Graduado pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco e com especialização em Ginecologia pelo Depar...
iA gravidez é um momento em que não faltam ansiedades e preocupações. Principalmente quem está esperando um bebê pela primeira vez tem muitas dúvidas a respeito do momento do parto. Há muitos mitos e falácias a respeito do parto normal, que é o modo tradicional de se nascer. A informação é essencial para que a gestante e o médico não façam escolhas equivocadas que prejudiquem ela ou o bebê.
O que é parto normal?
O parto normal é o tradicional parto vaginal feito habitualmente nas maternidades. Seu oposto é o parto cesariana, adotado quando algumas condições clínicas ou obstétricas requerem ou recomendam que se faça um corte cirúrgico acima do púbis da gestante para que o bebê possa nascer.
Parto normal é o mesmo que parto humanizado?
Um parto normal não necessariamente é humanizado. Em partos normais podem ser utilizados todos os procedimentos protocolados como "de rotina", mas, que na realidade são frequentemente desnecessários ou mesmo prejudiciais, conforme avaliação da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Entre esses procedimentos que nem sempre são necessários, podemos citar a tricotomia, uso de sonda para esvaziar a bexiga, jejum de pelo menos 6 horas, lavagem intestinal antes do parto, utilização mais liberal de medicamentos (analgésicos, anestésicos, sedativos, ocitócicos para estimular as contrações uterinas), toques vaginais frequentes, rotura artificial antecipada da bolsa, episiotomia (corte no períneo), entre outros.
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A parturiente em geral permanece deitada, sem liberdade para caminhar ou adotar posições que lhe pareçam mais confortáveis para o parto.
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O ambiente é "convencional", mais compatível com aquele montado para um ato cirúrgico (excesso de iluminação, conversas paralelas entre membros da equipe, ausência de acompanhante e falta de privacidade) e com isso, inadequado com o "clima" harmonioso para tão significativo momento: o ritual do nascimento.
Portanto, o chamado "parto normal" já não é tão "normal" assim, já que é conduzido sob interferências, conforme já mencionei acima.
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Como é o parto normal?
Embora em sua essência, a dinâmica do trabalho de parto tenha características semelhantes, observamos variáveis individuais significativas entre as parturientes.
O trabalho de parto é um processo progressivo, dependente das contrações uterinas que vão promover a dilatação do colo uterino e a descida do feto pelo canal do parto.
No início, as contrações são menos frequentes, irregulares, menos intensas e de menor duração, acompanhadas de leves dores ou desconforto lombar. O colo do útero vai sendo dilatado ainda lentamente: é a chamada "fase latente" que tem duração de 12 a 20 horas nas primigestas.
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Cada contração traciona as fibras musculares do colo, promovendo progressivamente sua dilatação até alcançar os 10 centímetros-dilatação total- e pressionando para baixo a bolsa das águas e o bebê. A dilatação do colo é diagnosticada e monitorada pelo "toque vaginal".
A fase ativa e a fase expulsiva se caracterizam pela maior intensidade, frequência e duração das contrações. No período expulsivo, as contrações se repetem a cada 1 ou 2 minutos, com duração média de um minuto, promovendo a saída do bebê pelo canal vaginal.
Vídeo de Parto normal
Duração do parto normal
Nas mulheres que já deram à luz anteriormente (chamadas de multíparas), toda a dinâmica ocorre entre 8 e 9 horas, ao invés de uma média de 12 a 14 horas observada naquelas que nunca pariram (chamadas de nulíparas). Nas nulíparas , o período expulsivo dura em torno de 1 hora e nas multíparas cerca de 30 minutos.
Um período expulsivo que dure mais de uma hora é chamado de prolongado, oferece riscos ao bebê e pode levar a estafa materna, daí a necessidade do rigoroso acompanhamento dos sintomas e sinais clínicos pela equipe médica.
Fases do trabalho de parto
Podemos dividir o trabalho de parto (TP) verdadeiro em 3 fases: Dilatação, Expulsão e Dequitação:
Dilatação: conforme a velocidade da dilatação do colo, esta primeira fase é subdividida em Fase Latente e Fase Ativa.
- Fase Latente: o colo vai sendo dilatado mais lentamente. É a fase inicial do trabalho de parto. Nesta etapa as contrações são irregulares e de menor intensidade. É comum a gestante referir apenas "que a barriga fica dura, mas, que não está sentindo dor". No início, a descida do bebê ainda é lenta, a dilatação do colo é inferior a 1 centímetro por hora e este vai ficando cada vez mais embebido e amolecido
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Fase Ativa: a partir dos 4 centímetros de dilatação ocorre, em média, uma contração a cada 10 minutos com duração entre 40 a 60 segundos. Elas promovem a dilatação progressiva do colo uterino em torno de 1 ou 2 centímetros por hora. Habitualmente, entre contrações e pausas cada vez mais curtas, a fase ativa evolui entre 6 e 12 horas, quando o colo alcança 10 centímetros de dilatação (dilatação completa) , tempo este variável, caso trate-se de nulípara ou multípara.
Expulsão: O colo agora está com a dilatação completa e as contrações culminam com a expulsão do bebê do meio uterino para o seu "mundo de fora" - é o nascimento do bebê. Esta fase não deve ultrapassar os 30 a 60 minutos.
