Médica ginecologista especialista em Endoscopia Ginecológica titulada pela FEBRASGO, também professora de Yoga...
iJornalista com sete anos de experiência em redação na área de beleza, saúde e bem-estar. Expert em skincare e vivências da maternidade.
iExiste hoje uma infinidade de pílulas anticoncepcionais disponíveis no mercado, cada uma dela tem suas particularidades. As pílulas com baixa concentração do hormônio estrogênio, por exemplo, prometem menos efeitos colaterais. No entanto, um recente estudo apresentado no dia 7 de maio no 108º encontro científico anual da Associação Americana de Urologia, em São Diego (EUA), aponta que contraceptivos orais com esta característica podem aumentar o risco para dor pélvica crônica e dor durante o sexo nas mulheres.
Pesquisadores da Universidade de Nova York, em parceria com seus colegas do Waitemata District Health Board, em Auckland, na Nova Zelândia, conduziram uma pesquisa para comparar os sintomas da dor pélvica crônica entre jovens mulheres que já usavam anticonceptivos orais e outras que não usavam o método.
As informações foram colhidas através de uma pesquisa online com mulheres entre 18 e 39 anos. Não foram incluídas no estudo mulheres que estavam grávidas, tinham histórico médico de endometriose ou dor pélvica.
De acordo com os pesquisadores, dos 932 participantes do estudo, 605 foram classificados como não usuários de anticoncepcionais orais e 327 como usuários de anticoncepcionais orais, dentre os quais 169 usavam a pílula com baixa dose de estrogênio e 171 usavam a dose normal.
Foram definidas como pílulas anticoncepcionais de baixa dosagem aquelas que continham menos de 20 microgramas de estrogênio sintético. As que continham quantidades maiores foram classificadas como pílulas de dosagem normal.
A pesquisa revelou que 27% das mulheres que tomavam pílulas de baixa dosagem tinham sintomas da dor pélvica ou reportaram dor pélvica crônica, enquanto 17% do grupo que não tomava pílula relataram os mesmos sintomas.
Os usuários da pílula de baixa dosagem apresentaram quase o dobro da incidência de dor ou desconforto durante ou após o ato sexual em comparação com o grupo que não tomava qualquer tipo de medicação: 25% contra 12%. Não houve diferença entre o grupo que tomava a dosagem normal e o grupo que não usava qualquer pílula anticoncepcional.
Quando não usar a pílula
Não são apenas os efeitos colaterais da pílula concepcional que merecem atenção. Sua interação com outros fatores - como o tabagismo, a obesidade e a hipertensão - também pode trazer graves problemas de saúde. Por isso, hábitos de vida, condições de saúde e histórico familiar de doenças são determinantes na adoção ou não da pílula. Confira abaixo quando a pílula combinada é contraindicada:
Tabagismo
"A associação da pílula com o cigarro, especialmente por mulheres acima dos 35 anos, eleva - e muito - o risco de doenças cardiovasculares", explica o ginecologista Hugo Miyahira. Diversos estudos mostram que as substâncias do cigarro afetam diversas funções do sistema vascular arterial, mesmo quando a fumaça já não está mais no ar.
Isso porque essas substâncias continuam circulando no corpo, favorecendo o acúmulo de placas de gordura e colesterol nas artérias, problema conhecido como aterosclerose. Some isso ao fato de que a pílula combinada favorece a coagulação do sangue e o resultado pode ser desastroso, levando a um AVC, infarto ou trombose.
Hipertensão
A hipertensão costuma apresentar sintomas apenas em estágio muito avançado e, por isso, é fundamental medir a pressão arterial da mulher antes de recomendar o uso de uma pílula anticoncepcional. Segundo o ginecologista e obstetra Pedro Awada, do Hospital e Maternidade Brasil, mulheres hipertensas já apresentam risco elevado de doenças cardiovasculares.
