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Durante a gravidez a alimentação é um item muito importante, afinal os nutrientes ingeridos serão literalmente alguns dos materiais que vão construir as estruturas do corpo do futuro bebê. E, no fim das contas nutricionais, é a mãe que sai prejudicada. "Caso os nutrientes não estejam disponíveis na alimentação da mãe, o feto absorve os estoques dela. Por isso, é importante uma preocupação com composição e contaminação dos alimentos", explica a nutricionista Isabel Jereissati, especialista em nutrição materno-fetal.
E o equilíbrio precisa estar não só nos tipos de alimentos, mas na quantidade. É um mito que a gestante precisa comer por dois. "É importante lembrar que o feto tem necessidades calóricas muito menores do que a gestante. Cerca de 300 calorias a mais por dia são suficientes numa mulher com peso normal, a partir do segundo trimestre" alerta a obstetra Silvia Herrera, coordenadora em medicina fetal do SalomãoZoppi Diagnósticos.
Mas além de garantir que os ingredientes serão de primeira qualidade e na quantidade certa, consumindo alimentos com nutrientes diversos e balanceados, tudo com moderação, é preciso também tomar cuidado com alguns itens. "As principais preocupações com os alimentos durante a gravidez são relacionados a transmissão de infecções, substâncias que possam alterar o desenvolvimento do feto ou a sua adequada nutrição e oxigenação", expõe o obstetra Paulo Nowak, da Unifesp e membro da Associação de Obstetrícia e Ginecologia de São Paulo (Sogesp). Para prevenir qualquer perigo, vale ficar de olho em alguns itens do seu cardápio de antes da gestação.
Confira o que é melhor ficar na lista de alerta ou de veto mesmo na hora de montar o prato.
Cuidado com queijos de pasta mole
O leite não pasteurizado em si é perigoso para a gestante, mas proibido de ser comercializado aqui no Brasil. Porém, quando o assunto são os queijos, isso se torna mais perigoso, pois alguns tipos levam o leite não processado, e os artesanais podem ser contaminados em seu processo, como sublinha a nutricionista e especialista em nutrição materno-fetal Isabel Jereissati.
"Como a grávida tem o sistema imunológico deficiente, esse tipo de infecção pode ser gravíssima. Essas mulheres são 20 vezes mais suscetível a listeria e a listeriose, o que pode causar aborto, morte fetal e meningite", enumera a obstetra Silvia Herrera, coordenadora em medicina fetal do SalomãoZoppi Diagnósticos. Entre esses itens arriscados, estão os tipos brie, camembert, frescal e coalhada.
Aqueça os pratos que levam ovo
O ovo é outra fonte de bactérias, principalmente da salmonela. Apesar da maioria deles, hoje em dia, ser pasteurizada, as gestantes possuem um sistema imunológico mais sensível. Portanto, vale tomar cuidado com preparações que o levam cru: molhos de saladas, gemada, sorvete caseiro, mousses, ovo pochê e maionese caseira devem ser colocados na categoria de cuidado.
"A salmonela na grávida pode se apresentar não somente causando um problema intestinal, mas em sua forma grave, com contaminação da circulação materna", ressalta a obstetra Silvia Herrera.
Peça a carne bem passada!
Se você prefere a carne sangrando, melhor repensar essa preferência durante a gestação. "A carne crua ou muito mal passada pode conter o micro-organismo responsável pela transmissão da toxoplasmose. Essa doença pode atravessar a barreira da placenta e afetar a formação do feto", ressalta o obstetra Paulo Nowak.
E é melhor evitar, principalmente no início da gravidez, quando os riscos são maiores para o feto. "Nesse período, pode levar à hidrocefalia, lesões oculares e até abortamento", ensina a obstetra Silvia. A salmonela também pode ser transmitida a partir dessa carne.
Sashimi? Melhor evitar o peixe cru
"O ato de esquentar a carne mata os micro-organismos que podem causar doenças, por isso, alimentos que não vão ao fogo para serem preparados devem ser evitados nessa fase", explica a nutricionista Isabel. Por isso, caso você decida se arriscar, sempre confira bem as condições de higiene do local.
