Alfredo Canalini graduou-se em Medicina em 1979 pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) com residência em Uro...
iO aumento da expectativa de vida criou um novo desafio para a medicina: dar atenção às doenças próprias do envelhecimento, que se tornaram mais frequentes em nossos atendimentos devido ao crescimento da população de idosos. Dentre as disfunções do envelhecimento, as alterações da micção estão entre as que mais incomodam o público masculino da terceira idade, tanto nas dificuldades para esvaziar adequadamente a bexiga quanto na perda involuntária de urina - conhecida como incontinência urinária.
Especificamente no homem, a causa principal dos sintomas relacionados com a micção é o aumento da próstata, provocado por um processo chamado de hiperplasia benigna da próstata (HBP). A próstata é uma glândula acessória do aparelho reprodutor masculino, que fica localizada na base da bexiga e é atravessada pela uretra. Na HBP, o aumento da glândula pode obstruir a uretra, provocando assim os sintomas urinários.
Estatisticamente, a porcentagem de homens com HBP é bem maior do que a porcentagem de homens com sintomas miccionais. Isto significa que nem toda HBP dificulta a micção, e que somente uma parcela dos homens, em torno de 40%, precisará fazer algum tratamento para aliviar os sintomas urinários provocados pela HBP. Entretanto 40% de uma população que vem crescendo de forma contínua representa um número bastante elevado e, por isso é preciso oferecer formas de tratamento a esses pacientes além da cirurgia, método que durante décadas foi a única forma de tratar esses pacientes.
Esses fatos fizeram com que várias pesquisas fossem realizadas nesse campo, na tentativa de entender a doença em si, assim como buscar tratamentos medicamentosos que fossem eficazes. Em um primeiro momento descobrimos que a obstrução da uretra provocada pela HBP tem duas causas principais:
1- Uma causa mecânica: o ?estrangulamento? da uretra causado pela próstata aumentada;
2- Uma causa dinâmica: as fibras musculares que envolvem a uretra e compõem a estrutura da próstata passam a não relaxar durante a micção, mantendo a uretra fechada.
A partir desses conhecimentos, novas medicações apareceram. Com o intuito de permitir que a musculatura da uretra/próstata relaxasse durante a micção, diversas soluções foram desenvolvidas, incluindo os chamados bloqueadores a1. Esses bloqueadores agem de forma bastante rápida e, dependendo do caso, podem melhorar os sintomas poucos dias após o início do tratamento. No entanto, são medicações que não interferem com a evolução da doença, e a próstata continua crescendo, e com o passar do tempo os pacientes voltem a ficar obstruídos e necessitem de alguma intervenção cirúrgica na próstata.
Ao estudar o assunto mais a fundo, a medicina descobriu que a hiperplasia benigna da próstata é estimulada em parte pela testosterona, e de que essa ação da testosterona depende de uma enzima chamada 5a redutase. Isso fez com que fossem desenvolvidos medicamentos que bloqueiam a atuação desta enzima, diminuindo, portanto, o processo de crescimento contínuo da próstata.
Atualmente, esses dois medicamentos são o que há de mais eficaz para tratar as disfunções miccionais provocadas pela HBP. O perfil dos pacientes que se beneficiam com esses tratamentos está bem definido: são homens com sintomas miccionais, próstata cujo tamanho está acima de 30g, e que possuem nível de antígeno prostático específico (PSA) acima de 1,5.
Hoje o tratamento recomendado é a associação de ambas as medicações, e já existe no mercado apresentações com a agregação delas na mesma cápsula. Porém, mesmo com todos esses avanços, a cirurgia ainda é uma opção que tem que ser lembrada, principalmente nos pacientes que não respondem bem ao tratamento medicamentoso ou que apresentam risco de complicações mais severas. Contudo, vale salientar que também no campo da cirurgia houve muitos avanços, como a possibilidade de usar o laser para e eliminação da porção aumentada da próstata em casos selecionados, bem como nas técnicas de suporte anestésico durante a operação, e também na estrutura disponível para os cuidados pós-operatórios.
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Mas a recomendação atual é de que o homem não espere os sinais e sintomas aparecerem. Em relação à próstata, especificamente, atenção especial deve ser dada ao diagnóstico precoce do câncer prostático, especialmente em pacientes de maior risco, como os afrodescendentes ou com história dessa doença no histórico familiar. Qualquer suspeita ou dúvida, converse com seu urologista.