Isso porque o coração fica hipertrofiado devido ao grande esforço para bombear o sangue nas artérias e, com o tempo, as artérias perdem a elasticidade, favorecendo o entupimento e rompimento das mesmas. Junto com a pílula, a probabilidade de sofrer um AVC ou outros problemas ligados aos vasos sanguíneos, como a trombose, é muito maior.
Trombose
A trombose é decorrente de três fatores principais: lesões nos vasos sanguíneos, propensão a formar coágulos e diminuição da velocidade da circulação.
"Como a pílula favorece a formação de coágulos, seu uso é proibido para mulheres que já sofreram o problema ou apresentam histórico de trombose na família", explica a ginecologista e obstetra Bárbara Murayama, diretora da clínica Gergin, em São Paulo.
O trombo geralmente se forma em uma veia localizada nas pernas, mas ele pode se desprender e subir para os pulmões, causando embolia pulmonar, colocando a vida da mulher em risco.
Lúpus
"O lúpus é uma doença autoimune extremamente complexa que afeta, inclusive, os vasos sanguíneos", afirma o ginecologista Hugo. Além disso, a doença também pode estar relacionada a anticorpos que favorecem a coagulação sanguínea e, portanto, a formação de trombos.
A associação com a pílula combinada eleva o risco de AVC, infarto e trombose, sendo, assim, contraindicada para os pacientes de Lúpus.
Doenças hepáticas
"Todo medicamento utilizado via oral é metabolizado no fígado", explica a ginecologista Bárbara. Por isso, se a pessoa apresenta lesões hepáticas, como hepatite e cirrose, o uso da pílula pode ser contraindicado por sobrecarregar o órgão. Além disso, mesmo com o uso do contraceptivo é possível que aconteçam irregularidades menstruais.
"O hormônio não metabolizado não inibe a produção de hormônios pelo ovário, o que não diminui a efetividade do medicamento, mas pode desregular os níveis hormonais do corpo", complementa o ginecologista Hugo.
Obesidade
A mulher com obesidade tem um risco maior de sofrer eventos cardíacos e, em geral, ainda é vítima de problemas como colesterol alto e hipertensão, aponta o ginecologista Hugo. Segundo o especialista, o tecido adiposo em excesso produz mais de 15 substâncias que interferem no funcionamento do organismo como um todo, inclusive nos níveis hormonais.
Assim, o caso precisa ser bem avaliado para determinar o custo benefício do uso desse método anticoncepcional. Em alguns casos, apenas a exclusão do estrogênio, que exerce maior influência na coagulação, pode ser eficaz.
Tumores hormônio-dependentes
Alguns cânceres, como o câncer de mama de mama, têm receptores hormonais. Em outras palavras, eles são hormônio-sensíveis, podendo ter seu desenvolvimento estimulado pelos níveis hormonais no organismo. "Isso significa que indicar o uso de uma pílula pode agravar a situação do tumor", explica o ginecologista Pedro.
Como tumores costumam apresentar sintomas apenas em estágio avançado, exames de detecção preventivos são fundamentais para não deixar que o problema se agrave.
Varizes
"Varizes por si só já denunciam uma mulher com problemas de circulação sanguínea", alerta a ginecologista Bárbara. Dilatadas e deformadas, as veias indicam que o sangue não está conseguindo seguir seu curso normal, favorecendo, assim, a formação de coágulos.
Durante a consulta, portanto, deve ser avaliado se o problema é isolado ou se ainda está associado a outros fatores de risco para problemas cardiovasculares, como a obesidade. Por isso, o uso da pílula combinada nem sempre é seguro.
Fator V de Leiden
"O Fator V de Leiden é uma mutação genética que pode aumentar em até 100% o risco de a mulher sofrer um evento cardiovascular", explica a ginecologista Bárbara. A variação interfere diretamente na coagulação do sangue e pode ser identificada pelos laboratórios em mais uma etapa do teste de papanicolau.
De acordo com a especialista, a ação do Fator V de Leiden se dá junto às plaquetas, que podem aglutinar e formar um trombo. Identificado o problema, devem ser pensados outros métodos contraceptivos.