Danilo Höfling é endocrinologista e doutor em ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. É Membro...
iOs problemas sexuais são muito comuns nas mulheres e, nesses casos, a redução do desejo (libido) é frequentemente relatada. A causa mais comum da perda de libido é denominada transtorno do desejo sexual hipoativo (TDSH), que acomete, aproximadamente, 20% das mulheres.
Este transtorno caracteriza-se pela redução ou ausência do desejo sexual de forma persistente ou recorrente, que pode causar sofrimento acentuado e/ou sérios problemas de relacionamento afetivo. O diagnóstico é realizado pelo médico clínico, levando em consideração diversos fatores que podem afetar a resposta sexual. Pode ocorrer em mulheres que se encontram no período pré-menopausa ou pós-menopausa. Neste caso, inclui-se tanto a menopausa natural, quanto aquela subsequente à retirada cirúrgica dos ovários (ooforectomia bilateral).
Saiba mais: Dicas para aumentar a libido e entrar no clima rapidamente
O transtorno do desejo sexual hipoativo afeta de maneira significativa a qualidade de vida das mulheres. Deve-se considerar, entretanto, que boa parte daquelas que têm esse problema sofre, muitas vezes, em silêncio. As disfunções sexuais femininas frequentemente deixam de ser diagnosticadas pela inibição da paciente em relatar o problema, ou mesmo porque o médico se constrange no momento de investigar. Vale lembrar que esse diagnóstico é de especial importância, pois além de interferir de forma intensa na qualidade de vida, poder estar associado a problemas de saúde.
Pode ser causado por múltiplos fatores, entre os quais os psicossociais, culturais, conflitos de relacionamento, utilização de medicamentos (antidepressivos, hormônios femininos etc.), doenças agudas e crônicas e problemas hormonais (endócrinos).
O tratamento inclui desde a simples orientação até o auxílio com psicoterapia, medicamentos e reposição hormonal, de acordo com as necessidades de cada paciente. Sob o ponto de vista hormonal (endocrinológico), a testosterona, principal hormônio masculino, é fisiologicamente importante também para as mulheres. Vale ressaltar que os níveis de testosterona no sangue diminuem com o avanço da idade, sendo que no período do climatério ocorre uma redução mais acelerada, que pode contribuir para a diminuição da libido nestas mulheres.
Vários estudos demonstraram que o tratamento com doses baixas de testosterona por via transdérmica diária (na forma de adesivos, cremes ou géis) é eficaz no tratamento do transtorno do desejo sexual hipoativo em mulheres após a menopausa natural ou na que ocorre após a ooforectomia bilateral. As mulheres na pré-menopausa com redução da libido e baixos níveis de testosterona no sangue podem, também, ser beneficiadas. Além de ser capaz de melhorar o desejo sexual, o tratamento é seguro em curto prazo. Há estudos demonstrando ainda que o tratamento com testosterona pode trazer resultados favoráveis para ossos, músculos, função cognitiva e sistema cardiovascular nas mulheres. No entanto, a testosterona é contraindicada em mulheres com câncer de mama ou útero, bem como naquelas com doenças cardiovasculares e de fígado estabelecidas.
Quando necessária, a testosterona deve ser utilizada na menor dose possível com o objetivo de aumentar seus níveis no sangue, sem, contudo, deixá-los acima do limite da normalidade. Os estudos mostram que isso pode ser obtido com um ?adesivo? de testosterona (300 mcg/dia) em mulheres na menopausa. Foi demonstrado, também, que um creme com testosterona (10 mg/dia) pode ser útil para as mulheres mais jovens. Esta estratégia reduz significativamente o risco de ações masculinizantes indesejáveis da testosterona, como, por exemplo, crescimento de pelos, aumento da oleosidade da pele, acne, alterações da voz, entre outros. Estas mudanças ocorrem com maior frequência quando são prescritos implantes e injeções de testosterona que podem aumentar demais os níveis desse hormônio.
Apesar dos resultados favoráveis desses estudos, deve-se enfatizar que as pesquisas para estabelecer a segurança de longo prazo dessa terapia, especialmente em relação às doenças cardiovasculares e ao câncer de mama, ainda estão sendo realizados. No presente momento, há vários estudos clínicos em andamento para avaliar de forma definitiva a segurança do tratamento por longos períodos. Seus resultados preliminares sugerem que a testosterona transdérmica é eficaz e segura para o tratamento do TDSH das mulheres que se encontram no período pós-menopausa.
Dessa forma, quando o TDSH está presente, após a exclusão de outras causas de redução da libido, tais como doenças psiquiátricas, problemas de relacionamento e doenças sistêmicas, o tratamento com doses baixas de testosterona por via transdérmica pode ser usado com segurança, pelo menos em curto prazo, para melhorar o desejo sexual e reduzir o sofrimento das mulheres na menopausa.
Saiba mais: Sexo e menopausa
Por fim, deve haver uma conscientização por parte das pacientes e dos profissionais da saúde da importância de abordar esse problema sem constrangimentos, para que se possa diagnosticá-lo, tratá-lo e, assim, restabelecer o bem estar pessoal e o bom relacionamento afetivo.