Dequitação: é o processo de descolamento e expulsão da placenta. Essa fase deve ocorrer entre 5 a 30 minutos após o nascimento.
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Parto normal dói muito?
A sensibilidade dolorosa no processo da parturição é uma realidade, porém, varia muito em intensidade de mulher para mulher. A natureza é sábia, já que acentua progressivamente a produção e liberação de endorfinas (substâncias com alto poder analgésico e sedativo), atenuando em muito o rigor das queixas dolorosas.
Compete à equipe médica orientar e conduzir a gestante durante o pré-natal para um preparo físico-postural e emocional, condicionando-a para um comportamento equilibrado durante todo processo.
É possível apostar em recursos mais "naturais" tais como: manter a parturiente em posição mais confortável (acocorada, alternando com caminhadas), massagem lombo-sacral, banhos de imersão ou chuveiro aquecidos, uso de bola de Pilates, além da presença reasseguradora e ativa dos membros da equipe obstétrica.
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Parto normal com anestesia
De conformidade com cada fase do trabalho de parto, se necessário, podemos fazer o uso adequado de drogas analgésicas e ou anestésicas, reservando a anestesia raque ou peridural para o final do período de dilatação e no expulsivo, para que a mulher possa dar à luz com maior tolerância e conforto.
A anestesia local é muito empregada para o parto normal no momento da episiotomia, sempre que esta se faça necessária.
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Benefícios do parto normal para a mãe
O parto normal permite uma vivência com mais intensidade da experiência de ter um filho, uma vez que a mãe participa ativamente de todas as etapas no processo da parturição, o que lhe proporciona elevação da autoestima na vivência do seu novo papel de mãe. Entre outros pontos positivos, estão:
- Perder menos sangue quando comparado com o que ocorre na cesariana.
- Evitar os desconfortos e riscos de um ato cirúrgico, como é a cesariana, tais como hemorragias, infecção puerperal, lesões de órgãos adjacentes (bexiga, intestino, etc.) e dores pós operatórias.
- Prevenir a trombose, devido a possibilidade de a gestante movimentar-se durante o trabalho de parto ativando a circulação dos membros inferiores.
- Usar menos medicamentos no decorrer do trabalho de parto e pós-parto.
- Facilitar e antecipar a produção, descida do leite e aleitamento. A sucção das mamas leva à prevenção de sangramentos no pós-parto e a retomada do útero ao seu tamanho normal, graças ao aumento da ocitocina que ejeta o leite e contrai o útero.
- Evitar cicatrizes (que ocorrem apenas nos casos de episiotomia)
- Reduzir o risco de morte (que é estatisticamente bem menor)
- Reduzir a incidência de complicação nas futuras gestações e partos
- Recuperar o corpo da mãe mais rapidamente (fisiológica)
- Facilitar o vínculo afetivo mãe-bebê (bonding).
Benefícios do parto normal para o bebê
- Reduzir substancialmente a possibilidade de prematuridade que o uso indiscriminado das cesarianas pode causar
- Dar maior oportunidade de acolhimento ao seio materno e aleitamento logo após o nascimento
- Criar condições imediatas para estabelecimento do vínculo afetivo mãe e filho com inegáveis benefícios para o psiquismo do bebê
- Eliminar os líquidos contido no aparelho respiratório do bebê, sobretudo quando na posição de cócoras. A compressão e descompressão do tórax do bebê durante a sua expulsão via vaginal, induz à primeira inspiração do recém-nascido
- Estimular a suprarrenal fetal, graças ao estresse natural do próprio trabalho de parto, que promove o aumento do cortisol e acelera a produção e liberação de substâncias químicas (surfactantes), beneficiando a rápida maturação pulmonar do bebê.
Quando não optar pelo parto normal e riscos
Embora saibamos que o parto normal é o que oferece maiores benefícios para a mãe e seu bebê, certas condições não recomendam esta via para o parto e indicam adotar o parto cirúrgico (cesariana).
O parto normal deve ser contraindicado quando os riscos e/ou as desvantagens de uma via vaginal forem superiores ao de uma cesariana. Os riscos para o parto normal podem ter origem por fatores maternos, fetais e obstétricos.
Entre os fatores maternos podemos mencionar a hipertensão, diabetes descompensado, cardiopatias, herpes genital e HPV ativos ou não, câncer de colo uterino, certos estados infecciosos agudos, falta de condições psíquicas da gestante para enfrentamento da experiência do parto.
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Entre os fatores fetais encontramos: as doenças cardíacas fetais, fetos muito grandes (desproporção materno-fetal) e surgimento de sinais compatíveis com sofrimento fetal.
Cuidados ao realizar o parto normal
É importante um criterioso acompanhamento de todas as etapas, com preservação da autonomia que sempre deverá ser oferecida à mulher no parto.
A assistência hospitalar deverá oferecer segurança para a mãe e bebê, através de práticas consagradas que visam um nascimento saudável e previnam, impeçam ou minimizem as complicações e os riscos maternos.
É fundamental que para que se garantam esses benefícios, o processo de preparo para um parto normal seja iniciado desde o pré-natal.
É importante que a equipe médica veja tanto a gestação e o parto normal como um evento fisiológico inerente aos mamíferos e só adote medidas intervencionistas quando realmente for indispensável para o bom andamento deste processo natural.