Mas mesmo quando assada, esse tipo de carne oferece riscos para as gestantes. "Alguns tipos de peixe, como tubarão, garoupa, cação e marlin costumam ser ricos em mercúrio. O mineral em excesso pode interferir no desenvolvimento neurológico do feto. Por segurança, o ideal seriam manter um consumo de até 350 gramas de peixe por semana", orienta o obstetra Nowak.
Olho vivo na lavagem dos vegetais
Os vegetais também trazem o risco de todas as infecções listadas anteriormente: listeria, salmonela e toxoplasmose! Por isso mesmo, é importante fazer a higienização adequada das folhas e legumes. A nutricionista Isabel nos ensina: "Existem vários produtos de limpeza específicos, que são as soluções com hipoclorito de sódio. A água sanitária específica para isso é distribuída nos postos de saúde também. Mas é preciso fazer um ultimo enxague na água corrente após colocar na mistura dela com água".
Outro perigo dos vegetais não higienizados está nos agrotóxicos que são utilizados na lavoura, já que os efeitos no feto são desconhecidos, como conta o obstetra Paulo Nowak.
Canela? Nem em chá, nem em pó!
Sempre existiu a lenda de que o chá de canela tem efeitos abortivos. Mas na verdade, essa questão envolve ainda mais a especiaria: é que a canela, seja em pó ou chá, aumenta as contrações uterinas. "Por isso mesmo, ela não é indicada para gestantes, seja polvilhada em alimentos ou na forma de bebida", alerta o ginecologista Augusto Bussab, especialista em reprodução humana.
Um aborto só seria causado quando ela é consumida em grandes quantidades, mas como não se sabe o quanto, é melhor evitar seu consumo.
Dê um tempo no intervalo para um cafezinho
No lugar disso, troque alguns dos copinhos dessa bebida por uma água ou um suco! Mas não é preciso cortar de vez o café, apenas reduzir as quantidades. "As pesquisas são conflitantes, algumas mostraram relação com aborto, parto prematuro e baixo peso ao nascer, mas há outros estudos que não comprovam. A Organização Mundial de Saúde recomenda ingestão na gravidez de até 300 mg/dia, que equivale até três xícaras de café fraco", compara a obstetra Silvia Herrera.
A culpa das dúvidas está no efeito estimulante da bebida, que pode diminuir a circulação sanguínea no útero, atrapalhando o desenvolvimento do feto!
Alerta vermelho para alguns adoçantes
Se você for adepta de trocar o açúcar pelo adoçante, vale a pena observar quais tipos você está usando. A Food and Drug Administration (FDA), órgão dos Estados Unidos equivalente a nossa Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), por exemplo, libera apenas três tipos: aspartame, sucralose e acesulfame-k. Já no Brasil, todos os tipos são liberados para gestantes.
"Alguns estudos demonstram que a sacarina pode atravessar a barreira da placenta. Já o ciclamato e o esteviosídeo (extraído da planta stevia), alguns estudos com ratos mostraram uma propensão ao desenvolvimento de câncer, portanto é melhor não arriscar", explica a nutricionista Isabel.
Se engravidar, não beba!
Esse veto é conhecido, mas você sabe porque o álcool não combina com a gestação? "O álcool atravessa a placenta e chega a circulação do feto, onde será metabolizado pelo seu fígado. Porém, o fígado do feto é muito pequeno e está em desenvolvimento, e por isso não consegue lidar bem com este processo, podendo sofrer alterações por causa disso", ensina o obstetra Paulo Nowak.
Além disso, outras complicações podem dar as caras na saúde do feto quando a mãe ingere bebidas alcóolicas, como alterações de desenvolvimento neurológico, baixo peso ao nascimento, perda de visão e audição, parto prematuro... Portanto, ele não é recomendado em nenhuma quantidade.