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A febre é um sintoma comum, manifestado pelo corpo durante uma infecção e, na maior parte dos casos, não é perigosa. Quando a vítima do problema é uma criança, entretanto, os pais não sossegam enquanto nenhum medicamento lhes for prescrito.
Entretanto, segundo um estudo publicado na versão online do Journal of Pediatrics, medicar os pequenos sem a real necessidade pode acarretar prejuízos futuros. Pesquisadores das instituições Butler University e Indiana University, nos Estados Unidos, descobriram que tratar crianças doentes com remédios comuns contra febre aumenta o risco de problemas renais.
Para a pesquisa, a equipe analisou dados médicos do Riley Hospital for Children, em Indianápolis, de janeiro de 1999 a junho de 2010. Nesse período, o hospital recebeu mais de mil pacientes com lesão renal aguda.
Após excluir casos em que o problema era decorrente de doenças que afetavam a função dos rins, os especialistas encontraram 27 casos (3% do total de pacientes analisados) em que os danos foram causados pela administração de anti-inflamatórios não esteroides, como nimesulida e paracetamol.
Embora a porcentagem seja baixa, os danos relacionados à administração precipitada desse tipo de medicamento se mostraram bastante graves. De acordo com o levantamento, quatro pacientes se tornaram dependentes de diálise e pelo menos sete sofreram danos permanentes nos rins.
Assim, os especialistas reforçam que os pais devem ter paciência e esperar, pelo menos no começo, que o corpo combata a infecção. Além disso, é fundamental consultar um médico ao notar qualquer sintoma nas crianças e seguir as recomendações do mesmo.
Perigo pode estar no armário de casa
Vendidos sem prescrição médica, os anti-inflamatórios têm sido usados de maneira indiscriminada pela população. No Brasil, 80 milhões de pessoas têm o hábito de se automedicar, segundo levantamento da Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas (Abifarma).
De acordo com Rosany Bochner, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a automedicação é decorrente de uma questão cultural. "Todas as casas têm um monte de medicamentos e as pessoas, cada vez mais, pensam que sabem resolver seus problemas sem a ajuda do médico", afirma.
Além dos problemas relacionados aos efeitos colaterais, outro problema da automedicação é o risco de dependência. Tomar anti-inflamatórios toda vez que se tem dor nas costas, por exemplo, pode virar um vício, fazendo com que o princípio ativo do remédio não faça efeito no organismo quando for realmente necessário.
O mesmo acontece com relação aos descongestionantes nasais. Quando usados frequentemente, ainda que em pequenas quantidades, eles sofrem uma diminuição progressiva do seu efeito. Em outras palavras, se antes o indivíduo precisava de um comprimido para melhorar, agora precisa de dois.
Por fim, a automedicação pode mascarar os sintomas de algum problema de saúde, fazendo com que o indivíduo demore a procurar um médico. "O atraso no diagnóstico pode ser sério e levar à morte", alerta Rosany Bochner. Independente do problema, portanto, o ideal é sempre buscar um profissional antes de adotar qualquer método de tratamento, mesmo os caseiros.