e idosos. A falta dela nos espaços faz com que estes sejam ambientes de insegurança e de medo para PcDs.
Segundo Ricardo, essa situação pode até mesmo gerar transtornos psicológicos, como depressão e ansiedade. "Além de lidar com os desafios e impactos das limitações físicas ou psíquicas na rotina, a exclusão social e a falta de acessibilidade também podem causar raiva, culpa, angústia, afetando de forma negativa a autoestima dessas pessoas", afirma o psicólogo.
Uma pesquisa da Universidade Federal de São João del-Rei apontou que, entre as oito PcDs entrevistadas, todas avaliaram de forma negativa as atuais condições de locomoção com autonomia nas vias urbanas da cidade em que o levantamento foi realizado. O artigo também indicou que, como consequência disso, o medo e o constrangimento são os principais sentimentos vivenciados por essas pessoas.
"Eu não tenho nem coragem [de sair], é muita pedra, buraco, degrau. Eu brinquei muito no início quando eu mudei pra cá, até as rampas aqui terminam com degrau, já viu alguma coisa assim? Eu não tenho coragem de sair sozinha, sinceramente... Eu saio, mas saio porque meu esposo é animado e sai comigo", relatou uma das entrevistadas às autoras da pesquisa.
Acessibilidade no mercado de trabalho
Há 30 anos, a Lei 8.213/91, conhecida como Lei de Cotas para Pessoas com Deficiência, foi criada para assegurar a inclusão de PcDs no mercado de trabalho. Atualmente, mais de 500 mil pessoas já garantiram um emprego por meio dessa lei.
Apesar disso, ainda existem desafios e obstáculos, como o capacitismo, a serem superados pela garantia do direito ao trabalho para PcDs. Segundo levantamento realizado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), o capacitismo é praticado pela exclusão do trabalho ou pela falta de equidade na inserção no mercado, causando estresse em 75% dos entrevistados.
Além do capacitismo como uma barreira para a inclusão, ambientes de trabalho que não asseguram a acessibilidade podem impactar negativamente na saúde mental de trabalhadores com deficiência.
A pesquisa ainda considerou os tipos de deficiência mais afetados pela falta de acessibilidade no mercado de trabalho. De acordo com o estudo, as pessoas com deficiência visual apresentam piores índices de qualidade de vida por conta dos desafios no ambiente físico e nas relações sociais, enquanto as pessoas com deficiência intelectual encontram mais barreiras atitudinais e de domínio psicológico.
"Isso acontece porque, muitas vezes, as empresas querem cumprir a Lei de Cotas, mas não promovem a inclusão, pois não entendem a diversidade da equipe como um valor. Uma pesquisa do Instituto Alana e da consultoria McKinsey constatou que o emprego de pessoas com síndrome de Down, por exemplo, impacta positivamente a motivação dos colaboradores e tende a melhorar a resolução de conflitos", exemplifica Laila Dell, arquiteta urbanista e consultora para acessibilidade e inclusão.
Inclusão na vida cotidiana
A secretária da Pessoa com Deficiência da cidade de São Paulo, Silvia Grecco, ressalta a importância da inclusão e da socialização da PcD para evitar o desgaste mental gerado por uma situação de exclusão e isolamento.
"Todos nós, pessoas com ou sem deficiência, sentimos na pele a sensação de isolamento e de insegurança que a pandemia da COVID-19 trouxe. Porém, no caso das PcDs, estarem afastadas das atividades cotidianas, das terapias e dos estímulos multidisciplinares, além da própria socialização, pode causar um grande prejuízo", afirma Silvia.
De acordo com a especialista, no que tange às barreiras da acessibilidade física, também é importante lembrar que, muitas vezes, está cerceado o direito básico da PcD de ir e vir, o que pode causar desânimo e evoluir para um quadro mais delicado.
Desta forma, é preciso haver cada vez mais iniciativas que preservem a acessibilidade das PcDs em todas as esferas de vida. Discutir e trazer à tona essas questões também é essencial para visibilizar as necessidades das pessoas com deficiência na sociedade, sem colocá-las em uma posição meramente passiva.